Archive for April, 2019

É uma expressão que aprendi no Butão.
E é a melhor resposta que se pode dar quando alguém pergunta como estamos. Arranca sorrisos sinceros e surpresos.

Tive a oportunidade de visitar o Reino do Butão ou Terra do Dragão há dois anos.
Me intrigava há bastante tempo as alcunhas de “reino da felicidade” e de “país da alegria”, juntando ao título oficialmente recebido (não lembro a fonte, faz muito tempo) de país mais igualitário do mundo.

Ao chegar, num voo que pousou pouco antes das sete da manhã, fui recebido pelo “meu” guia e conheci também o “meu” motorista; companheiros obrigatórios da jornada de todo turista que visita o país.
Tsheten, o guia, falava sete idiomas: inglês, japonês, hindi e outros quatro dialetos ou idiomas locais, incluindo o butanês oficial. O sorriso de boas-vindas no aeroporto de Paro engrandeceu a satisfação que sentia naquele momento.

A caminho do templo (ou Dzong) onde acompanharia o Festival Tsechu, que por extrema sorte presenciaria, fomos surpreendidos pela comitiva real, que deixava o local no carro oficial.
O rei, extremamente querido e popular por lá, é visto em meio a populares em desfiles e festividades. Ouvi mais de um relato de que ele sempre toma lugar no “meio do povo”, conversa com muitos e participa da festa como se dela fizesse parte real-mente. 😀
Percebi, nesse momento, que a minha empolgação não suplantaria o meu criticismo…

Ainda sobre o rei e seu comportamento: seus súditos, como estão acostumados a presença do governante, não se aglomeram em volta do mesmo. Mas fazem questão de cumprimentá-lo quando passa e sorrir. Esse é o mandamento: sorrir ao cruzar com o rei!
Pode parecer piegas, forçado e antiquado. Mas quando nos avisaram que o rei estava a caminho e passaria por onde estávamos indo, os carros pararam, todos desceram (eu inclusive) e nos postamos a beira da estrada “a sorrir”. A ideia deles era (ou é) mostrar ao governante como são felizes ao passar por ele…
Fui impingido a guardar a câmera fotográfica durante aquele desfile real. Também devo confessar que achei estranha a postura quase militar das pessoas na beira da estrada. Mas, como estava disposto a viver a cultura local e, sobretudo, aprender. Aquela poderia ser considerada a primeira aula de respeito.
(a propósito, encontrei aqui um descritivo interessante sobre o Tsechu de Paro)

O Butão é um país essencialmente rural. A grande maioria dos seus habitantes vive da própria agricultura e em zonas de difícil acesso.
Há controle dos turistas que visitam o país. Os vistos são controlados e só podem ser emitidos por empresas de turismo locais. O inteligente plano é manter a “felicidade” na simplicidade da vida, segundo os preceitos do budismo, religião oficial do Butão.
Ou seja, o turismo é, propositalmente, uma atividade que gera um alto valor econômico, com baixo impacto social.
Não se encontram locais vendendo souvenires nas ruas. Algo inimaginável nos grandes centros do ocidente.

Se por um lado há “proteção social” controlando o turismo, percebi certa concentração de riqueza, se é que podemos classificar dessa forma, nos que o exploram.
O guia, depois de muitas perguntas capciosas e insistência de minha parte, assumiu que o dono da agência lucra bem mais que ele(s), empregado(s). E que não conseguiria, mesmo que quisesse, abrir a própria agência.
Não há curso oficial de idiomas estrangeiros por lá. E os que conseguem um “padrinho” e aprendem fora, sobretudo línguas “diferentes”, como o italiano e o francês, passam a ganhar maiores salários.
Senti uma ponta de “inveja” nele quando passamos pelo único guia que fala espanhol de lá. Por ser único naquele momento, o rapaz tinha agenda sempre cheia e “disputa” de grupos por suas explicações.

A principal fonte de divisas do Butão é a venda de energia hidrelétrica gerada pela usina Tala, energia exportada quase que totalmente para a India.
Com a intensificação do contato junto ao país vizinho vieram, inevitavelmente, os profissionais que participaram da construção e a maior parte dos visitantes, dada a dispensabilidade do visto de entrada. A rúpia indiana é uma moeda em circulação no Butão, a única aceita além da oficial: o Ngultrum.

Notei que os butaneses, de modo não declarado, “ganharam” uma classe trabalhadora para os serviços que ninguém quer fazer.
Rompida a alça da minha mochila, insisti para acompanhar o guia até “a oficina que conserta tudo baratinho”. Era uma porta escondida, que abria para um ambiente apertado, onde indianos trabalhavam em sapatos, tapetes e bolsas.
A impressão que ficou foi a de castas diferentes. Mesmo sem detalhes quanto a salários e condições destes estrangeiros e não-budistas na terra da felicidade.

