Archive for April, 2014

CaridadePretendo aqui tratar, de uma forma um tanto quanto dura, da caridade. Sei que a abordagem utilizada por mim é polêmica, desagradará a muitos, e estarei vulnerável para levar “pedradas”, mas o que se há de fazer? Certos assuntos geram dor, por tocarem nas nossas maiores fraquezas e disfarces.

Fazer caridade, doações, tirar férias para ir para África, Américas ou Ásia trabalhando em projetos sociais, e coisas do gênero, são ações bonitas e mostram ética e moral elevadas normalmente, mas de pouco adiantam para fazer do mundo um lugar realmente mais justo e mais igualitário.
Aproveito aqui para indicar um excelente artigo que sugere que boa parte das doações da Inglaterra, assim como do Mundo, para a África e países “subdesenvolvidos” num geral, acabam sendo redirecionadas não ao povo carente, mas sim às grandes corporações que atuam nestes países, principalmente as indústrias do agronegócio. Acesso o curto, porém excelente artigo clicando AQUI

O único caminho para realmente causar transformações duradouras no mundo é mudando nossa postura. Refletir sobre o nosso consumo, sobre nosso estilo de vida, nossas casas, o que nosso trabalho traz para o mundo. Refletir sobre a educação que damos aos nossos filhos e pessoas em nossa área de influência.
Temos que sair da zona de conforto intelectual(pois nos é ensinado que a vida é assim mesmo, o ser humano é mal de natureza, e algumas pessoas tem mais sorte, outras menos… e assim nos tornamos passivos, coniventes, “cúmplices” das desgraças e barbáries do mundo).
Nesta mesma linha de raciocínio gostaria de indicar-lhes um excelente vídeo, de somente 20 minutos, que faz uma explicação didática de como funciona nosso sistema vigente, tendo como base de sustento o consumo desenfreado, e como o mesmo é insustentável e catastrófico a médio e longo prazo. Clique AQUI

Temos que nos tornarmos mais críticos, questionadores. Entendermos de uma vez por toda que fomos educados para sermos alienados e manipulados, e assim sermos máquinas perfeitas de consumo e incapazes de criticar o sistema e mudar nossas posturas, seja pela alienação, seja pela nossa falta de tempo (o que também gera alienação), afinal, o sistema, nossos trabalhos, nos consomem por inteiro.

Temos que entender a seriedade do problema da degeneração do sistema educacional e da mídia. E tendo nosso interesse despertado para a crítica e por nos informarmos melhor, agiremos “politicamente” de forma ativa, direta- ou indiretamente, lutando para que ações políticas sejam tomadas visando melhorar a qualidade e os rumos da educação, visando reformar os valores das pessoas desde criança, e em paralelo outras ações devem ser tomadas garantindo mais direitos e mais justiça não para sua família, nem para o seu bairro, não para sua cidade, nem para seu país, mas para o Mundo como um todo, para todas as pessoas do Planeta.

A caridade sozinha, sem uma crítica político-social pesada em paralelo, é como tentar frear um rio com o próprio corpo. É como tentar apagar o incêndio de uma mata utilizando-se de copos de água. A intenção é boa, mas o impacto é pequeno.
Para resultados concretos, eficazes e duradouros, a única solução é a mudança de comportamento e atitudes, lutar por uma educação que seja ferramenta para gerar senso crítico e que ensine o ser humano a viver bem e de forma justa, ética e honesta; e lutar por interferência política em prol daqueles que mais necessitam de suporte e apoio.
Tudo que fugir muito disso, é mera tentativa de frear o rio. É bonito e nobre, mas pouco eficiente.

Se você pratica caridade, do fundo de meu coração, eu bato palmas para você. Continue, pois o resultado certamente é positivo. Mas busque em paralelo desenvolver este lado crítico em você, busque entender e levar a sério o poder de mudança que a política possui, seja ativo no processo de mudanças duradouras. Mas continue praticando a caridade, pois ela conforta, mesmo que provisoriamente, as dores do próximo, além de trazer a nós mesmos conforto espiritual.

por Miguelito Formador

figura daqui

 

Revoltado_Show_2Estou ficando velho. É fato!
E com a idade vêm chegando, ou piorando, a chatice e a rabugice…
Isso posto, compartilho a seguir minha revolta num show de Rock que fui recentemente.

