Archive for January, 2015

Charlie_HebdoQuando cursava a 6ª série do Ensino Fundamental, lembro-me das aulas de Ensino Religioso com o Professor, agora amigo, Evandro Albuquerque. Apesar de estarmos em um Colégio Católico, Evandro ensinava “as religiões”, e não o catolicismo ou cristianismo. Nós, alunos católicos, ríamos dos hinduístas por adorarem um Deus com cabeça de elefante, ou dos budistas por darem três voltas em volta do templo, ou dos judeus com a circuncisão quando criança, ou dos médiuns umbandistas que tomam cachaça e fumam charuto quando “incorporam” e depois dizem que quem bebeu e fumou foi a Entidade e não eles próprios, ou dos muçulmanos que acreditam que, ao morrer, terão no céu um palácio de grandeza diretamente proporcional ao tamanho de sua fidelidade em vida aos ensinamentos do Corão.

Então, Evandro olhava-nos com seriedade e severidade e dizia: “as outras religiões também riem de nós por enfiarmos a cabeça numa bacia de água, supostamente ‘benta’, recebermos um sinal de cruz feito pela mão de um padre em nossa testa, e então acreditarmos que agora fomos introduzidos no ‘Reino de Deus’. Portanto, respeitemos, em integridade, as culturas e crenças do próximo“.

Vivendo fora do Brasil, já tive contato com diversas pessoas crentes no islamismo, e lhes digo uma coisa sem titubear: eles têm cabeça, dois olhos, pelos, cabelo, duas pernas, dois braços, falam, caminham, brigam, sorriem… alguns são antipáticos, outros um doce. Engraçado não? Eles parecem com a gente!

Pois é, muçulmanos não são monstros, mas sim pessoas normais, como todos nós, com crenças particulares, assim como nós.

Com um muçulmano específico tive até a oportunidade de me tornar grande amigo. Um Paquistanês que trabalha na minha firma. Ele está entre as cinco pessoas mais dóceis que já conheci nesse mundão. Simples, competente, amável, prestativo, conquistou até mesmo o carinho dos alemães mais frios do meu departamento. Conversamos muito sobre a vida… uma delícia filosofar com ele, tamanha pureza e nobreza de coração, e clareza de pensamento. Defende o amor como caminho para acabar com a pobreza, as desigualdades do mundo, as injustiças… um sonhador.

Também conversamos muito sobre religião e aprendi com ele um pouco sobre o islamismo no qual ele acredita, e não me pareceu mais radical que algumas igrejas neopentecostais atuantes no Brasil.

Com sua barba até o peito, em homenagem a Maomé, Ahmad certo dia me olhou e disse: “Miguel, terroristas são uma pequena minoria, que nos envergonham no mundo, criando falsos estereótipos sobre nossa religião. Nem mesmo as explorações que sofremos, o imperialismo do ocidente sobre nossos países, a nossa falta de liberdade política, cultural e econômica, as guerras nas quais vivemos devido a interesses estrangeiros; nada disso justifica atos bárbaros, assassinatos, principalmente de inocentes“.

Há poucos dias o mundo novamente entrou em estado de choque com o atentado no jornal Charlie na França. Acompanhando um pouco a imprensa brasileira, notei o foco na barbárie do ato, mas praticamente a ausência do debate da perspectiva cultural e religiosa da ofensa sofrida pelos muçulmanos.

Ora, claro que nada justifica o assassinato daqueles profissionais da imprensa, e eu jamais iria me posicionar a favor desses fanáticos religiosos. Porém penso que o humor, como tudo na vida, tem limites, e agredir e desrespeitar os mais profundos valores de alguém, atinge esses limites. Nossa liberdade termina onde a do outro começa. (Clique AQUI para ler nosso artigo sobre os limites do humor, que acompanha um excelente documentário)

As religiões são as maiores causadoras de guerras no mundo. O fanatismo religioso então, é ainda mais grave.

O ideal seria não existirem extremismos e fundamentalismos religiosos, mas, infelizmente, existem. Assim sendo, custa respeitar certas fronteiras? Custa respeitarmos a cultura e crença do próximo enquanto elas não invadem nossas crenças e culturas?

Em nossa cultura, nós cometemos atos impensados quando agridem nossos pais ou filhos. Na deles, quando agridem seu Deus. O que é mais grave?

