Archive for March, 2016

Coreografia_CavernaImagina uma caverna subterrânea que tem a toda a sua largura uma abertura por onde entra livremente a luz e, nessa caverna, homens agrilhoados desde a infância, de tal modo que não possam mudar de lugar nem volver a cabeça devido às cadeias que lhes prendem as pernas e o tronco, podendo tão-só ver aquilo que se encontra diante deles.

Imagina homens que passem para além da parede, carregando objetos de todas as espécies ou pedra, figuras de homens e animais de madeira ou de pedra, de tal modo que tudo isso apareça por cima do muro.
Não julgariam eles que nada existiria de real além das sombras?

Pensa agora naquilo que naturalmente lhes aconteceria se fossem libertados das suas cadeias e se fossem elucidados acerca do erro em que estavam.
Se lhe mostrarem imediatamente as coisas à medida que se forem apresentando, e se for obrigado, à força de perguntas, a dizer o que é cada uma delas, não ficará perplexo e não julgará que aquilo que dantes via era mais real do que aquilo que agora se lhe apresenta?

Quando você vê uma sombra, Sofia, na mesma hora você pensa que alguma coisa deve estar projetando esta sombra. Por exemplo, pode acontecer de você ver a sombra de um animal. Talvez a de um cavalo, mas você não está bem certo. Então você se vira e vê o animal verdadeiro, que, naturalmente, é muito mais bonito e de contornos mais nítidos do que a imprecisa sombra. É por isso que Platão considera todos os fenômenos da natureza meros reflexos das formas eternas, ou ideias. Só que a maioria das pessoas está satisfeita com sua vida em meio a esses reflexos sombreados. Elas acreditam que as sombras são tudo o que existe, e por isso não as veem como sombras.

Os sentidos nos fornecem uma visão enganosa do mundo; uma visão que não está em conformidade com o que nos diz a razão.
Nós mesmos contribuímos para o que sentimos e percebemos, pois somos nós que escolhemos aquilo que nos é importante.
… saber que não se sabe também é uma forma de conhecimento.

Os homens embarcam nos trens, mas já não sabem mais o que procuram.
Para enxergar claro, basta mudar a direção do olhar.
Quando a gente anda sempre em frente, não pode ir muito longe.
Amar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direção.

É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues fazer um bom julgamento de ti, és um verdadeiro sábio.

Os que questionam são sempre os mais perigosos. Responder não é perigoso. Uma única pergunta pode ser mais explosiva do que mil respostas.
… perguntar é importante, mas não é preciso se apressar com uma resposta.


Acima está uma colagem, um tanto quanto aleatória, de passagens dos livros “O pequeno príncipe”, “O mundo de Sofia”, e da “Alegoria da Caverna” presente na obra “A República” de Platão.

Cada um em sua maneira, essas obras visam despertar o bom senso, o senso crítico, o interesse, a moral e ética, o discernimento no leitor, e automaticamente, na sociedade.

Diante dos acontecimentos recentes do Brasil, com uma intensificação da utilização da mídia e da justiça como ferramenta de caça partidária, com a radicalização, principalmente da parcela mais rica e “branca” da sociedade, no ato de condenar de forma “seletiva” atos de corrupção e/ou antiéticos (inaceitável quando praticado por um partido político específico, mas se praticado por outros, ignora-se ou alivia-se). Frente a protestos com direito a abadá, carros alegóricos, madame rica lançando garrafa de prosecco em caminhão da tropa de choque estacionado, “esquentas” para protestos em hotéis de luxo, passeatas regadas a muita cerveja, música e coreografia estilo carnaval.

Diante dos atos de um Juiz e seus comparsas do Ministério Público de São Paulo, em sua caça implacável e irredutível a um ex-presidente e aos integrantes de um partido, atos esses criticados por quase unanimidade dos juristas brasileiros mais respeitados, por ministros do STF, pela OAB, e até mesmo por políticos da oposição ao atual Governo.