Chegamos com tempo suficiente pra não precisar nos apertar na entrada e também pra assistir ao show de abertura.
Até então estava achando os “selfs” tirados por muitos em meio a caras e bocas, normal. Muita gente tem câmeras compactas e celulares que tiram excelentes fotos, com a vantagem de já estarem conectados à internet.
Pois bem, muitos (muitos mesmo), tiravam diversas fotos e logo após digitavam freneticamente em suas telas “touch”, provavelmente publicando a foto recém tirada no “Face”, “Insta” ou compartilhando via “Whats”.
Segurei minha onda tomando cerveja. Afinal, o show de abertura não havia sequer começado…

Eis que o primeiro show se inicia; e pra minha surpresa o comportamento ao invés de arrefecer, multiplicou-se… Todos estavam com suas câmeras e celulares filmando e tirando fotos, depois digitando e logo em seguida filmando outra vez!

Porra! Eu queria ver o show!
Aliás… EU PAGUEI PRA V-E-R O SHOW!!! E não pra ficar observando malucos com o braço estendido e as câmeras na minha frente.
Deixei passar a primeira e a segunda músicas, imaginando que talvez fosse a empolgação inicial… Mas não! O rito seguiu: braço pra cima, braço pra baixo, digita, foto “self”, digita, mais braço pra cima, mais foto…Será que ninguém mais vê nada? Será que eles acreditam que assistiram àqueles filmes ou verão aquelas fotos muitas vezes depois dali?
Ou ainda… será que é mais importante avisar TODOS os amigos do Facebook que você está no show “x” do que curtir o show?

Me achei um estranho; mas ao mesmo tempo imaginava a qualidade das imagens tiradas em meio a pulos e empurrões e os vídeos, que provavelmente não tinham foco, nem som decentes… Que idiotice!

Show principal. Pouco antes havia acabado a cerveja do local.
Como suportarei mais um martirioso espetáculo de câmeras sem a cerveja?
Eis que sou acometido de outra surpresa: o público cantou todas as músicas! Não somente o refrão ou as músicas mais famosas, mas todas as músicas integralmente…
PQP “véio”!!! Pra quê ir a um show ao vivo senão pra ouvir a banda que você gosta ao vivo? O som dos instrumentos, da voz do vocalista, os pedaços da letra que mais curtimos… Não, nada disso! Hoje vai-se a shows pra cantar mais alto que a pessoa ao lado, provando saber todas as letras de cor!

Estamos realmente mais perto do fim.
Ou realmente sou muito velho. Tinha a ideia absurda de ir a um show pra ver a banda e ouvir as músicas…

por Celsão irônico/revoltado

figura retirada deste vídeo do youtube, que mostra um pouco da minha revolta naquela noite.

Deparei-me, enquanto navegava pela internet, com o seguinte vídeo: Clique AQUI ou AQUI

Uma pessoa desatenta ao assistí-lo pensará: Nossa, a criminalidade não tem limites mesmo.

Bom, é justamente o que a Rede Globo quer que você pense. Como sempre digo (e estou só repetindo especialistas): A grande mídia visa gerar o medo, insegurança, pânico e ódio, pois um povo com medo e ódio, é mais fácil de se manipular… exemplos de estudos teóricos e resultados práticos dessa ideia não faltam, mas vou só mencionar uma pessoa que sabia disso perfeitamente: “Hitler”, ou melhor, Joseph Goebbels, o chefe de propaganda e marketing do Nazismo na época.

Gente, vamos a alguns detalhes deste vídeo:

  1. O infrator iria escolher alguém que está sendo entrevistado na TV, com o risco de ser filmado? E pior, um microfone da Globo, que 90% dos brasileiros conhecem. Por mais sem cultura, sem educação formal e tudo mais que ele fosse, acho que são raros os casos de tamanha imbecilidade. Eles existem, mas são raros.
    PRIMEIRA COINCIDÊNCIA.
  2. O repórter estava no momento provocando a mulher, falando do cordão dela, e de repente vem o moleque, e boom! Porque o repórter não estava falando do tempo, da economia, do lazer? Estava falando do cordão da mulher. Será que foi coincidência, ou ele já estava tentando voltar a atenção do telespectador para o cordão da mulher e para a violência do Brasil?
    SEGUNDA COINCIDÊNCIA.
  3. Segundo a legislação voltada para menores de idade, a imagem destes deve ser protegida. Portanto, parece que a Globo coloca a tarja por se tratar de um menor. Mas, a própria reportagem diz claramente que a polícia chegou atrasada ao local, o que dá a entender que não foi possível capturar o infrator, e portanto, não é possível identificar se ele é menor ou não. Então por que a tarja? Parece estar clara a intenção da reportagem de abordar, além da criminalidade, a redução da maioridade penal.
    Isso, fica ainda mais claro ao assistir a reportagem completa (AQUI). Dá-se ênfase diversas vezes ao “fato” (contestável) de que a maioria dos infratores são menores de idade. Por isso a tentativa sensacionalista de comprovar essa argumentação, colocando tarjas em todos os infratores.
    TERCEIRA COINCIDÊNCIA.
    Aqui abro aspas para uma observação, algo que achei bem estranho: percebam que na primeira cena do delito, o rosto do infrator ainda não possui a tarja. Ele corre, e continua sem a tarja. Quando o replay acontece, é a primeira vez que a tarja aparece. Por que? Erro de gravação/edição? Um erro tanto quanto estranho, principalmente ao se tratar da maior mídia do Brasil.
  4. Esse cameraman deveria estar filmando cenas do The Flash, sem precisar de edições posteriormente. Vejam como ele está com foco na mulher, daí o moleque passa correndo, repentinamente e sem dar aviso prévio, e neste exato momento, o cameraman começa a filmar o infrator, sem nunca perder o foco do mesmo, em alta velocidade e perfeição de movimento. Incrível isso não? Parece até que ele estava preparado e posicionado para tal cena.
    QUARTA COINCIDÊNCIA.

Eu aprendi estudando segurança de trabalho que, quando temos 2 coincidências ou mais, já estamos normalmente a falar de sabotagem, ou então, de um caso raro, com probabilidades tão baixas quanto um gato pôr ovo, ou eu estar andando pela rua e um meteorito do tamanho de uma bola de gude cair na minha cabeça, matando somente a mim.

Para mim está claro. Armação das mais tenebrosas da Globo, se equiparando ao nível da revista Veja. Apelação sensacionalista forte, e desrespeitando o juramento de ética do jornalismo.
Cena no estilo de novelas mexicanas…..

Sim gente, o Brasil é violento, e ninguém tem dúvida disso. A questão é: Quão violento, quão perigoso? É tão perigoso quanto nossa impressão? Ou nossa impressão é o resultado do real perigo + o sensacionalismo da mídia a nos ludibriar, fazendo com que o problema pareça ainda maior do que já é?

por Miguelito Formador

Ciro-Gomes-de-anel-560x250Estamos em ano eleitoral. E uma coisa pessimamente lamentável de nosso processo político são as acusações entre candidatos.
Ao invés de discutir-se planos de governo, metas da economia, programas de desenvolvimento; falhas do passado são escancaradas (do próprio candidato, de seu partido, de aliados); com o intuito de minar a confiança do povo naquela legenda.
Os debates entre candidatos na TV, quando contam com a presença daquele que lidera as pesquisas, também têm seu foco nas acusações mútuas e percebemos que os proponentes fogem às perguntas.

A seguir, compartilho um texto excelente do Ciro Gomes, político que respeito, sobre os recentes escândalos explorados na mídia e consequentes CPIs instauradas em ambas as casas do legislativo em Brasília; como “golpe” e “contra-golpe” aos presidenciáveis.
É triste notar que, em resposta ao escândalo metroferroviário do PSDB de São Paulo, surgiram escândalos na Petrobrás, sob a tutela da presidente Dilma, e no porto de Suape em Pernambuco, reduto do Eduardo Campos.

De modo algum sou contra as investigações e punições. Só não gostaria que o debate dos próximos meses fosse pautado por acusações, direitos de defesa e discussões vazias. Para refletir…

Moralismo a serviço da imoralidade

Na iminência do debate eleitoral, a canalhocracia se esforça para grudar em Dilma Rousseff a mancha da corrupção
por Ciro Gomes publicado 05/04/2014 05:43
 
Certa feita, fui à sala do presidente da República comunicar que iria romper com ele e com seu partido. Denunciei, entre outras razões, a corrupção sistêmica instalada em seu governo. Na data era o Ministério dos Transportes. O responsável, um quadro do PMDB, claro. A resposta me frustrou muito, mas nunca esqueci. “Ciro, um dia você vai sentar nesta cadeira”, me disse, em tom acadêmico e apontando para a cadeira presidencial. “E aí vai ver que o presidente que não contemporizou com o patrimonialismo, caiu.”