Pensemos também no comportamento da imprensa mundial, e como nós, enquanto sociedades, usamos nossa consciência ao consumir uma notícia: o assassinato dos funcionários de um jornal quase desconhecido causa comoção mundial. Cidadãos comuns ficam escandalizados e mostram sua indignação. Líderes de Governos fazem passeatas e discursos eloquentes;
Porém, quando um míssil fornecido pelo governo e indústria americana a Israel, é lançado por este país em cima de uma escola Palestina, matando dezenas de crianças que ali estavam estudando, isso fica no noticiário no máximo durante dois dias, os cidadãos se indignam e já se esquecem no dia seguinte, e nenhum líder faz passeata.
Seria um tipo de hipocrisia, ou no mínimo, uma sensibilidade seletiva?

Eu sou contra o fanatismo religioso, assim como sou contra o imperialismo, as retaliações, a escravização que o ocidente, principalmente os EUA, praticam sobre os países muçulmanos.

O jornal Charlie Hebdo já havia sofrido avisos e ameaças anteriores. Os jornalistas não mereciam a morte, mas poderiam tê-la evitado.

por Miguelito Formador

Indico o excelente artigo de Mino Carta, que entre tantas críticas inteligentíssimas, foca na hipocrisia e na seletividade da indignação mundial, dentro de um jogo político e de interesses danosos à democracia e à evolução do mundo. Clique AQUI

E AQUI vai um artigo de Ricardo Melo, com uma abordagem bem diferente sobre o assunto, com foco no fanatismo religioso e nos danos que as religiões trazem para a história da humanidade.

figura daqui

oab-rs-reforma-politicaSou da opinião que não basta ficar parado e reclamar.
É a atitude mais fácil, certamente, mas tem pouca valia.
Essa é uma das razões de ter esse espaço e de “lutar” de algum modo contra a falta de informação nos extratos mais baixos da população, a massificação da informação na TV, a manipulação exercida pela grande mídia, contra o “pão e circo” e contra o chamado quarto poder.

E um dos assuntos que mais temos falado neste blog é a necessidade de reformas no Brasil: na política, no governo, na mídia, etc.
E, concomitantemente, o Jornal da Cultura fez, desde o final do ano passado, enquetes com o público sobre o sistema politico no país para saber, dentre algumas opções dadas, qual seriam as preferências dos telespectadores.

Dentre as perguntas realizadas estavam a reeleição, se o eleitor é a favor ou contra, o tipo de financiamento de campanha mais adequado, com opções como: privado com doações de pessoa física, privado com doações de empresas, privado com recursos do próprio candidato, público ou misto; tipo de sistema para o legislativo e se as campanhas precisariam de um limite. Os resultados destas podem ser encontradas aqui.

Aproveitando a discussão surgida das enquetes, a OAB de São Paulo e o canal, promoverão um seminário com o título “Reforma Política Já” (links aqui e aqui). Bem “em cima” do prazo, pra participar, eu sei. Mas meu destaque não vai para a participação neste evento (eu, por exemplo, queria participar e não poderei). O que quero salientar é que algumas enquetes de internautas tornaram-se um seminário, promovido por um órgão de importância nacional. E, com participação, nos painéis, de dois ministros do STF!

Na mesma linha, a campanha “Fim do Político Profissional” (aqui) coleta assinaturas para uma emenda constitucional que visa proibir a reeleição do Executivo e limitar a uma reeleição todo o Legislativo brasileiro. Lutando para acabar com a perpetuação de parasitas em todas as esferas do governo. Um dos criadores da campanha é também debatedor do Jornal da Cultura.

Ou seja, é possível começarmos algo. Quer seja apoiando eventos que acreditamos, quer seja iniciando nós mesmos uma petição no Avaaz, uma enquete, uma discussão no nosso “microcosmo”, um evento…
E as mudanças começam mais perto do que pensamos; muitas vezes no modo como vemos as coisas.

por Celsão correto

edição feita de figura retirada daqui

P.S.: como o post vai “pro ar” na terça e o evento é na quinta, dia 29, seguem os telefones para confirmar a participação, se ainda houverem vagas: (11) 3291–8191 e (11) 3291-8201.
Aliás, todos os painéis do Seminário serão transmitidos ao vivo pela internet, no site da OAB SP e também pelo CMAIS, canal da internet da TV Cultura.