Em meio a tudo isso, e ao notar a celebração, da maioria das pessoas pelas quais tenho apresso, comemorando e concordando com esses absurdos, essas aberrações; e notando assim a que grau de primitividade, insensatez, desonestidade intelectual, baixaria e agressividade o ser humano pode chegar, encontro-me sem palavras para expressar o tamanho de minha dor e frustração.
Sendo assim, ficam as passagens acima, algumas delas pensadas a milhares de anos, mas que hoje se fazem tão necessárias quanto antes, e outras destinadas a um público infantil, mas que podem ser aplicadas muito bem aos adultos das “Avenidas Paulistas” Brasil afora.

por Miguelito Filosófico

A figura é uma montagem de duas imagens, retiradas daqui e daqui

11050667_1140171285999582_7130393729177933607_nEstamos num período agitado.
Que nos bombardeia com intermináveis informações e ao mesmo nos força a tomar partido… a nos posicionarmos… a escolher um lado…
Será mesmo?

Dentre as inúmeros textos que li nos últimos dias, um dos notáveis segue abaixo.
Exprime um posicionamento neutro e explica alguns “porquês” das convicções, dos vieses, dos ânimos exaltados.

O texto é de autoria de Vinícius Waldow e pode ser lido em seu Facebook aqui.

Como é de costume em momentos de efervescência política, a razão fica escanteada.

O filósofo Bertrand Russell escreveu: “Todo homem, onde quer que vá, vive envolto por uma nuvem de confortantes convicções, que o acompanham como as moscas no verão.”

As pessoas geralmente acreditam que a sua mente é capaz de obter uma visão precisa da realidade. Contudo, as descobertas em relação ao que se chama de “cognição motivada” colocam por terra essa crença (pelo menos, deveriam colocar).

O viés confirmatório (do inglês, confirmation bias), por exemplo, é considerado o padrão mais robusto já descoberto pela psicologia cognitiva acerca do nosso raciocínio, e consiste na tendência dos indivíduos de procurar e interpretar evidências de maneira parcial em favor das suas crenças, convicções e expectativas prévias.

O viés confirmatório faz com que tenhamos uma predisposição fortíssima de ignorar ou então criticar veementemente as evidências contrárias às nossas convicções (por mais sólidas que sejam essas evidências), bem como aceitar de modo complacente e defender de modo ferrenho as evidências favoráveis às nossas convicções (por mais pífias que sejam essas evidências).

A ideia é que a nossa mente funciona mais como um advogado tentando defender uma causa pré-definida do que como um cientista buscando desinteressadamente a verdade.

Adicione a isso um outro ingrediente bem conhecido da cognição motivada: o grupismo. Essa é a tendência dos seres humanos a se dividirem em grupos-de-dentro e grupos-de-fora (“nós versus eles”) e sistematicamente perceberem e agirem como se os membros do grupo-de-dentro fossem muito diferentes e superiores em relação aos membros do grupo-de-fora.

Agora pense sobre os efeitos que a combinação explosiva entre viés confirmatório e grupismo exerce sobre qualquer debate político.

A visão grupista é a de que o nosso lado é inteligente e dotado de retidão moral, enquanto que o outro lado é composto por burros (que estão sendo ludibriados), mercenários (que foram comprados) e safados (que ludibriam os burros, compram os mercenários e querem acabar com o nosso lado). A partir daí, o viés confirmatório faz o trabalho de avaliar todas as evidências oferecidas de modo a sempre reforçar essa visão básica.

Além de apenas observar evidências, as redes sociais hoje permitem a você criar e distribuir suas próprias evidências, com todos os viéses possíveis.

Em toda manifestação pública de grandes proporções, se você buscar e selecionar bem, vai encontrar um bom número de pessoas com as opiniões e atitudes mais estapafúrdias, grosseiras e simplórias. Filme algumas delas, faça uma boa edição de vídeo e coloque uma manchete que funcione como isca para um público já propenso em concordar, e pronto: muita gente vai obter mais uma evidência de que o outro lado é burro, vendido e safado, e implicitamente de que o seu lado é inteligente e virtuoso.

