Escrever sobre a “crise” no Brasil pra mim não é fácil.
Sou do tipo de pessoa romântica e ufanista, que adora essa terra e acredita nela (e nos brasileiros), mas aqui vai uma “opinião pirata” mais isenta que consigo fornecer.
O Brasil está em crise?
Não!
E a seguir explicarei os meus porquês…
Os argumentos em prol da crise falam em baixo crescimento do PIB, desindustrialização, inflação, balança comercial desfavorável.
Oras, não houve o crescimento planejado em nenhum dos BRICs no último ano. Sequer a China chegou aos dois dígitos esperados; tanto que hoje se fala mais de países como México, Coréia, Malásia e menos dos BRICs.
A desindustrialização é um problema grave, em meu julgamento, mas “antigo”. Desde a abertura precipitada do mercado feita pelo então presidente Fernando Collor, percebe-se o fenômeno. E, quem tem contato com a Indústria de um modo geral, vê isso no dia-a-dia. Não há proteção de mercado contra itens importados, de modo que até roupas são compradas da China atualmente. Mas… voltando ao tema… Esse não é um problema novo.
A inflação é formada pela especulação e pelo mercado. Se há mais dinheiro circulando (ascensão da classe média, maiores rendas), há mais procura por determinados produtos e os preços variam. Por outro lado um problema específico na safra de determinado produto (por exemplo, o tomate) faz com que os preços subam e haja supervalorização do ocorrido.
(Não dá pra dizer que não houve aumento da inflação; mas o aumento ainda está perto do limite “previsto” pelo governo.)
Por outro lado, não há como negar alguns avanços importantes do país, principalmente no aspecto social. O que causa um grande problema para empresários e elite; pois ao invés de incentivos que favorecem grandes indústrias (redução de IPI, por exemplo) ou aos banqueiros e construtoras (via favorecimentos), muito dinheiro é aplicado em programas como “Minha Casa, Minha Vida”, “Bolsa Família”, “ProUni”, “Ciência sem Fronteiras”, etc.
Avanços na infraestrutura são notáveis; licitações e concessões para rodovias, portos, aeroportos e (acreditem!) ferrovias estão em processo. E o melhor: envolvendo capital privado. O que, para o governo, é excelente; pois apesar de “abrir mão” do direito de exploração ou controle, tem as obras realizadas sem onerar os cofres públicos.
A redução dos gastos públicos, se não atingiu o valor desejado, ao menos escancarou os abusos via portal de transparência (veja um post nosso aqui). O que já é um bom começo.
O que eu criticaria em toda essa estória…
– O atraso nos investimentos em infraestrutura, que causa apagões pelo Brasil, causou gastos extras nos estádios e provocará uma “vergonha” Nacional, quando nos depararmos com o legado da Copa (deveria dizer SEM o legado). Muitas expansões em aeroportos e acessos, que foram iniciadas, não serão construídas a tempo, sem contar o sem número de obras adjacentes.
– O foco de seguir sendo um país agrícola exportador e de criação de gado. Aqui não estou proclamando a necessidade de Reforma Agrária, mas o alinhamento com as premissas de desenvolvimento, inovação e não-desmatamento.
– A não realização de reformas, que foram assumidas em discurso pós-manifestações de Junho. Pois, embora imagine as dificuldades políticas disso, creio que uma chance de ouro e com apoio popular foi desperdiçada.
– O atabalhoamento nas realizações das concessões federais: portos, ferrovias, obras do PAC.
– Os acordos ou “conchavos” com PMDB e elite (empresarial, latifundiária)
Enfim… Pontos que não avançariam (visão mais provável) caso a oposição viesse a ser governo, mas que me descontentam no governo atual.
Agora, tomar o último episódio de exposição mundial da presidente: o fórum mundial de Davos, como um “tiro pela culatra” é exagero demasiado.
Em primeiro lugar, Dilma falou em responsabilidade fiscal, equilíbrio de contas públicas e crescimento através de medidas de longo prazo. Pontos importantíssimos qualquer que fosse o desenrolar da crise mundial de 2009.
A oposição e determinados jornais imperialistas criticam nossa economia por ser em grande parte consumo interno. Oras, se o mercado interno está em expansão e é interessante, por que não investir nele e usufruir desses benefícios?
Criticar a dependência do mercado interno, principalmente pensando em 2009, é burrice!
Voltando ao discurso, acho que ela errou ao fugir do tema proposto “A reconfiguração do mundo: consequências para sociedade, política e negócios”; por focar na austeridade (ferramenta controversa, que muitas vezes freia o real desenvolvimento) do mercado, buscando indiretamente investimentos externos.
Mas usou parte do tempo explanando os avanços sociais obtidos, que são incontestáveis!
Entre ter investidores externos (na maioria, especuladores) pouco interessados no país e “baixar as calças” como fez o presidente do México pouco antes de Davos, através da alteração da lei e liberação da privatização da Pemex (Petróleo Mexicano), só pra ser aplaudido pelos países ricos no Fórum… Fico com a primeira alternativa! E sem titubear!
Concluindo este post longo, digo que não há crise do modo como a oposição (leia-se PSDB, DEM) quer fazer a população acreditar. Embora ache que a alternância de poder é necessária e salutar, quero que seja “ganha” com ideias e não através de política do terror!
por Celsão correto
P.S.: Em relação a Davos, indico dois textos curtos para leitura. O primeiro bem otimista com os resultados (aqui) e o segundo retratando a opinião do Financial Times e Veja (ou “mídia imperialista”) – aqui.
Para os que querem ler a opinião de Paulo Moreira Leite, sobre o presidente Peña Nieto (aqui)
Para quem quer investir trinta e poucos minutos e ouvir o discurso de Dilma em Davos (aqui)
P.S.2: figura retirada do discurso de Dilma.