5ad1f989-1515-4d1c-ac3a-536a6191e526Era mais do que sabido.
Seca prolongada, ausência de planejamento, de reformas e de novos investimentos, base de geração hídrica, pressão para aumento de consumo interno…

Deu no que deu. Apagão em onze estados, ocorrido através de corte de fornecimento feito pelas geradoras por ordem do operador nacional do sistema (chamado ONS).
Pouco interessa agora se as falhas ocorreram na geração, devido aos baixos níveis das represas; na transmissão para as residências, graças a falhas técnicas; ou se foi uma ação “para evitar o pior”, como foi divulgado pela diretoria do ONS (aqui)
Negar o apagão, chamar de corte seletivo de carga no fornecimento, tampouco me parecem estratégias interessantes; já que teremos um ano de baixo crescimento econômico. Se não investimos para fazer ajustes ou reformas necessárias e nos prepararmos para estiagens prolongadas, por exemplo, não acho aceitável culpar São Pedro, o verão ou estagiários pelas falhas que tendem a se multiplicar.

O que falta é cultura, é o “clic” num povo acostumado a ter água e energia elétrica baratas e em abundância.
Em nosso país, a energia elétrica é algo “mágico”. Basta haver uma nova requisição, por exemplo, através do acionamento de um interruptor e, pronto! A luz acende instantaneamente; não importando se aqueles 16 ou 20W a mais vêm da Usina de Paulo Afonso na Bahia, de Angra dos Reis ou de Jirau em Rondônia.
Para a água é a mesma coisa. Nos acostumamos a banhos demorados em casa e a lavar carros, calçadas ou regar plantas com a mangueira ligada o tempo todo. É trágico e comum, mesmo hoje, encontrar pessoas na região metropolitana de São Paulo, com a mangueira a desperdiçar água dentro da própria garagem, enquanto atende ao telefone, busca uma vassoura…
E já que o tal “clic” não acontece quando alguém reprime o desperdício avisando da escassez atual, vai ocorrer, infelizmente, quando essa pessoa não tiver mais água limpa para o banho ou tiver de usar água dessalinizada para lavar roupas.

É um quadro real e está mais próximo do que imaginamos, lamentavelmente.

Para exemplificar parte dos problemas, recomendo a leitura de um excelente artigo, que recebi pela primeira vez em abril passado e tive a feliz sorte de reencontrar (aqui). É uma aula sobre a crise da água, sobretudo se tomarmos os links indicados pelo Leandro.
O autor/repórter enumera diversos problemas, além da estiagem atacada por todos. Para mim, o principal e crucial é a falta de planejamento das nossas cidades.
Defendo que as cidades precisam ter um limite, crescer até determinado ponto para não esgotar os recursos naturais do entorno e não complicar toda a estrutura logística de manutenção da própria cidade. Logicamente é muito mais factível coordenar transporte, segurança, iluminação, saúde pública, educação numa cidade de 500 mil habitantes do que numa cidade de dois milhões. São Paulo e sua ainda crescente e desordenada expansão é inviável para o poder público em todos os aspectos listados acima.

Outro ponto interessante levantado na leitura do site Cosmopista (aqui e aqui) é a mudança de gestão da Sabesp, empresa de águas do estado de São Paulo, que passou a ter ações na Bolsa e focar no lucro puro e simples, priorizando seus acionistas, ao invés de cumprir o papel a que foi criada (tratamento e distribuição de água).
Maximizar lucros sem investimentos de expansão, manutenção ou redução do desperdício é adiar um problema, ou acender uma bomba com um pavio bem longo. O problema pode até “pular” algumas gestões, mas indubitavelmente, vai aparecer. Apesar de não concordar com todos os argumentos ou “mitos” levantados pelo site, tornar uma empresa essencial privada, é de extremo mau gosto (pra dizer o mínimo).

Mas não sou do tipo “matuto” que culpa o desenvolvimento social e a “nova classe média com seus aparelhos de ar condicionado” pelo pico de consumo.
Creio ser natural e inevitável no ser humano o desejo “por mais” ou o desejo de conforto, após sanadas as necessidades básicas como alimentação e moradia. Privar uma mulher de comprar um secador de cabelos, uma família de ter uma nova TV ou toda a sorte de aparelhos na cozinha, é impedir paralelamente o desenvolvimento do próprio mercado interno.
O que poderíamos fazer é avançar nos programas de eficiência energética, tornando o consumo mais inteligente e eficiente ao invés de limitá-lo.
Usando um exemplo, toda geladeira hoje possui o selo “A” do Procel. Por que não “rebaixar” todas para “D” e passar a exigir uma melhor eficiência por kilowatt consumido?
Outro exemplo, este mais utópico, por que não separarmos a água utilizada no banho ou pia para a descarga, ou mesmo para lavagens externas em prédios? Estudos de dez anos atrás já mostravam a viabilidade de caixas d’água intermediárias para este fim.
Sem falar no potencial das energias alternativas, que, apesar do alto valor inicial a investir, tem menor impacto ambiental e menor custo de megawatt gerado que as termelétricas emergenciais a óleo que temos utilizado.

