
Neste dia, em 2001, o mundo civilizado pediu paz e começou uma guerra que já dura 15 anos.
Foi bonito ver líderes mundiais, comovidos, uníssonos, circunspectos, solidários, pedindo, implorando e até mesmo impondo a paz. Mas os pedidos de paz foram encaminhados para o endereço errado. Não é o fanático que nasceu num gueto, nem o miserável guerrilheiro desdentado que resolveu ser terrorista, o grande fomento de violência.
Ou vocês acham que os miseráveis, os excluídos, os sem-terras, os repatriados, os espoliados, os humilhados e os condenados a viverem sem razão, barrados na grande festa da prosperidade que o mundo globalizado e neoliberal promove para 20% da população mundial que desfruta dos bens e serviços que a modernidade propiciou não querem a paz?
Os pedidos de paz deveriam ser direcionados para os banqueiros que não pagam impostos, aos latifundiários que escravizam e matam camponeses, aos laboratórios e aos planos privados de saúde que fazem a regra do jogo, à televisão com sua programação de violência e mentira. Os pedidos de paz deveriam envergonhar os governantes desonestos, o administradores corruptos, os juízes comprometidos; deveria mudar os “bispos” com letras minúsculas que roubam dízimo de operárias e operários, sensibilizar a polícia barbárie que assusta mais do que acalma.
A retaliação poderia atingir também o protecionismo, os embargos econômicos, a remessa de lucros, a mão de obra barata das multinacionais, o descaso com o meio ambiente, a submissão de governantes pouco éticos e a arrogância dos xerifes da terra.
É claro que até esses querem a paz, mas são eles que fabricam a miséria e a violência. Se quisermos realmente a paz deveríamos tentar distribuir a riqueza do mundo, estender a todos os benefícios dos avanços tecnológicos; partilhar as descobertas científicas, sonhar junto a utopia de uma sociedade justa e igualitária com bom senso.
Não existe violência (ou quase não) onde há prosperidade.
Não há prosperidade sem justiça social. Sem justiça social, não há nada, não há nada, não há nada. Só radicalismo, fundamentalismo, lamentações e entulho arrastado.
por Raul Filho
figura retirada daqui