Outra separação impossível de ignorar aos acostumados à desigualdade social está na condição dos hotéis e restaurantes.
Tudo é reservado pela agência de turismo pré-contratada, incluindo hotéis três estrelas e restaurantes. Mas os restaurantes dos “turistas” apresentam ambientes e menu diferentes para guias e motoristas. E em alguns hotéis é possível perceber, inclusive, a segregação entre esses dois profissionais!
Sempre que eu insistia para que o guia e o motorista participassem da refeição ao meu lado, eu conseguia, no máximo, um brinde com suco e um prato de entrada compartilhado. Depois disso eles saíam e faziam a refeição noutro local.

Entretanto, apesar de todas essas críticas que compartilho, foram muitos os exemplos surpreendentes e curiosos, envolvendo cidadania e civismo.
Por exemplo, o Butão proibiu o cigarro em todo o país. Não é comercializado e há multa para o consumo em público. Como eu já havia lido a respeito e sabia do fato, apontei com o dedo quando vi um jovem fumando e o guia, foi comigo até o “infrator” e discorreu sobre a proibição e sobre os malefícios do fumo ao meu lado.
Depois ele me confessou que já havia fumado. Mas que as regras devem ser respeitadas…

Noutra ocasião, em frente a um caixa eletrônico, um tanto raro no país, vários guias pediam desculpas aos turistas que estavam na fila. Primeiramente pela demora da mesma e logo após pelo nervosismo fora do normal (para eles) de um cidadão que reclamava do serviço prestado pelo banco.
A pessoa estava exaltada, mas sequer gritava. E falava na língua local! Impossível de compreender por todos os turistas que estavam ali.
Mesmo assim o incidente gerou uma “vergonha coletiva” por parte dos guias e um espanto geral da parte de nós turistas, que tentávamos entender o porquê de tamanha culpa para um lapso de outrem.

Em meio a meditações e sorrisos, ficou claro que a desigualdade, mesmo que pequena e controlada, gera sentimentos humanos de difícil tratamento.
E que, tampouco, existe um país ou povo perfeito. Existem os que se esforçam para dirimir diferenças e os que as discutem.
O que já representa um enorme passo…

por Celsão correto.

figura de arquivo pessoal

E la vamos nos #1Este site que agora leem, que muito prezo (prezamos, pois digo também em nome do Miguel e de alguns amigos e leitores cativos) estava digamos “abandonado”.

Foi parecido com aquele sentimento descrito no post “Letargia”, de agosto de 2017, (link aqui). O período pós-eleição não tem sido produtivo para mim.
Não é uma desistência, mas uma preguiça (admito sem orgulho de mim mesmo).
Conversando com amigos recentemente, Miguel incluído, é um modo de evitar o “eu te disse” se vierem críticas de eleitores do Bolsonaro à ações do próprio. Uma maneira [minha] de evitar o embate e a guerra depois de tanto “sangue virtual” derramado.

Mas… um primo prega que só se muda algo participando ativamente desse algo. E só se muda alguém de dentro para fora.
Não que anseie mudar opiniões ou gerar mais arrependimento nos votantes do atual presidente. Sei que houveram muitos que tinham boas razões para evitar Haddad e PT. Sei que muitos, também com inúmeras razões plausíveis, evitaram o Bonossauro (permitam-me o trocadilho) e fizeram campanha contra o mesmo.

Pois bem… Preguiça assumida.
Ideias não deixaram de surgir. Seguem povoando minha mente e gerando inquietude.
Assuntos, muito menos, surgem a todo momento e seguem incomodando, revoltando, tirando a paz.
Tem de seguir assim! Ou deixaremos de acreditar no Mundo e na humanidade…

Adiei a “volta”, pois não queria voltar criticando o governo.
Mas o marco de 100 dias, apesar de simples soma “redonda”, gerou dois artigos interessantes, daqueles “de fazer pensar”, do Josías de Souza (aqui) e do Reinaldo Azevedo (aqui). Ambos valem a leitura.

Para os mais radicais, de ambos os lados, tenho a dizer que não podemos ainda comprar armas no Makro ou Walmart; não houve perseguição aberta às minorias; nem as mudanças temerosas na direção de um Estado totalitário… E que sigamos assim!
As más notícias estão nos assuntos secundários: balbúrdias, trapalhadas, twittadas e presepadas dos filhos, da equipe de governo e do próprio presidente. Tirando o foco de assuntos que já poderiam ter sido encaminhados, para dizer o mínimo.

Como ufanista que sou, esperava de um governo militar e igualmente patriota…
– a valorização do Nacional (produção, indústria, povo e [por quê não?] forças armadas) e não a valorização de potências econômicas e militares estrangeiras
– o foco na educação e no conhecimento como base para um progresso contínuo e a longo prazo, diferente de negociatas nas nomeações do MEC
– esperava trabalho incessante e compulsivo, com foco e planejamento; não lives em redes sociais e twitts nocivos e danosos. Disfarçando a falta de articulação política.

A lista seguiria, mas, deixemos para outros posts.
Bem vindos de volta a esse espaço “E… lá vamos nós!”

por Celsão “ele mesmo”.

figura recebida como meme via WhatsApp. Origem desconhecida…