Chegada com risos, manobristas atarefados, apertos de mão afetuosos e frases capciosas como “Você engordou” ou “Tá careca, meu velho!”
Apressadas recepcionistas tentar rebanhar o grande grupo à sala principal sob ameaças de “Já vai começar e depois do início, ninguém entra…”
“Equipamento no mercado é um filho” sentencia o primeiro palestrante, enquanto aposto que muitas cabeças se voltaram aos verdadeiros filhos, distantes ao menos no decorrer dos dias daquela reunião geral. Que modo de começar!
Figuras mudam sem apresentação ou detalhamento, somente assuntos macro são comentados. Talvez para entreter, talvez para hipnotizar.
Duas mãos se levantam no centro e sinalizam que faltam seis minutos. Ou seriam quinze, nesta simbologia de palma aberta e indicador estendido? Prefiro pensar positivamente. Não que o assunto seja de menor importância ou o apresentador enfadonho, mas são tantos rostos para rever e assuntos a tratar…
Em seguida vem profit, management, infrastructure, life cycle, smart grid, service, assets, uptime, supply chain, headquarters, stakeholders, timing; no melhor estilo bingo que jogávamos na faculdade quando um professor se valia de estrangeirismos. Pra mim só falta synergy, bradava um. Estou por co-working, sussurrava outro. Sei que as vezes é inevitável, principalmente para empresas multinacionais e seus programas globais; mas muitos pensam que abrilhanta a apresentação. Creio o contrário. Principalmente se o termo é confuso na língua local… Aposto que muitos na sala entendem por exemplo, profit, como lucro, alguns como margem e outros como resultado.
Na fileira da frente percebo a primeira piada com texto longo circulando via WhatsApp. Os risos denunciam o grupo.
“O mercado dos EUA é sempre um mercado regulado”
“O que eu faço na frente do cliente?”
“Tudo o que puder explicar em termos de retorno de investimento ou retorno de caixa pro cara…”
As apresentações são curtas, mas se acotovelam.
“Você vai monitorar o processo dele”
“Tem que visitar os market places”
“Quem tem pressão alta é só quem mede” – me lembra um chefe arrependido por ter feito check-up.
Analogias com futebol despertam e divertem: “bola dividida” e “deixar o campo cedo demais” couberam perfeitamente e soaram melhor que o Inglês anterior.
Obviamente alguns tropeços técnicos também divertem. Não menos que os celulares e o WhatsApp.
A pausa para o almoço é rápida demais para os papos e ligações pendentes. Comer? O que tinha pra comer mesmo?
Agora é esperar o próximo intervalo.
“Amparado por uma política comercial séria”
“Reconhecimento da marca tem peso”
“Nosso desafio não é empurrar produtos para as prateleiras dos clientes, mas ajudá-lo a esvaziar estas prateleiras”
Certas frases e conceitos são realmente bons e ficam.
O complicado é lutar contra o sono neste momento, uns tomam nota, independente do assunto, outros buscam algo no teto e se ajeitam nas cadeiras, os mais despojados tiram foto dos que estão dormindo…
Paradigma, propósito, complexidade, desafio, vanguarda, difusão de conhecimento e luta contra o sono pós-almoço.
Organização Monolítica e Bill the Trust (ou seria Build the Trust?) são as próximas temáticas. Se sai melhor quem consegue entender o futuro do futuro, fonte primária de relacionamento, fazer bons financiamentos.
Acho que se sai melhor aquele que não me tem como chefe e segue pendurado no celular. Haja falta de respeito!
“Otimização é curto prazo. Temos de olhar a longo prazo”. Não dá pra concordar com tudo mesmo.
Parceria assimétrica, critérios, business plan, player, advisory, coaching. Os termos são intermináveis. A poesia também.
por Celsão irônico
figura retirada daqui, somente pela semelhança dos “Mundo Dilbert” com o mundo corporativo