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Contrariando minha esposa, assisto vez por outra ao programa Fantástico, o “show da vida” ou ainda a “nossa revista semanal”.
O faço sem grandes expectativas. Naquela negação da chegada da segunda-feira e do retorno à rotina estressante da semana.

E não é que nesse domingo fui surpreendido?
Infelizmente, negativamente. O que me surpreendeu foi uma reportagem especial, tomando quase um bloco inteiro, sobre o fuzil-metralhadora AK47.

A notícia trataria supostamente da violência ocorrida na favela da Rocinha, Rio de janeiro, que demandou intervenção militar federal na última semana.
Mas não foram abordados os detalhes do ocorrido. Não se tocou no assunto tráfico de drogas, provável razão principal da briga entre facções rivais. Sequer das implicações sociais da “guerra” instaurada, como cancelamento de aulas, redução do comércio, plausíveis inocentes alvejados por balas perdidas de ambos os lados (e aqui são três os lados: facção A, facção B e polícia/exército)…
A notícia tratou da arma AK47…

Soubemos que o nome vem de “Kalashnikov automática”, fabricada em 1947. Vimos imagens do seu criador, Mikhail Kalashnikov e a sua estátua inaugurada recentemente em Moscou.
Vimos muitas fotos e vídeos do Estado Islâmico, Osama Bin Laden, terroristas em ataque ao Charles Hebdo, treinamentos com crianças árabes. Todas usando a arma.
Fomos “quase” convencidos de que, se russo, é mal. E que a Rússia é a responsável pela violência no Rio de Janeiro.

Somente um telespectador mais atento ouviu que a arma é produzida em diversos países, entre eles Bulgária, Romênia, India e China. Este último maior produtor mundial.
Que os Estados Unidos compram os fuzis de forma legal da China e do Leste Europeu, e são usados como principal entreposto para as Américas e a África.
E que também se fabricam rifles AK47 nos Estados Unidos! (informação aqui).

Num mundo onde o extremismo está cada vez mais presente, é correto aludir ao armamentismo e ao “contra-ataque”?
É saudável mostrar à população todo o poder do crime organizado, cobrando os parlamentares um “endurecimento” sem analisar as causas?

O problema das drogas no Rio de Janeiro, ampliável às armas e ao problema do terrorismo no Mundo, é por si só demasiado complexo e enredado. Não há solução simples e aplicável num curto espaço de tempo, como, por exemplo, um mandato de Prefeito ou Governador.
O que condeno é a abordagem da matéria. De um programa muito assistido, no canal mais assistido do país.
Já perdi as esperanças de discussões filosóficas e aprofundadas. Mas daí a mostrar por dez minutos a arma mais usada… Foi demais!

por Celsão revoltado

Vídeo no Youtube com o “extrato” da matéria pode ser visto aqui

imagem retirada daqui