Bem… ao menos o governador Alckmin admitiu que a situação atual é de racionamento (ou de restrição de fornecimento, usando palavras dele), primeiro passo para evitar o pior desabastecimento da história.
Agora é trabalhar na viabilização das energias alternativas, nas novas usinas, novos contratos de transmissão, na redução dos desperdícios e na conscientização ou “clic” na população para voltarmos ao patamar de fornecimento anterior, sem os riscos de privação.

Só isso?!?
Não. Isso é só o começo.

por Celsão correto

figura retirada daqui

FRANCE-ATTACKS-CHARLIE-HEBDO-MEDIA-FRONTPAGETodo o planeta acompanhou nessa semana uma massiva manifestação em Paris contra o terrorismo e a favor da liberdade de expressão e imprensa. Foi tão divulgada que é dispensável a colocação de um link.

Pouco quero falar sobre o ato execrável e criminoso dos irmãos, membros da rede Al Qaeda do Iêmen. Saliento somente que nenhuma religião, em sua síntese, prega atos violentos contra quem quer que seja.
O próprio Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos, condena atos de blasfêmia somente cometidos por aqueles que foram “educados” na doutrina, ou seja, os castigos deveriam ser aplicadas apenas à muçulmanos (detalhes de estudiosos do livro aqui). Na prática vê-se que países mais radicais na doutrina, como o Paquistão, prendem e executam (cristãos inclusive) por profanar ou blasfemar contra Alá ou Maomé.

Eu queria focar, primeiramente, na liberdade de expressão e declarar minha “opinião pirata” sobre o assunto: liberdade completa e irrestrita de opinião e imprensa não existe!
Citando exemplos para ilustrar a frase acima…
– Será que a polícia francesa e seus 80 mil homens que buscavam os terroristas agiriam normalmente se manifestantes pró-terroristas fossem às ruas? Ou mesmo se membros dos direitos humanos pedissem clemência para os criminosos?
– O que aconteceria com um jornal satírico nos Estados Unidos após o onze de setembro, caso publicasse tirinhas exaltando Osama Bin Laden ou mostrando a estúpida e exagerada reação americana?
– No Brasil, que não é um dos países mais rígidos em termos de lei, proprietários de blogs na internet podem ser processados por comentários feitos por terceiros. Como alternativa, os comentários devem ser moderados ou cada post deve conter a isenção de responsabilidade, informando que a página não se responsabiliza… (blá, blá) que os comentários não representam a opinião do autor e editores… (blá, blá)
– Pra completar a lista de exemplos, Laerte, um dos maiores cartunistas brasileiros, declarou em entrevista (link)que não existiria um Charlie Hebdo no Brasil, por conta da pressão “bate-assopra” que cobramos uns dos outros aqui.

Isto posto, mesmo com a boa vontade de alguns governos e instituições de tolerar o humor ácido, as provocações e os insultos. Todos os habitantes do mundo não são iguais e é impossível prever a reação de uma pessoa a um ataque ou ofensa. Por exemplo, eu nunca faria charges provocativas contra religiões!
Seguindo essa linha, o ex-presidente francês, Jacques Chirac, criticou uma republicação do jornal Charlie em 2006, dizendo que “tudo o que fere convicções, sobretudo religiosas, de uma pessoa, deve ser evitado”. (a página em Inglês do Wikipedia mostra uma cronologia resumida das matérias polêmicas – aqui)
Mas o jornal, talvez em nome de sua independência (?), talvez apenas por buscar mais fama nas publicações controversas, não se importou com ameaças e processos e segue fazendo a mesma linha polêmica. Para quem quiser ver algumas das mais discutidas capas, segue link aqui (seleção feita com as 16 melhores, em Inglês) e aqui (reunidas pela Folha e UOL)

Voltando à frase “pirata” sobre a ausência de liberdade de opinião no mundo, alguns dos próprios líderes mundiais presentes em Paris na mega-manifestação, têm em seu passado marcas vergonhosas em relação à mídia e imprensa – veja levantamento aqui.
Dentre os hipócritas, estão primeiro-ministros, presidentes e ministros de relações exteriores. A matéria apresenta links para cada uma das acusações feitas.

