Há alguns dias, senti na pele o reflexo da paralisação dos motoristas de ônibus em São Paulo. Para quem não acompanhou, apesar de um acordo aceito em assembléia pela categoria, motoristas interromperam viagens e estacionaram os ônibus ao longo das muitas vias da cidade (notícia aqui)
No primeiro dia, estava no centro a caminho da Zona Norte e vi ônibus estacionando ao longo da Rego Freitas, Arouche e Duque de Caxias. No dia seguinte, deparei com a cena na avenida Eliseu de Almeida.
Mais importante que detalhes de onde e como, me imaginei em ambos os lados: na pele dos funcionários que se sentiram traídos pelas pessoas que os representam (no caso, o sindicato da categoria) e também no lado das pessoas “abandonadas” nas ruas, sem transporte público e, não raro, sem conseguir sequer voltar pra casa.
É complicado… sobretudo o lado dos usuários dos ônibus. Sem qualquer culpa, foram penalizados duramente e se viram cerceados do direito de ir e vir.
Por outro lado, defendo as manifestações e greves, pelo direito básico de discordar de uma situação injusta; inclusive defendi as manifestações do ano passado frente a colegas e amigos que criticavam exatamente o direito daqueles que não queriam participar, só queriam voltar pra casa, se locomover.
Quando assisti às entrevistas com o prefeito Haddad e o presidente do sindicato, vi a complexidade do problema: Estado paga as empresas pelo serviço prestado -> empresas definem salários dos profissionais e lucro -> é determinado o número e frequência dos coletivos e o preço da passagem -> o preço influencia diretamente no orçamento do povo, logo, não pode aumentar…
O pior… nas paralisações de dias atrás não houve prejuízo direto às empresas, aos políticos ou à cidade (fora alguns excessos e violência isolados). Somente “o povo” pagou!
E vou além, em outras paralisações ocorridas ou planejadas, como dos metroviários, policiais, professores, garis… quem “paga” a conta são os próprios assalariados, via penalização da falta de serviços.
Temo inclusive pelos movimentos legítimos, pois este “tsunami” de protestos planejados pode minar o apoio popular e até trazer um perigoso apoio à intervenções violentas e desmedidas das autoridades.
Numa análise macro-econômica, o Estado também é penalizado; pois o Mercado sofre com a diminuição da produtividade do país, o aumento dos custos da produção e a não-circulação do dinheiro. O comércio consequentemente encolhe e o crédito diminui. Mas o efeito que mais assusta os governantes é a queda da popularidade!
O que quero com esse post, além de desabafar e refletir sobre meu infortúnio em dois dias de caos na cidade? Ideias utópicas e românticas, como sempre…
– Por que não fazer “catraca livre” nos transportes públicos, em dias de greve
– E se todos seguissem a proposta do movimento Endireita Brasil, que vendeu ontem, em São Paulo, combustível sem impostos (aqui)
– Que tal cancelar todos os contratos públicos e refazê-los, contratos sérios, duradouros e passíveis de multa em caso de descomprimento.
– Investigação pesada nas licitações e empresas que prestam serviços públicos.
– Ajustes salariais automáticos, vinculados a índices econômicos. E aumentos reais vinculados a desempenho
– E pra finalizar o mais óbvio e mais difícil: ampliação do transporte público de qualidade, principalmente metrô e redução de gastos públicos
por Celsão correto
figura retirada da primeira notícia citada
Além de tudo que foi sabiamente citado, acrescento a pergunta que não quer calar: pq o povo precisar pagar 2x? Digo isso, pois ontem num dos telejornais onde fora veiculado o resultado da assembléia referente à greve dos metroviários, foi dito que para atender à reivindicação dos profissionais será necessário ajustar o preço das passagens, ou seja, o usuário perde no seu direito de ir e vir durante a greve e depois, financeiramente. E olha que são eles (nós) que movimentam a economia, à medida que usam o sistema, pagam impostos e tudo mais! 😦
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