Outro título deste post seria: “Dicas para ser isento numa CPI”.
É absurdo! É revoltante!
Uma nova CPI no Congresso foi instaurada ontem, quinta-feira, para investigar os casos de corrupção na Petrobrás, ou os desdobramentos da operação Lava Jato (notícia aqui).
Até aí tudo bem, uns podem até dizer que acabará em pizza, ou seja, que não dará em nada; outros dirão que as CPIs são elementos políticos para provar a força dos partidos na nomeação de líderes e relatores, que a CPI é “ganha” nessa primeira votação, etc.
Por ser a terceira num período curto (menos de um ano), é realmente mais difícil acreditar que algo muito diferente ocorrerá; mas, o que me revoltou mesmo, foi a constatação feita pelo deputado Ivan Valente, do PSOL.
Em discurso no início dos trabalhos, o político lembrou que mais da metade dos deputados que compunham a mesa receberam doações de campanha das empresas investigadas na operação Lava Jato.
Explicando mais uma vez e em outras palavras: a maioria dos parlamentares presentes, que ocupariam (e ocuparão) as cadeiras desta terceira Comissão de Inquérito, que analisarão documentos, depoimentos, votarão e elaborarão um parecer final, receberam dinheiro para suas campanhas eleitorais (do ano passado!) das empresas cujos executivos estão presos em Curitiba, exatamente por suspeita de irregularidades em contratos da própria Petrobrás, investigada.
Ou seja, só pode ser piada… os apadrinhados investigarão os padrinhos! Notícia aqui.
Como não era interessante para os partidos “fortes”, como o PMDB, que elegeu o presidente da CPI, o afastamento dos políticos “suspeitos” não foi levada a cabo. E a casa votou sem problemas ou pudores e elegeu o presidente (Hugo Motta – PMDB) e o relator (Luiz Sérgio – PT).
O deputado Luiz Sérgio, eleito relator, foi inclusive o candidato que recebeu o maior valor dentre os componentes da CPI, valores próximos a um milhão de reais. O presidente eleito da CPI também seria afastado se o pedido de impedimento do PSOL tivesse sido acatado.
Notem que não estou criticando as doações em si. Embora seja contra elas (vejam aqui e aqui algumas opiniões nossas sobre as reformas políticas necessárias ao país de acordo com nosso julgamento), sei que as doações de empresas privadas, como empreiteiras, são lícitas, fazem parte do “jogo” atual para se eleger um parlamentar.
Tampouco quero “ver sangue” nas prováveis críticas à Petrobrás que estão por vir.
Acho que devemos sim investigar os ocorridos e punir duramente os culpados (como já disse aqui), sem condenar toda a empresa que é inovadora e referência mundial na exploração de petróleo.
Mas… precisava mesmo de uma nova CPI?
E… tinha de ser comandada por deputados “de rabo preso” com os investigados?
Copiando uma pergunta da própria página do deputado Ivan Valente, atribuído por ele à Folha: “Entre os financiadores e os eleitores, entre o dinheiro e o voto, de qual lado cada congressista ficará?”
Termino dando os parabéns ao PSOL que levantou a questão e propôs a medida mais cabível ao caso. Parabéns também aos deputados do PPS que foram os únicos a apoiar o PSOL no intento.
por Celsão revoltado.
figura retirada daqui
P.S.: link interessante para a página do deputado Ivan Valente, que contém o vídeo do pedido de afastamento – aqui
“Quem paga a banda,
escolhe a música.”
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É muito triste ler esse tipo de coisa. É triste saber que enquanto uns lutam por um país melhor outros lutam pelo oposto. Mas o mais triste é ver pessoas comuns, do nosso dia a dia, na grande maioria pessoas de boa índole, apoiando os princípios errados, apoiando candidatos que lutam contra o país. Mas não podemos parar ou desistir. Sigamos em frente, com nossas cabeças erguidas, debatendo em cada oportunidade, apoiando os bons, apontando os maus, para ver se conseguimos mudar esse país. Muito bom texto, bem claro, explicativo e direto.
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