Finalizando, posso ser cruel, mas não creio que um jornal de 30 a 60 mil exemplares atingiria os 5 milhões desta edição sem o atentado.
E… o que os “novos fãs” não pesam ao buscar o jornal no eBay e cultuar sua “independência” é a linha tênue entre a liberdade de expressão e a crítica ou mesmo preconceito contra a população muçulmana francesa, já estigmatizada.

por Celsão revoltado

figura retirada do portal UOL. Escolhi por ser uma capa inteligente e não apelativa quanto poderia ser.

P.S.: para quem quiser a edição digital, em PDF, no idioma original, segue link.

figura_post_tarifaNem por R$0,50 ou R$0,40. Agora é contra a corrupção!

Ano novinho em folha começando e aumentos nas passagens de ônibus urbano no Rio e em São Paulo em vigor. No Rio foram quarenta centavos a partir de sábado, dia três, e em São Paulo são cinqüenta de acréscimo desde terça-feira.

Diferentemente das piadas de “agora sou a favor pois facilitou o troco”, acredito (e espero) que as manifestações voltem a ocorrer.
Não pela utópica e impraticável tarifa zero numa cidade como São Paulo, mas pela falta de transparência no setor de transportes.
O Movimento Passe Livre (MPL) já marcou a primeira grande manifestação em São Paulo, que deve ocorrer nesta sexta-feira, dia 09/01/2015.

Pra quem não sabe, o MPL pediu à prefeitura a planilha dos gastos com as empresas prestadoras do serviço de transporte coletivo na capital (que são poucas, e já no comando há muito tempo). Houve até uma CPI na câmara municipal que visava investigar o sistema atual de licitação e prestação de serviços, mas ninguém logrou abrir a “caixa de Pandora” dos custos (ou lucros) das empresas.
Mais absurdo que não rever contratos é continuar pagando empresas prestadoras por cidadão transportado. Notoriamente há sucateamento dos ônibus, num círculo vicioso inevitável, pois busca-se uma maior ocupação (leia-se lotação), o que leva ao abandono do transporte público por aqueles que têm alternative, e a consequente redução do número de veículos por conta da baixa ocupação…
Notícia aqui sobre a conclusão da CPI municipal e aqui sobre uma discussão interessante do modelo de concessão municipal, no site do MPL.
Aliás, o excelente artigo no site do MPL defende que transportar passageiros tem custo fixo, ou quase fixo, e usa exemplos de empresas aéreas (cujo custo do voo não muda com poltronas vazias), corridas de táxi (que tem um preço pela distância e trajeto e independe do número de pessoas transportadas), entre outros.

Independente dessa teoria, todo estudante de economia ou administração sabe, desde o início do curso, que o preço se forma a partir do custo colocando o lucro ou margem; ou de um valor de venda mínimo para que a operação seja viável economicamente. Em nosso caso, valor do contrato da prefeitura com a empresa prestadora criaria esse valor mínimo, ou máximo “pagável” do ponto de vista da prefeitura.

Então bastaria que esse contrato fosse fiscalizado e revisto rigorosamente num momento como esse, de discussão sobre aumento de tarifa, para que se ratificasse o aumento proposto ou servisse de base para negá-lo.
Sem o detalhamento de quanto se paga e como são feitos os cálculos pelas empresas prestadoras, impossível corroborar com o aumento!
E pior ainda… não consigo imaginar como a prefeitura fiscaliza os trajetos, número de ônibus nas ruas (ou por trajeto), dimensionamento para horários de pico e finais de semana…

Ora, pra mim, o “buraco é mais embaixo”!
Há um esquema de corrupção que complica e maqueia propositalmente a tarifa de ônibus e metrô na capital. Contratos não renovados seguem vigentes, uma única família possui mais da metade da frota paulistana. Nem mesmo o mais romântico dos pensadores diria se tratar de preguiça dos governantes ou despreparo da secretaria…

por Celsão revoltado

figura: montagem de figuras extraídas aqui e aqui com fundo do portal UOL.