Se você estiver com preguiça, então basta criar um meme.

Trazendo para o caso concreto do Brasil, se todo petista/tucano é burro, vendido ou safado, não há porque ficar perdendo tempo com os argumentos deles: a vitória é nossa de antemão. Estereotipar e desmerecer o outro lado é um caminho fácil demais para não ter que pensar de fato sobre os argumentos contrários.

“Os petralhas só querem continuar mamando na teta do governo.”

“Os coxinhas só querem manter seus privilégios de rico.”

“E ainda tem burro que defende esses safados.”

Achar que o principal problema do Brasil consiste em um único partido ou político é uma visão extremamente simplória para um problema complexo. Quem dera a solução para os nossos problemas políticos fosse apenas tirar o PT/PSDB/PMDB ou Dilma/Aécio/Cunha do jogo. Como uma hidra de Lerna, não adianta “cortar essas cabeças”: elas nascerão de novo, com outras faces, ou com a mesma face (Collor tá aí ainda).

A solução para problemas estruturais tem de ser estrutural também. Um exemplo: já passou da hora de reformar o nosso sistema eleitoral, que recruta parlamentares com base numa política altamente personalista (em contraste com uma focada em partidos); um sistema que é nitidamente distorcido pelo financiamento de campanha por grandes empresas (a corrupção também está na iniciativa privada).

Outro exemplo é o nosso sistema de governo baseado no presidencialismo de coalizão, o qual parece tornar quase obrigatória a relação fisiológica de “toma-lá-dá-cá” que se estabelece entre os poderes Executivo e Legislativo, e isso independentemente do partido que se encontra no poder.

Kwame Anthony Appiah, diretor do Centro para Valores Humanos da Universidade de Princeton, conta que às vezes lhe questionam com o que ele trabalha, e ele diz que é filósofo. Usualmente, a pergunta seguinte é: “Então, qual é a sua filosofia?” E a sua resposta padrão é: “Minha filosofia é de que tudo é mais complicado do que você pensa.”

Enfim, o convite é esse: que tal dar uma pausa no hábito de dar retruques automáticos, estereotipar o adversário e tratar partido político como se fosse clube de futebol para encarar a complexidade do mundo?

Lembre-se que aquele você tacha de “coxinha” ou “petralha” pode ser menos unidimensional do que você.

por Celsão correto (as vezes me confundo em meus alter-egos)

figura retirada da própria publicação original (aqui)

moroÉ incrível como em duas semanas tivemos muita coisa acontecendo, muita história, muita mesmo!
Nesse momento até aqueles que não gostam de política, que são alheios a telejornais e notícias em rádios e internet, se “chocaram” com os vazamentos, as manipulações e as manifestações dos últimos dias…

Começou com indicações arbitrárias e fracas da justiça.
Mandar o ex-presidente Lula para o aeroporto de Congonhas sem provas suficientes para enviá-lo a Curitiba foi criticado inclusive por ícones da direita, como o jornalista Reinaldo Azevedo.
Também o Ministro do STF, Marco Aurélio Mello, comentou abertamente no programa Canal Livre da TV Bandeirantes (aqui) as arbitrariedades do movimento de Sérgio Moro.
A Globo só faltou cancelar as novelas. Estava trabalhando de casa nesse dia e toda a manhã foi de cobertura ao assunto; ignoraram a programação matutina para filmar o aeroporto de Congonhas, a casa do petista em São Bernardo e repetir a mesma estória, infinitamente.
Foi ruim para a democracia e extremamente arbitrário. O processo de investigações da operação Lava Jato corria (a meu ver) de acordo com a Justiça e seus meandros. Focar numa pessoa simplesmente visando incitar revolta “popular” (ou encher uma manifestação) não era necessário, nem justo.