Essa memória me voltou por esses dias com muita força a propósito do esforço que a picaretagem tupiniquim faz para imputar em Dilma Rousseff a tisna da corrupção. É, sem dúvida, a agitação moralista a serviço da genuína imoralidade. Ou, em termos mais populares, são os corruptos na tentativa de arrastar para o seu universo podre uma pessoa clara e insofismavelmente decente.

Quem me acompanha sabe que não sou o maior entusiasta do atual governo. O leitor mais atento conhece minha opinião sobre o grande despudor com que o condomínio PT-PMDB – sejamos justos, partes grandes dele – se entranha nas tetas públicas. Mas não é possível calar diante do despudor com que a canalhocracia assesta suas baterias contra Dilma Rousseff na iminência do debate eleitoral.

E a resposta dos governistas mais apressados apenas provará ao povo brasileiro, especialmente aos jovens, aquilo que o preconceito generalizado afirma para gozo dos plutocratas: não há vida limpa na política brasileira. Vamos investigar também, além da roubalheira na Petrobras, a roubalheira no metrô de São Paulo e a roubalheira no porto de Sua-
pe, em Pernambuco. Teríamos assim, das duas uma: ou todos os três grupos que se preparam para disputar a Presidência da República são igualmente sujos e corruptos, ou, o mais provável, “vamos deixar disso” e arquivar tudo. Em um caso e noutro, irresponsáveis, o que os senhores estão fazendo é enterrar a jovem democracia brasileira.
(texto completo aqui)

por Celsão correto

figura retirada daqui
P.S.: notícia de abertura de CPIs: (1) Petrobrás, publicada em 02/04 e (2) “contra-golpe” do governo, publicado um dia após

Capture_50_anos_ditaduraNeste dia 31 de Março, relembrou-se os 50 anos do golpe militar no Brasil (espero que nenhum jornalista tenha usado os verbos comemorar ou celebrar para a data).
Tal golpe, imposto pelos militares ao então presidente João Goulart, tinha objetivos e implicações anti-comunistas e apoio da elite, da mídia (pertencente obviamente à elite) e dos EUA, que se viam ameaçados por um provável surgimento de uma grande república socialista na América do Sul.
Pessoalmente acho lastimável o caso. Não pelo golpe em si, muitas vezes inevitável numa Nação; mas pela permanência dos militares no governo por duas décadas, bloqueando a democracia, ferramenta importante para os menos favorecidos; também pela estagnação da economia (mesmo com avanços, o balanço final mostra que a inflação anual dobrou no período); e principalmente pela violência ocorrida contra aqueles que se opuseram, fato condenável qualquer que seja a opinião política.
Pois bem, 21 anos de ditadura, cassações, cerceamento de direitos, lutas, prisões, torturas, mortes, repressão, inflação, eleições depois… a tal “ditabranda” segue quase incógnita para boa parte dos brasileiros, inclusive os que viveram parte de suas vidas sob este período. Afinal, a grande maioria de nós, brasileiros, nasceu depois de 1964…

Por um lado, os militares e apoiadores da época, criadores da Marcha da Família com Deus (nossa opinião aqui), dizem que o que chamamos ditadura foi “suave” ao ser comparada com outros exemplos da America Latina, como Chile e Cuba onde houveram inicialmente mortes e apropriações; os militares e a elite pregam também que ela foi “necessária”, dado o momento histórico no Continente e as ameaças insurgentes (verdadeiras ou não) no Brasil naquela década.
Do outro lado, militantes da esquerda, intelectuais, professores e até mesmo a igreja católica (que havia apoiado inicialmente o golpe), sofrendo com a repressão e sentindo os efeitos pós-golpe, apoiam a comissão da verdade, criada pela presidente Dilma e insistem para que a memória do ocorrido permaneça viva, para que os cidadãos conheçam a verdadeira estória do período ditatorial brasileiro.

