Posts Tagged ‘crime’

Já faz mais de uma semana.
E eu não poderia deixar de comentar aqui o caso.

Pra começar, eu gostaria que, independente de ter acontecido com uma mulher, negra, lésbica e de esquerda, a execução bárbara, amplamente noticiada, chocasse a todos!
Mas… dado o planejamento dos detalhes do atentado (a área do crime não possui câmeras de monitoramento), a frieza e a precisão da execução (tiros certeiros na cabeça), é difícil não relacionar ao posicionamento politico da vereadora Marielle.

Quando ouço nas manchetes, repetidamente difundidas na semana: “Polícia ainda não tem pistas dos assassinos de Marielle Franco”, me acomete a incerteza: estaria a mesma polícia, denunciada pela vereadora, investigando o crime?
Quero crer que não.
Ou melhor, é o mínimo que se espera em um caso que atingiu repercussão internacional, pronunciamento no parlamento Europeu, denúncia do Brasil por parte de cem ONGs à ONU (aqui). O mínimo é que se busque uma investigação independente, por órgão federal ou mesmo por empresa privada especializada.

Outra coisa que intriga e instiga é saber que Marielle era a relatora da comissão parlamentar que avaliava a intervenção militar carioca.
Negra, ex-favelada, defensora dos direitos humanos, como relatora de uma intervenção talvez travestida de campanha eleitoral? Perigo iminente!
É claro que mudar a relatoria do PSOL para o MDB, da esquerda para o “centrão”, beneficia os proponents da mesma, antes mesmo do relatório concluído. Beneficia o governo do Rio (em todas as esferas), beneficia o Governo Federal que quis/quer usar a intervenção para tirar o foco da corrupção e das reformas que se diz interessado…

Relembrando também que militarismo, historicamente, não combina com defesa de direitos humanos, sobretudo a negros e pobres.
Um argumento bradado nas redes sociais por aqueles que defendem tais intervenções é dizer que Marielle “defende bandidos”. Emendando um sarcástico comentário no sentido: “foi ferida pela mão que alimenta”.
Mas quem convive com a periferia das grandes cidades, sofreu na pele ou conheceu os abusos policiais recorrentes, sabe que não é simples mimimi. A truculência e o despreparo dos que “protegem” muitas vezes encontram o medo e condições paupérrimas dos “protegidos”, tornando-os “suspeitos” automaticamente.
Marielle criticava essa abordagem violenta da polícia. E destacava que a truculência havia piorado no curto período pós-intervenção…

A corrente do “bandido bom é bandido morto”, do fascismo disfarçado de opção política, difundiu algumas notícias sobre a vereadora.
Família, amigos e seguidores politicos organizaram uma página que contrapõe tais afirmações (link aqui).
Usei a página para conhecer um pouco sobre os projetos e as ideias de Marielle. Afirmo que concordo com quase tudo o que vi ali

Concluindo, é triste saber que uma “voz das minorias” por essência e experiência foi calada.
Não vou usar nenhuma hashtag #MariellePresente, #NãoFoiAssalto ou #MarielleVive.
Mas ao menos sigo revoltado, atordoado e chocado com o crime bárbaro da execução da vereadora. E espero ter passado, de alguma forma, minha revolta adiante…

por Celsão revoltado 

figuras retiradas daqui: reunião que Marielle participou antes de ser assassinada. “Jovens Negras Movendo as Estruturas”, que perderam um de seus pontos de apoio.
A segunda daqui, registro do UOL da Avenida Paulista no dia seguinte ao assassinato de Marielle.

 

Começo o post explicando o título.
Ele veio de uma frase proferida por Torquato Jardim, atual Ministro da Justiça, em entrevista concedida à Folha no último dia 11.
O Ministro se refere ao Presidente Michel Temer e o imbróglio das investigações em que este está enredado.

