Terrorismo é terrorismo quando aplicado a minorias?
Acho que essa é uma das perguntas polêmicas que o senhor Donald Trump se fez logo que tomou ciência do atentado do final de semana contra gays que estavam numa em Orlando.
Ora… o combate ao terrorismo é uma bandeira de todo e qualquer pré-candidato à Casa Branca nos últimos anos. Acredito até que seja tema obrigatório nos debates, após o onze de Setembro de 2001.
E muitos poderiam afirmar que extremistas do Estado Islâmico apenas reforçam o discurso bélico da extrema direita, ou seja, reforçam uma candidatura como a de Donald Trump.
Se Trump fosse presidente, talvez as duas ou três “entrevistas interrogatórias” feitas pelo FBI ao atirador Omar Mateen tivessem terminado em prisão preventiva. Talvez os Estados Unidos vivessem num constante Estado de Vigilância desgastante e opressor. Mas talvez houvesse realmente algum êxito na prisão dos milhões de muçulmanos; ou não-protestantes, se expandirmos a provável rotulação e discriminação em relação a religião, que Trump prega contra os “diferentes”.
E quanto aos gays?
Certamente não haveria uma boate famosa chamada Pulse. Ou ao menos as festas na boate não teriam divulgação na internet. Seriam festas de um submundo acanhado, de um grupo perseguido.
Se estendermos a análise à festa latina, celebrada naquela noite, a situação pioraria, pois os latinos também seriam perseguidos por Trump; mesmo quando héteros, brancos e protestantes!
E o que fazer quanto às armas, vendidas livremente em boa parte dos Estados Unidos?
Elas são importantes para que se garanta o direito (individualista) da liberdade e da propriedade. Inerentes a todo americano pleno de sua cidadania (risos).
Talvez a solução fosse vender armas somente a americanos brancos, sem antecedência imigratória até a terceira geração. Já que o atirador e terrorista Omar Mateen era americano, nascido em Nova York!
O que será que mais dói na mente de um extremista de direita? Na mente de um Donald Trump, de um Bolsonaro, de um Malafaia…
Os gays que se beijam em público, se casam e decidem adotar e educar filhos?
Os muçulmanos que adoram “outro Deus” e distorcem uma desvirtuada família e uma religião “perfeita”?
Os outros forasteiros estrangeiros, que, na maioria das vezes, distorcem o próprio sentido do “sonho americano”, do individualismo típico, enviando dinheiro a seus países de origem ou mesmo trazendo os familiares para compartilhar o mesmo teto e condições?
Os que usufruem de assistencialismo?
E ainda mais fundo: qual seria a escolha de Trump (ou de Bolsonaro) numa eventual consulta policial no meio da madrugada, após as primeiras notícias sobre o atentado?
Talvez explodir toda a área. Trágico, não?
São perguntas de intrincada análise.
Da mesma forma que são muitos os “se’s” levantados aqui. Condições que espero nunca serem atingidas.
Para concluir, quero trazer para o Brasil e fugir (talvez muito) do tema “Terrorismo”…
Um dos fatos a pensar é que a crise política que vivemos pode trazer a cargo uma crise de representação: o povo percebendo que não é representado por nenhum político ou partido.
Tal crise, reforça muitas vezes uma fragmentação: podem aparecer muitos candidatos diferentes, como na eleição de 1989, que teve vinte e tantos candidatos (aqui).
E, em meio à estas “forças divididas”, pode ocorrer o surgimento de um Bolsonaro, de um Enéas, de um Tiririca, trazendo a negação do atual, a insatisfação. E nessa insatisfação pode-se colocar no poder alguém que seja contra gays, negros, umbandistas, refugiados do Haiti, pobres…
E usando talvez o nome de um Deus distorcido. Usando desculpas armamentistas. Gerando violência com aumento de prisões e redução de maioridade penal.
Um governo que talvez tomasse ações em nome de uma soberania, de uma “liberdade” que desnudada seria apenas a manutenção do status-quo de uma elite (política e apolítica).
por Celsão correto
figura retirada daqui.