Aproveitei essa enxurrada de informação e a excelente coletânea de depoimentos, recortes e entrevistas do UOL, para me informar melhor sobre o tema.
Deixo pra vocês três sugestões de leitura e um jogo pra reflexão…
A primeira leitura é curta: são frases de um militar que viveu 1964 (aqui)
A segunda é um apanhado de relatos de torturados durante o regime militar (é forte, mas verdadeiro! aqui)
E a terceira é uma entrevista feita com José Serra, que viveu o período e era próximo do presidente Jango; mais “em cima do muro”, ele faz uma análise interessante da situação do Brasil à época e tece comentários sobre o Golpe, com frases como: “Quem começou a violência no Brasil foi quem deu o golpe”/ “Entregaram o país inadimplente, quebrado. E perdemos duas gerações promissoras de políticos” / “Restaurar a Marcha da Família é uma piada” (aqui)

O jogo, também do UOL, pode ser acessado aqui.
Nele, respondendo a perguntas, o internauta é conduzido a situações da época e ao desfecho de si próprio no regime militar. Ao final das perguntas, vídeos bem elaborados resumem a “situação final”, pelas respostas escolhidas.
E não só isso; trechos de discursos, fotos e vídeos podem ser acessados durante o jogo…
Convido-os a fazer o teste/jogo não só com as respostas “verdadeiras”, mas repeti-lo com outras respostas, vislumbrando outros desfechos.

por Celsão correto.

figura: montagem a partir do UOL, onde parentes de mortos e desaparecidos mostram fotos.

P.S.: a coletânea do UOL sobre o tema realmente impressiona, há relatos de militantes e entrevistas com políticos como Fernando Gabeira (que participou da luta armada), FHC (com sua trajetória sem prisões e torturas, embora militando e criticando as torturas e prisões), Suplicy (que pertencia a uma família da elite paulista, sendo militante da esquerda), Cristovam Buarque (que analisa os desdobramentos com enfoque na educação), Frei Betto (com a visão da igreja Católica pró e depois contra), etc…
P.S.2: interessante também é o vídeo do Bob Fernandes sobre o tema, no youtube

figura_SargentErotização, hipersexualismo, machismo, sexismo, racismo. Tudo isso me vêm à cabeça quando ouço o termo “Globeleza”.
Mais que um jargão ou “elogio racista” (me apropriando de um termo cunhado pela blogueira Charô Nunes), ser Globeleza é ser a “negra gostosa” para a Globo, para o deleite da classe média, que comparará os detalhes dos corpos, desta e das anteriores, ignorando tudo o que a mulher representa na sociedade e, além disso, os desafios ainda maiores que uma mulher negra enfrenta dia após dia.
A competição pra se tornar uma Globeleza e ter sucesso (?!?), me lembra o Sargentelli apresentando suas mulatas na década de 80 e 90: sentado como um senhor de escravos a negociar sua mercadoria. (pra quem não lembra, achei um vídeo do programa do Clodovil)

Quando ouço comentários em corredores e ambientes públicos, a lá Michel Teló, sinto vergonha e lamento pela mulher vítima daquela ofensa, evito ser complacente a esta cultura machista enraizada, pois entendo (ao menos tento entender) a fragilidade e impotência femininas frente aos costumes e regras vigentes na sociedade e encarados como “normais” por quase todos.
Já que citei a internacionalmente famosa música “Ai se eu te pego!”; ela, alguns filmes e até mesmo o Carnaval, atrapalham bastante o intuito de desvencilhar o hipersexualismo explorado nas mulheres negras. E é triste constatar que,muitos dos que sofrem tais preconceitos (seja na própria, ou na pele de uma companheira, filha, parente), são também felizes consumidores dessa cultura… Quando é pra eles é bom; quando é contra eles, é ruim. O que mostra uma profunda incoerência, ou até mesmo, hipocrisia.

Sou completamente a favor do “Brasil menos Globeleza” apregoado no blog Soul Negra.
Proponho refletirmos, homens e mulheres, nas pequenas atitudes machistas e racistas que temos no dia-a-dia; em palavras como “denegrir”, expressões como “ovelha negra” e “cor do pecado”, comentários sobre roupas e cabelos.
Falando especificamente aos homens agora, proponho também que nossos comentários não sejam feitos na frente de mulheres, expondo-as ainda mais a este machismo degenerativo; ou que sejam substituídos. Por exemplo, ao invés de:
– Tem coragem, fulano?
– Não tenho é sorte, beltrano!
Que usemos:
– Tem coragem, fulano?
– Ela é bonita, mas porque falar sobre ela na frente dela?

Dessa forma, ofensas e comportamentos impróprios não se propagam.

Que as mulheres sejam cultuadas e homenageadas não só no dia ou no mês dedicado a elas, mas todos os dias e todos os meses, mas sem excessos, sem machismo.

por Celsão correto

figura montagem feita daqui

P.S.: artigo publicado também no blog Soul Negra, que aborda temas relacionados à cultura, moda e beleza Negra. Clique AQUI