Me deparei na semana passada com o programa Provocações do canal Cultura e a presença do juiz de direito Márlon Reis. Já o conhecia, sabia que ele era um dos idealizadores do “Ficha Limpa”, mas me surpreendi positivamente com duas “novas notícias”:
– Ele também é um dos arquitetadores do projeto “Eleições Limpas”
– Ele exerce a profissão na comarca de João Lisboa, no Estado do Maranhão
Iniciando pela segunda constatação, fiquei feliz em saber que, mesmo num dos estados mais coibidores e oligárquicos do país, é possível “fazer a nossa parte”; no caso dele, lutar por eleições mais justas e transparentes. O próprio Abujamra em uma das perguntas sentencia: “Como é que você ainda está vivo?” – a entrevista completa pode ser acessada aqui
Mas o ponto mais interessante da entrevista e da luta do juiz é o projeto “Eleições Limpas” proposto pela OAB e já citado nesse blog (logo após o discurso de Dilma em Junho, sobre diferentes reformas propostas por ela – post aqui).
A ideia não é ter somente candidatos de ficha incólume, mas apoiadores sem interesse direto. Ou seja, busca-se eliminar o favorecimento por parte das grandes empresas e corporações a candidatos e partidos em troca de vantagens futuras. O que ocorre hoje em dia e corrompe drasticamente o resultado das eleições são doações de construtoras, bancos, frigoríficos e indústrias de mineração a partidos e candidatos; sem limite estabelecido e com abatimento de imposto (um popular ganha-ganha).
Em site próprio, o juiz Márlon aponta estudos que provam a eficácia desta política, contabilizando para cada real gasto um retorno de R$8,5 em contratos e favorecimentos!
Ou seja, um grande frigorífico por exemplo, sabe que não terá dificuldades em desmatar áreas de floresta para criar gado, ou que certamente gozará de abrandamento da pena ou multa, caso infrinja uma lei. Empreiteiras, bancos e grandes indústrias de exploração da mesma forma…
É algo imensurável, se pensarmos bem. E muito maior que o execrável Mensalão, segundo Antônio Martins (aqui), que cita como engano político o encerramento do processo sem o debate do dinheiro oferecido pelas empresas aos partidos.
E o pior: sabe-se sobre valores e retornos!
O site Política Aberta junta informações do Portal Transparência e do TSE e entrega “mastigado” a quem queira. Na página inicial são vistas as empresas que mais doaram para campanhas em 2012 e os maiores contratos no mesmo ano. Só aí é possível notar que duas construtoras (Odebrecht e Queiroz Galvão) estão no TOP10 das duas colunas.
Aliás dentro do TOP10 dos doadores estão cinco empreiteiras!
É interessante navegar nos detalhes, como partidos e candidatos que receberam ajuda e órgãos que tiveram contrato com essas empresas.
É uma luta árdua, mas importante de ser travada.
É muito importante que não só o “Ficha Limpa” faça parte do cotidiano brasileiro, mas que a luta pela moralização das eleições seja permanente.
Afinal, por que existir financiamento eleitoral se existe o fundo partidário?
por Celsão Revoltado
figura retirada daqui
P.S.: não gosto muito do Provocações. Acho que o entrevistador foge muito do assunto e não deixa o entrevistado expor seu ponto de vista; sempre uma pergunta atropela a anterior. E é demasiado curto.