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É Carnaval

Posted: February 9, 2018 in Comportamento, Outros
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“A maior festa do mundo” como é comumente chamada traz também um enorme e lamentável número de abusos.
Aqui foco em preconceitos e assédio. E não nos também conhecidos e esperados abusos de álcool, drogas e da falta de cidadania.

Um pouco tarde para que sirva de “alerta” pré-carnaval, pois o mesmo já começou com os blocos de rua e começa “oficialmente” nessa noite, compartilho uma excelente ideia do marketing da ambev (ou AB-InBev se pensarmos no grupo multinacional): eles pegaram o mote do “redondo”, símbolo da cerveja e expandiram para carnaval redondo, frases redondas, papo redondo… fazendo alusão ao “correto”.

Mas se engana quem pensa que parou nos comerciais de televisão com palavras “quadradas”  (o oposto de redondas pra eles) saindo da boca dos interlocutores, a ambev foi além e promoveu vídeos com Youtubers, promovendo a cerveja, é claro; mas promovendo um papo aberto e direto sobre rótulos, machismo, preconceito, homofobia, entre outros.
Os publiposts ou publi-vídeos, são vídeos pagos pela empresa. Contém em sua maioria a hashtag #paporedondo e podem ser buscadas no Youtube com esse termo de busca.

É tudo “um tanto” óbvio.
Eu até queria dizer que é tudo “muito” óbvio. Mas sabemos que não é redondo para todos.

O “não é não”, por exemplo, foi abordado por muitos Youtubers.
Talvez por saberem que o assédio é grave e está presente.
O pessoal do Manual do Homem Moderno começa o vídeo falando que qualquer abordagem que pareça um assalto ou arrastão, que lembre um ato criminoso, é errado. É assédio!

E tem de tudo, tem vídeo da Tia Má, negra e mulher, falando do preconceito dentro da fantasia da Negra Maluca.
É antigo, é preconceituoso e insulta.
É como se a cultura negra fosse resumida e estereotipada numa personagem de Carnaval. Que invariavelmente estará ou se fingirá de bêbada, ou de frívola.

Na mesma onda, estão outros comentários dentro das dicas da Maira Medeiros, da Hel Mother e da JoutJout.
Todos são recomendáveis, especialmente o da JoutJout. (minha preferência está mais na didática usada por ela. A ideia de DESENHAR as dicas foi excelente)
Novamente parece óbvio, mas fantasias que podem ofender culturas devem ser evitadas, mães podem curtir carnaval, as pessoas (especialmente as mulheres) devem se vestir como gostariam de se vestir, as opções sexuais devem ser respeitadas, etc…

Não esquecendo de citar o Muro Pequeno e a Lorelay Fox que exploram a temática da homofobia pela ótica própria. Algo que todos os “quadrados”, incluindo não só machistas deveriam decorar!

Não queria fazer o meu publipost, mas acabei fazendo.
Não por ter recebido algo da ambev, do blog, ou de outrem. Mas por saber que as companhias nada fazem por acaso e quase nada de boa intenção.
Aqui está claro pra mim que eles buscavam atingir a fatia da população mais jovem que se declara alheio à TV e ao rádio, meios de comunicação um tanto ultrapassados sob sua ótica. Focando em Youtubers já com seguidores e vídeos muito acessados, há a certeza de ampliação do atingimento da propaganda.

Mas… se é pra se vender, como diriam os mais radicais; por que não se vender com um propósito maior e bem construído ao fundo.
No caso, o propósito de “Carnaval melhor” ou “Brasil evoluído”, me pareceu justo o suficiente.

por Celsão correto.

P.S.: figura retirada do vídeo da JoutJout, propositalmente cortado com a caixa de Skol ao fundo.