Mas por que um cidadão, quer seja político, pedreiro, Presidente, porteiro, precisa de tratamento diferenciado?
Talvez se não estiver em pleno uso/domínio de suas faculdades mentais… Ou se possuir algum desvio psicológico, como transtorno de conduta… Ou ainda se sofrer de doença mental comprovada…
Penso que todo cidadão fora de exceções como as listadas, deva ser tratado com igualdade perante a lei. E um cidadão letrado e culto, promotor de justiça aposentado e professor, político de carreira, se inclui naturalmente nessa lista.
(não entrarei no mérito aqui do poder financeiro, sabido elemento que muda totalmente a equidade de justiça e julgamento)

Outra exceção, já gozada pelo Presidente e por outros políticos quando em mandato, é o foro privilegiado, ou “julgamento especial”, feito na última instância da Justiça brasileira, o Supremo Tribunal Federal.
E é exatamente esse foro que abriu o inquérito para apurar a alteração do decreto dos portos.
É o relator desse inquérito, Ministro Luis Roberto Barroso, que conheceu os fatos, rechaçou a declaração de resultado antecipado do ex-diretor-geral da Polícia Federal Fernando Segóvia e requereu a quebra de sigilo ainda “estudada” pelo investigado Temer.

Retomando o tema… se existe razão para que seja solicitada a quebra de sigilos bancário, telefônico, fiscal, etc., a mesma deve ser acatada.
Sobretudo se existem indícios de favorecimento a empresas, recebimento de propinas e outras falcatruas. Negar-se a fornecer os dados é, bem da verdade, aproximar-se da culpa.
Embora reconheça que algumas “áreas cinzentas” do Direito sejam complicadas, como: não poder gerar provas contra si mesmo, que o ônus da prova seja da acusação…

Daí a dizer que “o presidente merece tratamento diferenciado em comparação aos outros cidadãos em caso de corrupção” – link da notícia aqui – é blindar demasiadamente “o chefe”, ocupante de um cargo que deveria ser irrepreensível (principalmente!) nesse quesito: corrupção.
Tão inócuo e desesperado quanto, foi a declaração de outro subordinado Ministro, Carlos Marun, da Secretaria de Governo.
Ele aumentou o tom de voz para mostrar indignação, exagerou na interpretação clamando por justiça e independência de poderes, chegou até a aventar apresentar um pedido de impeachment; como se errado estivesse o Ministro Luis Roberto Barroso, do STF (aqui).
Enfim… Marun manteve o pão-e-circo midiático e o jogo emedebista. Dramático e patético.

Mas… o que será que descobriríamos nos dados bancários de Michel Temer de 2013 a 2017?
Se há receio de exposições de gastos familiares e de pequeno montante, o que será que escondem Marcela Temer e o pequeno Michelzinho?

Talvez descobramos supérfluos incompatíveis ao trinômio “bela, recatada e do lar”.
Talvez saibamos o quanto se pagou aos advogados no caso do hacker que invadiu o celular da primeira dama.
Ou talvez veremos depósitos feitos diretamente a Alexandre de Moraes, hoje Ministro do STF, mas secretário de Segurança Pública à época.
Há ainda possibilidade de encontrarmos o pagamento do suborno, mote da ação… (aqui para quem não lembra do caso)
Após a censura feita aos meios que divulgaram o conteúdo do vazamento, não me espantaria se o extrato de Temer viesse repleto de dizeres como o “informações protegidas por sigilo, nos termos da legislação, para garantia da segurança da sociedade e do Estado” da figura ao lado.

Sem precisar ampliar muito o alcance do “desconfiômetro”, talvez tenhamos operações de transferência dos/aos assessores/amigos: Rocha Loures e Coronel João Lima. Ambos suspeitos de intermediar propinas e ambos com quebra de sigilos telefônico e telemático (emails) decretado.

Me pergunto até quando teremos encontros fora de agenda oficial, quer sejam noturnos furtivos (aqui) ou nos finais de semana (aqui).
Me pergunto também se a Justiça, no sentido maiúsculo de princípio moral, prevalecerá.