A mídia seguia sendo tendenciosa (pra variar), pois não mencionava os tucanos do discurso vazado “espontaneamente” do senador (ou ex-senador) Delcídio do Amaral.
Aliás, era de extrema estranheza (pra dizer o mínimo) o vazamento de uma delação de quatrocentas páginas, ainda inválida, às vésperas de uma manifestação em prol do impeachment da presidente. Nem é preciso desconfiar que foi proposital. Principalmente se pensarmos na revista que a publicou.
Alguns juristas inclusive afirmaram que tal depoimento poderia ser invalidado com sua divulgação prévia, dado o sigilo judicial necessário.

Porém, até a condução coercitiva de Lula, só haviam desvantagens legais por parte da oposição e do juiz Moro. Nenhuma acusação “real” ou mandato de prisão contra Lula ou Dilma. A mobilização do dia treze estava garantida, de modo pouco honrado, mas garantida.

Daí veio o mandato de prisão ainda “mais fraco” da justiça paulista e com ela a primeira menção ou boato sobre a nomeação do ex-presidente para Ministro de Estado.
Parecia pura especulação, como fazem as pessoas do mercado financeiro (plantando boatos) para ganhar dinheiro no curto prazo, com quedas da bolsa e aumentos de valores de moedas estrangeiras, como o dólar.
Novamente tendencioso e sem muita razão lógica. Coisa típica de golpistas mesmo, de pessoas que querem confundir e “anarquizar”.

Mas não parou por aí…
A Globo seguia com destaque desproporcional àqueles trechos de delações que a interessavam, forçando artificialmente o processo de impeachment.
A manifestação de domingo ocorreu. Foi pacífica e foi um “sucesso” maior aos que pediam impeachment do que aos que clamavam contra a corrupção, de um modo mais amplo.
Interessantes vaias surgiram em São Paulo para os políticos da pseudo-direita que tentaram “pegar carona” na manifestação. Enquanto que no Rio, Bolsonaro foi ovacionado e carregado pelos manifestantes…
Coisas da democracia e do Congresso Dantesco que temos atualmente.

Então, o Congresso começou a aprontar das suas.
A bancada de oposição, aqui já reforçada pelos ratos do PMDB que pulavam do navio do governo, informou que monopolizaria as votações a temas relativos ao impeachment; que fariam “greve” se esse tema não surgisse e que trabalhariam de segunda a sexta (que coisa) até que esse tema avançasse.
Começou um papo de semi-parlamentarismo (!?!) que assustou pela cara de manipulação do próprio poder.

E eis que ocorreu a nomeação do ex-presidente Lula para Ministro da Casa Civil!
Por quê?
Por que compactuar com os desejos íntimos da Globo (que chegou a errar ao vivo, anunciando a nomeação no dia anterior)?
Por que municiar a direita? Por que entregar “tão entregue” esse mar de argumentos?
A nomeação teria mesmo que ser feita nessa semana?
Não há explicação plausível para mim.
Aceito que o Lula seja um excelente articulista e ajudaria bastante ao compor o governo Dilma. Mas não agora!
Aceito também o argumento que as investigações contra ele não serão interrompidas. Mas mudar o foro, passando para a esfera máxima, é “dar munição ao bandido”, é quase assumir a culpa!
É rasgar a coerência, a distinção, a ética e a noção ao mesmo tempo!

O outro lado do embate, representado pelo juiz Sérgio Moro errou novamente de forma grotesca ao divulgar as gravações realizadas em grampos nos telefones de Lula e da presidente Dilma.
Ele o fez por ter a certeza de apoio popular irrestrito. Mas correndo imensos riscos. Mesmo desconsiderando a posição atual de Lula como Ministro da Casa Civil, há conversas vazadas de uma Presidente da República! Ente máximo do Poder Executivo da Nação!

Ah… como eu queria que os políticos tivessem a hombridade de Japoneses, se afastando ao verem vinculados seus nomes a corrupção e outros escândalos…
Será que é pedir muito?
Eduardo Cunha com as contas estrangeiras não declaradas, Fernando Capez e o escândalo da merenda escolar, Aécio Neves… Todos poderiam de espontânea vontade se afastar dos cargos que ocupam enquanto investigações fossem conduzidas contra eles; e regressar caso nada seja provado.