Se quiserem ver todos os vídeos citados em sequência, acessem aqui.
Poderia baixar e publicar, mas acredito que ficaria um tanto chato…

 

FestaXPobrezaO Brasil parece estar chocado com a informação de que a escola de samba do Rio de Janeiro, Beija-Flor de Nilópolis, foi patrocinada pelo ditador da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, com a quantia de R$10 milhões.

O que eu não entendo é o seguinte: por que tanto espanto?

Nós, adultos, já passamos da fase de nos eximirmos de culpa com a desculpa de falsa inocência ou desconhecimento dos fatos.

Olhem para aqueles carros alegóricos do Carnaval da Sapucaí. Quanto vocês imaginam que custa o projeto e construção de um carro destes? E as fantasias? (sei que muita gente “compra” a própria fantasia, mas isso não é regra, pois muitas fantasias a própria escola “banca”).

Óbvio que, para construir um desfile com chances de vitória, necessita-se de fortunas. E por mais que os participantes, integrantes, organizadores, façam suas próprias doações, isso está longe de cobrir as despesas. Ou seja, de onde vem o dinheiro? Do céu?

Não gente. O dinheiro vem de patrocínios, muitas vezes, de grandes empresas. E qual a grande diferença de ser patrocinado por um ditador da Guiné, ou pela Coca-Cola, ou McDonalds, ou Nike, ou Apple, ou Samsung, ou Alstom, ou Itaú, ou Burger King, ou Shell, ou Volkswagen, ou Kalashnikov?

A diferença é que, se o dinheiro vem diretamente do ditador, então fica clara a conexão deste dinheiro com a barbárie. Agora, se o dinheiro vem de uma grande empresa de petróleo, armas, indústria alimentícia, vestuário, tecnologia, bancos, é primeiro necessário pesquisarmos (mas a minoria se interessa por pesquisar, ler, se informar) para então percebermos como essas empresas fazem negócios sujos pelo mundo, desde um simples cartel com pagamento de propina a políticos e empresários, até a exploração de trabalho escravo, assassinatos, contaminação química em países de legislações degeneradas ou pouco desenvolvidas.

Mas no fim, é a mesma coisa.

E é ainda mais inocente pensarmos somente no desfile das Escolas de Samba, e esquecermos do resto das alegorias existentes no mundo, que servem para satisfazer nossas ostentações.
No futebol não é diferente, ou então, como é possível comprar jogadores por algumas dezenas de milhões de dólares? Como é possível sustentar um time que paga, em média, 200 mil dólares de salário por jogador por mês!? Já pensaram o que significa ganhar 200 mil dólares por  mês? Existe alguém no mundo que precisa ganhar isso para ser feliz? Qual a parcela de influência disso na desigualdade social e na fome do mundo?
Ou seja, é gente ganhando dinheiro demais, desnecessariamente, e muitas vezes, dinheiro sujo.

Escolas de Samba, futebol, BBB, prêmio do Oscar, prêmio Grammy, basquete na NBA, festa de réveillon da Globo, propagandas distribuídas em novelas globais e em filmes, e “circus” como os programas do Luciano H. e da Regina C.. Até que ponto tais eventos, esportes, programas, ultrapassam o limite de proporcionar diversão e alegria, e invadem a esfera da busca ilimitada por dinheiro, gerando barbáries mundo afora?

Fala-se muito de “Pão e Circo” quando o assunto é política. Mas o verdadeira tática de “dominação” pão e circo, aparece no nosso dia a dia, e ela só existe, pois há demanda/consumo, ou seja, VOCÊ, EU, NÓS, aceitamos, consumimos, e assim, corroboramos.

Se passarmos a ser mais exigentes e seletivos com nossos lazeres, a oferta também começa a melhorar em qualidade.
Novamente, parece que o segredo e solução está somente em um lugar: VOCÊ!

por Miguelito Nervoltado

P.S.: Complementando o texto, segue um excelente video e análise dos fatos pelo Bob Fernandes (aqui) e a declaração do sambista mais famoso da escola sobre o financiamento (aqui)

figura retirada daqui