Talvez só o tempo possa responder à essas inquietudes.

por Celsão correto

figura retirada daqui e do portal Transparência aqui

imagesCA7OKUSNMeu principal ponto é que este é um caminho sem volta.
Creio sinceramente que, após aprovada a redução da maioridade penal para 16 anos, alguns falarão sobre 15 ou 14. E o que nos garante que aprovada essa outra redução não se começaria a falar em 13 ou 12 anos?
Afinal, com tanta informação disponível na internet e desenvolvimento social apoiado pela escola, toda criança de 12 anos é capaz de discernir sobre certo e errado e, consequentemente, ser culpada judicialmente por isso. Não é mesmo?

Espero ter passado o “choque” que tive de modo mais exato possível.
É triste imaginar que existam pessoas que defendam prisões indiscriminadas, especialmente de jovens. Hoje, um menor no Brasil só pode ficar três anos detido. Mas não há distinção de tipo de crime. Um furto de pão pode levar a três anos de Febem (ou Fundação Casa) e um assassinato ou latrocínio também.
Uma alternativa a discutir seria a tipificação dos crimes de menores, talvez até aumentando o tempo de detenção.

Mas, meu principal motivo de revolta e choque é o movimento no sentido único de punição!
A sociedade e os políticos que a representam, movem-se em sentido contrário ao resto do mundo dito “civilizado”. Busca-se punições cada vez mais severas aos “invisíveis”, como se eles realmente fossem desaparecer do convívio com os “homens de bem” da elite.

O primeiro passo deveria ser a educação. De acesso universal, gratuito e com a melhor qualidade possível. Visando formar indivíduos com senso crítico, que compreendessem também suas possibilidades, dificuldades e a importância das escolhas na vida, principalmente mostrando àqueles menos favorecidos o abismo social do país.
Uma segunda abordagem seria a prevenção. Trabalhar esportes e profissões técnicas nas periferias. Incentivar ONGs como o Afro Reggae. Trabalhar a leitura e a autoestima, mostrar exemplos de pessoas e carreiras bem-sucedidas que nasceram e se criaram na periferia, fugir dos exemplos socialmente “aceitos” de música e futebol, sem discriminá-los.
Daí sim, num terceiro momento a punição, mas não a repressão. Trabalhar (também) a autoestima e mostrar que há volta no caminho da criminalidade. Fazer os menores trabalharem em asilos e em casas como a AACD. Trabalhar a reinserção com cursos profissionalizantes e/ou esporte.

Como diriam os mais antigos, muita água ainda passará por debaixo da ponte. A primeira “aprovação” na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) será “testada”, pois passará por uma Comissão Especial, pelo Congresso Nacional, Senado, parecer presidencial…
Espero que não “vingue”. Pois erraremos pecando por excesso. Os processos judiciais continuarão morosos e as classes mais abastadas e seus bem relacionados advogados seguirão recorrendo indefinidamente. Duvido que os ricos adolescentes incendiários de índios, os atropeladores de trabalhadores em pontos de ônibus, os que brigam nas ruas, ou os que estupram coletivamente sejam julgados e punidos como o jovem que mora nas ruas e rouba para comer ou cheirar cola; ou mesmo aquele que trafica na periferia por ter observado maus-exemplos de “sucesso” e “conquistas”.
Há uma música do Racionais que fala dessa realidade: “Dizem que quem quer segue o caminho certo. Ele [o menino da periferia] se espelha em quem está mais perto”.

Enfim, quem sou eu para apontar a solução prima e única. Tampouco especulo que a redução da maioridade penal não deva ser discutida.
Mas, discutida abertamente, sem pré-condições e pré-conceitos da elite para com os mais pobres; da mídia para com os invisíveis.
Afinal, não é prendendo toda a população “perigosa” e mantendo-a por toda a vida encarcerada, que acabaremos com a pobreza e a violência no país.

por Celsão revoltado

figuras retiradas daqui e daqui