Enfim… Por quê?
As manifestações repentinas de ontem mostram o começo de um fim.
E agora creio que as manifestações serão mais fortes, a pressão será maior. A Grande Mídia e a classe média que perdeu os privilégios de comprar SUVs financiadas a perder de vista e as viagens ostentativas para Miami se fortaleceu com as ações de ontem…

por Celsão revoltado

figura retirada daqui

P.S.: coloco uma análise “pirata” sobre os abusos do juiz Sérgio Moro, extraída do Diário do Centro do Mundo (aqui).

P.S.2: copio também (pós-divulgação) um trecho de um texto do Facebook do advogado Geraldo Prado (texto completo aqui) analisando o vazamento das conversas telefônicas…
Se pensas, jurista, que é o teu sentimento cívico, patriótico, que te faz ignorar os deveres da Constituição, saibas que por trás de todo gesto violador há o prazer. Te encontras com este teu prazer, essa “súbita impressão de incesto”, mas não invoque o Direito e a Justiça. Eles não estão contigo.

IMG-20160308-WA0035Todos os anos fico “preso” entre a pieguice das mensagens vazias e da lembrança única e a importância histórica da data na luta das mulheres contra o machismo e a desigualdade.
Busquei no histórico dos outros “Marços” desse blog e, como não encontrei menções ou homenagens à data, resolvi fazer essa menção nesse ano de 2016; mesmo que tardiamente.

Mesmo que tenhamos reiteradamente abordado os temas machismo e preconceito contra as mulheres, por exemplo: aqui, aqui e aqui. Nunca é demais lembrar aos homens e à toda a sociedade o quão preconceituosos e machistas eles são.
Por exemplo, durante o dia de ontem, inúmeras foram as mensagens de cunho machista e sexista que circularam nas mídias sociais, como o WhatsApp.
E, infelizmente, não foi com o intuito de refletir sobre a realidade, mas somente para intensificar e perpetuar a discriminação, o status-quo.

O Google, que sempre prepara desenhos e filmes para ocasiões especiais, os chamados doodles, fez um video interessante sobre o desejo das mulheres de hoje (acesso aqui).
Os anseios variam de acordo com o país e poder aquisitivo, naturalmente; mas é impressionante ver que muitas apenas pedem educação ou igualdade!

IMG-20160308-WA0039Como é possível, no século 21, mais de um século após as primeiras celebrações e o grave incêndio na fábrica têxtil americana, seguirmos sem garantir igualdade às mulheres? (mais informações sobre a data no Wikipedia)
Por que vemos mais exemplos de maus tratos no dia-a-dia, que de êxitos de empreendedorismo feminino?
Por que foi necessário criarmos uma delegacia especial para atendimento à mulher e leis como a Maria da Penha, contra a violência doméstica?
E por que nós homens usamos, no dia delas, frases do tipo: “Os outros 364 dias são nossos”?

As mulheres são o motor do Mundo. Só elas são capazes de planejar o todo e atentar aos detalhes. Só elas são realmente “multi-tarefas” e conseguem dar conta de lares e carreiras. Só pra não me alongar demais…

Que sejamos não só piegas em homenagens e romantismo para com as mulheres de nossas vidas…
Que lutemos com elas contra o peso do machismo e do sexismo do dia-a-dia!
Quer um exemplo simples do que fazer? Pare de compartilhar videos e fotos “roubados” ou “vazados”! Sobretudo aqueles que acompanham pedidos desesperados das próprias mulheres, para que não os divulguemos.
IMG-20160308-WA0040Nós devemos isso a elas. E não somente a elas; devemos isso a um mundo mais justo e igualitário!

por Celsão correto

figuras recebidas no WhatsApp no dia de ontem

P.S.: Para quem quiser fazer “mais”, o doodle do Google direcionava ontem para uma página de apoio à causa da igualdade para as mulheres. Além dessa campanha, podem ser encontradas outras reinvidicações e programas de apoio à mulheres de todo o mundo. É possível aderir a campanha e fazer doações, por exemplo. O acesso pode ser feito aqui. (página somente em Inglês)

 

 

Bíblia_Homossexualidade
Os dogmas e valores das religiões estão cravadas no cerne de qualquer sociedade, e são determinantes na formação das crenças e ideologias de quase todo o ser humano, seja ele um beato, ou um religioso praticante, ou um religioso não praticante, ou até mesmo um ateu. A religião não tem somente influência direta sobre aquele que crê na mesma, mas ela também influencia todo o conjunto cultural de toda a sociedade, como os hábitos, folclores, alimentação, artes, relações pessoais e principalmente os “valores”.

