Após a eleição, muito se comentava e especulava sobre as primeiras medidas do eleito.
Assim como Collor em 1990, bloqueando investimentos visando reduzir a moeda em circulação e frear a inflação, esperava-se algo igualmente radical de Jair Bolsonaro.
O mesmo se divertiu nos quase sessenta dias entre o resultado do segundo turno e a posse.
Ironizava os repórteres com os trocadilhos de sempre; dizendo que o “seu emprego”, referindo-se ao repórter, estava garantido. E invariavelmente chamava as mulheres que o abordavam com microfone de “querida”.
O dia chegou e, após receber a faixa de Michel Temer, com um largo sorriso no rosto, declarou a extinção do PSOL.
A justificativa é que o partido cria “ignorantes” e os treina para o “mal”.
– Foi do PSOL o autor da facada que tomei durante a campanha. Foi do PSOL o atentado moral da cusparada de Jean Wyllys. E se alguém se der ao trabalho de procurar, verá que tudo o que há de errado nesse país tem a presença do PSOL – declarou o presidente.
A reação foi de júbilo dos apoiadores e risos nos círculos de conversas pelo Brasil.
Apesar de absurda, a medida era leve e inofensiva, na opinião da maioria.
A imprensa questionava a efetividade, consultando juristas e cientistas políticos. Uns poucos protestavam nas redes sociais.
Mas os dias se seguiram ao melhor estilo Donald Trump, do qual Jair declarava-se agora, abertamente, fã: uma surpresa diferente a cada dia. E muitas delas estapafúrdias.
“Imponho ao TSE e ao STF que renomeie o PT para ‘Partido dos Trambiqueiros’ no lugar de ‘Partido dos Trabalhadores’. Não existem mais trabalhadores naquele partido; são todos trambiqueiros“. Sentenciou certa vez.
Aplausos e novo júbilo e aquele sentimento de “troco” por parte dos críticos de Lula e Dilma.
“O que é respaldo, querida?“, perguntou a uma repórter que o questionava sobre a atribuição e jurisdição das medidas impostas e promulgadas, “Eu faço a lei pois conheço os desejos da população e o que é melhor para o Brasil! Se depois de falado, escrito e encaminhado não houver ação do órgão competente, temos que mudar esse órgão!” – concluiu em ameaça.
Quando pressionado a cumprir o prometido de redução da máquina pública logo no primeiro mês de mandato, foi a público em rede Nacional.
– Declaro extinta a Defensoria Pública da União e dos Estados da Federação. E também vou diminuir drasticamente o Ministério Público!
– A Defensoria Pública no Brasil tem mais de 8000 cargos existentes, com altos salários! Como estes advogados visam orientar juridicamente bandidos e ouvir as reclamações incabíveis do pessoal dos Direitos Humanos, não precisamos deles. Basta andar na linha e pronto! Se um cidadão se sentir injustiçado, procure os seus direitos com os advogados. Mas não com defensores pagos pelos impostos de quem cumpre as leis… (!)
– O segundo está muito inchado e tem muitos funcionários inativos. Só em São Paulo são mais de 600 servidores inativos para 5000 ativos. Colocarei como meta uma redução de 20% no quadro, começando com os inativos. tem muito vagabundo! Por que o carinha está inativo? O que ele faz no Ministério Público? Hoje em dia, as contas públicas estão declaradas na internet… não precisa de Ministério Público pra isso…
– Como o meu governo não tem corrupto, o trabalho do Ministério Público, de todos os órgãos criados para a corrupção pelo PT, vai diminuir!
No fim do primeiro mês, o presidente Jair Bolsonaro resolve reformar a educação…
– Onde houver professores e membros da diretoria da escola filiados ou simpatizantes de partidos políticos de esquerda, em escolas públicas das esferas federal, estadual e municipal, teremos exoneração! E, se houver falta de professores, num primeiro momento oficiais da reserva das forças armadas e das polícias militares e civis serão convocados para substituí-los. Antes uma educação com base na moral, que uma educação com viés político…
E a vida segue no país dos bananas…
Será que meu cenário fictício é muito descolado de uma provável realidade?
Não há dúvida que o discurso de ódio gera, apenas, mais ódio.
Uma amiga disse, sabiamente, que sequer temos maturidade para usar setas ao realizarmos conversões ou mudarmos de faixa de rolagem no trânsito; estaríamos mesmo aptos a portar armas de fogo?
Há muita correlação entre trânsito e armas para os que defendem o armamentismo.
Mas pra mim a estória que “carro também mata” é rebatida facilmente com “arma só serve para matar”. Não se pode explicar uma decisão ruim com opções contrárias igualmente ruins. É um círculo vicioso e perigoso de irracionalidade.
A mesma amiga, em tom sarcástico, vaticinou que somos como dinossauros votando no meteoro, ao votarmos em Jair Bolsonaro. :))
Não há expectativa de melhora real, em campo algum.
Pior pra mim é quando vejo mulheres e outras minorias defendendo o candidato.
Será mesmo que tudo o que ele disse no passado foi efeito de ações mal pensadas e/ou reflexo de uma personagem?
Talvez a Sociedade Brasileira precise mesmo passar por um governo mais a direita, para vislumbrar a realidade da desigualdade social que vive. E descobrir, a duras penas, que meritocracia sem igualdade de condições de partida é utopia.
Não falo em Social Democracia, bandeira do PSDB e de outros que, na realidade, estão mais ao centro. Falo em Novo e no discurso de renovação real.
No entanto, migrar para uma ditadura conservadora, ou mesmo religiosa, dependendo dos apoios conseguidos da grande “bancada da Biblia” no Congresso, é algo que definitivamente não precisamos, nem merecemos.
por Celsão irônico
figura retirada daqui