Quando o assunto é homossexualidade, por exemplo, a maior resistência ideológica ao direito de ser homossexual, advém das religiões, no caso do Brasil, estamos a falar principalmente do Cristianismo.

Grande parte da argumentação dos preconceituosos e/ou conservadores contra a homossexualidade, se estrutura a partir de passagens e interpretações da Bíblia, ou na pregação de um pastor ou padre.

Desde que passei a me interessar a fundo pelas questões sociais e relações humanas, religião e preconceitos sempre estiveram no topo da minha lista de interesses. Por isso já tive contato com diversas abordagens que relacionam o tema homossexualidade e Bíblia. Porém, recentemente, tive contato com um vídeo do “esperançar” o qual me encantou, devido à forma didática e leve com a qual o assunto foi colocado.

Segue aqui o vídeo:

O vídeo é imperdível, e dispensa maiores comentários. Mesmo assim, copiarei algumas frases de impacto retiradas do mesmo:

“A Bíblia tem livros que foram escritos ao longo de quase 6000 anos, representando culturas, épocas e sociedades muito distintas. Será que a melhor maneira de interpretar a Bíblia é pegar os seus versos, ler literalmente, interpretar literalmente e aplicar literalmente?”

“…ora, naquele mesmo contexto de códigos de conduta, códigos ritualísticos, também é proibido comer carne de coelho, também é proibido plantar duas sementes distintas conjuntamente…”

“…e o texto que diz que a mulher flagrada em adultério deve ser apedrejada? E o texto que legitima e reproduz, por exemplo, a escravidão? E o texto que diz que a mulher deve ficar em silêncio na igreja, porque ali é o lugar de fala do homem?
Tomar a Bíblia de forma literal, desconsiderando os contextos culturais e históricos, faz com que a gente incorra em vários equívocos.”

“Lamentavelmente, vamos reconhecer e admitir, com tristeza no coração, a Bíblia já foi utilizada para legitimar a escravidão, o Apartheid, a colonização genocida das Américas, a subordinação das mulheres, e sempre em nome dessa ‘fidelidade’ ao que está escrito, e ponto final!”

“…talvez a melhor pergunta não seja: o que está escrito na Bíblia? Talvez a melhor pergunta seja: como eu leio a Bíblia?”

“…lendo a Bíblia a partir de uma narrativa geral que aponta o Deus revelado em Jesus, eu não encontro nenhuma verdade superior ao amor!”

* O vídeo também pode ser encontrado no youtube, por exemplo clicando AQUI

* Para aqueles que gostariam de aprofundar no assunto, indico o documentário “Bíblia e Homossexualidade: Exegese e Hermenêutica”. Pode ser acessado clicando AQUI

por Miguelito Filosófico

figura retirada do documentário

20160104_091753Vivemos a história todos os dias.
E na Argentina, que elegeu recentemente o direitista Mauricio Macri, podemos e poderemos observá-la bem de perto.

Nos primeiros meses de governo, Macri demitiu 12 mil empregados públicos e colocou em revisão outros 60 mil contratos.
Há acusações de perseguição política por parte dos demitidos e de “Kirchnerismo” por parte da vice-presidente Gabriela Michetti.
O fato é que, mesmo que todos os despedidos sejam militantes de esquerda, demissões em massa certamente não ajudarão o político a ser popular entre os mais carentes; e tampouco auxiliarão na importante soma dos “prometidos” um milhão e meio de novos postos de trabalho. Destacando ainda que, além dos novos postos de trabalho, o empresário-direitista prometeu também “pobreza zero” em campanha.

Além das demissões e revisões contestadas, Macri revogou a lei de médios aprovada por maioria do congresso argentino em 2009. Essa lei visa limitar o controle da mídia por grandes corporações e oligopólios familiares nesse ramo.
Ou seja, o movimento neo-liberal argentino tem a princípio mais cara de ditadura que a esquerda peronista.

Pensando num mundo ideal e perfeito, o presidente Macri pode ter sucesso. Desinchar a máquina pública, movimentando os trabalhadores para a iniciativa privada, dinamizará a economia trazendo dinheiro “novo”, ao mesmo tempo que deixa leve a máquina estatal.
O primeiro problema é jogar uma massa revoltada (e, muitas vezes, de oposição) nas ruas e na Argentina. Sem ter empregos garantidos, certamente essa massa descontente irá protestar.
O segundo é que retomadas econômicas são, geralmente, lentas. Mesmo que haja retomada de confiança, muito do dinheiro investido no país durante essa retomada sera especulativo. Capital que não gera emprego.
Ou seja, investimentos no país provenientes de empresas privadas, que geram emprego, resolveriam (ou acelerariam) os dois pontos. O problema é conseguir tais investimentos num curto espaço de tempo.

trabajos_jpg_1718483346Tive a sorte de viajar para o país do “novo milagre latinoamericano” no final do ano passado.
Acompanhei ao menos três protestos diários, ora por educação, ora por empregos e melhores condições, ora pelas falhas no fornecimento de energia elétrica.
Falando nisso, talvez seja hora de admitir que admiro muitos aspectos dos “hermanos”. E as principais delas são o nacionalismo e a tenacidade/perseverance na luta.
Vi pichações na rua contra o presidente Macri, antes mesmo que as demissões fossem anunciadas (primeira figura do post).
E conversei, como de costume, com diversas pessoas sobre política e as mudanças esperadas. É curioso, pois nesse ponto há muita coincidência com as opiniões que vejo no Brasil atual.
– Os apoiadores de Macri repetem a frase “não dá para piorar”, como se corrupção acontecesse somente em governos de esquerda e como se o governo dele não fosse formado por pessoas.
– Os peronistas (simplificando a classificação), assumem que as medidas do governo não trouxeram o desenvolvimento e que houve piora industrial, com consequente “achatamento” da classe média. A “magia social” aproximou pobres da classe média, mas não deu chance para a classe média enriquecer. Alguns desafiam Macri com: “vamos ver o que ele consegue fazer!”
Algo próximo do que acontece por aqui, pois muitos dos que votaram e acreditaram no PT “abraçaram” o discurso da oposição e não mais acreditam numa retomada da economia.

17877586Retomando às ações intepestivas do Macri, ele também decidiu interromper os subsídios governamentais presentes nas contas de energia elétrica e gás. As contas aumentaram em até 300% para o gás (aqui) e 700% para a energia elétrica (aqui).
Quem será que mais sofrerá com esses aumentos? O dono da mansão ou o funcionário público recém-demitido?
O perigo de prejudicar a camada mais baixa da população no afã de re-industrializar o país é altíssimo e está sendo ignorado. E arrisco a dizer que propositalmente.
O problema dele é que o povo seguirá nas ruas, promovendo protestos e pressionando o governo.

O que você acha que acontecerá com o governo Macri?
Reerguerá a Argentina levando-a de volta ao protagonismo regional e mundial ou sucumbirá à pressão popular, trazendo de volta ao poder o federalismo de esquerda?

Qualquer que seja o resultado, será interessante também observar os indicadores sociais e as mudanças na mídia em nosso país vizinho.
Quiçá tenhamos tempo de refletir e evitemos Trumps e Bolsonaros por aqui!

por Celsão irônico

figuras retiradas daqui, daqui e de arquivo pessoal

P.S.: para quem quiser ver um vídeo-resumo interessante sobre o começo do governo Macri (em espanhol), clique aqui.