Posts Tagged ‘imoralidade’

post_moraes_imoraisUm jurista exemplar, extremamente técnico e experiente, uma escolha independente.

Acho que nem o mais ingênuo dos brasileiros que têm acompanhado a Operação Lava Jato e as movimentações políticas dos últimos meses acredita nas palavras do presidente Michel Temer após a indicação do ex-secretário e agora ex-ministro da justiça Alexandre de Moraes para a vaga aberta do Supremo Tribunal Federal (STF).

E, por mais que defendamos que, naturalmente ou inconscientemente, as indicações para o STF, feitas pelo presidente da república em exercício, possuem o seu viés político, inevitável talvez, o jurista e professor Moraes não é uma dessas escolhas “desconfiáveis”, que geram “desconforto” na oposição política.
Pelo contrário: Alexandre de Moraes é mais um golpe à Democracia, o maior sinal de aparelhamento do Poder Judiciário dos últimos tempos, um “cuspe” na cara da esperança popular romântica de combate à corrupção, através da refinada casa de “imortais da Justiça”.

Alexandre é (ou era, pois terá de se desfiliar) filiado ao PSDB.
O fez por convicção, faz parte dos “protegidos” do governador Geraldo Alckmin. Foi Secretário de Justiça em seus governos e passou a Ministro da pasta de Temer logo após fazer um “favor” ao próprio presidente e à primeira dama, prendendo em tempo recorde um chantagista que havia hackeado o celular de Michele Temer.

Alexandre passará pela sabatina “café com leite” da CCJ e se tornará revisor da Lava Jato.
O que, mesmo não representando o papel principal, será ele, ex-Ministro de Temer, parte e influente no governo, filiado a um dos partidos com maiores indicações nas últimas delações… quem poderá atuar em disputas crucias para a continuidade da Lava Jato, como a condenação dos indiciados somente após a última instância, historica- e lamentavelmente longos anos após as primeiras condenações.
É Alexandre de Moraes também, ex-ministro, amigo, PSDB paulista, que atuará nos envolvimentos inevitáveis dos presidentes da República, da Câmara e do Senado nas delações da empreiteira Odebrecht.
É ele que “estancará a sangria”, ação proposta por Romero Jucá, ex-ministro e atual líder do governo no Senado, em gravação vazada há menos de um ano (aqui).

São tantas as correlações e tamanha a imoralidade, que é até difícil concatenar um texto que faça sentido!
Nas planilhas da Odebrecht, “Santo” é Geraldo Alckmin, padrinho político de Moraes. “Caju” é Romero Jucá, afastado do Ministério de Desenvolvimento após esdrúxula confissão de culpa. Outro político com relação direta ao presidente Temer, o “Angorá”, Moreira Franco, aparece como principal captador de recursos para Michel Temer junto à Odebrecht.
Agora Ministro da Secretaria Geral da Presidência, Temer fez aquilo que Dilma não conseguiu com Lula, quando o juiz Sérgio Moro vazou “acidentalmente” gravações entre a então presidente e Lula.
É o roto fazendo o que fez o esfarrapado, o sujo fazendo pior que o mal lavado…

Temer é citado mais de quarenta vezes na delação da Odebrecht. Moreira Franco mais de trinta.
Para “fechar o pacote de absurdos”, a provável indicação para o lugar de Moraes, no Ministério da Justiça será a de Antônio Cláudio Mariz de Oliveira (aqui), defensor de muitos acusados da Lava Jato e ferrenho crítico da mesma.
Chegou a ser cotado, anteriormente, para o cargo. Na época, Temer desistiu exatamente por conta das críticas feitas por Mariz à Lava Jato (aqui).
Agora, ao que parece, o circo e o fingimento não são mais necessários. A revolta do povo arrefeceu, cessou…

Para terminar, li que em sua tese de doutorado, o próprio Alexandre de Moraes defendeu que nomeações de filiados a partidos políticos e ocupantes de cargos de confiança aos tribunais de justiça, sobretudo ao STF, são imorais, não deveriam acontecer nos mandatos correntes para que não insinuassem prêmio por dedicação, agrado ou recompensação.
Até Alexandre é contra Alexandre!

por Celsão correto

figura retirada daqui

P.S.: sugiro o vídeo revoltado do Bob Fernandes, por representar parte do que sinto (aqui)
E uma indicação de leitura, do colunista Hélio Schwartsman sobre as duas últimas medidas do nosso patético presidente. Pra mostrar que mesmo alguém pró-Temer é contra a ridícula mediocridade (aqui)

post_geddelMais uma de Temer e de seus nomeados Ministros.

Depois de Romero Jucá, afastado com uma semana de mandato, após vazamento de uma gravação feita via grampo telefônico, revelando bastidores do impeachment e de intenções de barrar a Lava Jato (post nosso aqui), agora é o secretário de governo e articulação, Geddel Vieira Lima que está na mira da Comissão de Ética da Presidência da República, devido a um escândalo de intervenção no Ministério da Cultura, que causou o pedido de demissão do então Ministro da pasta, Marcelo Calero.
Pra quem nada leu a respeito, seguem notícias aqui e aqui. E um resumo de quem é Geddel, conhecido dos escândalos em nível federal, aqui.
E pra quem não lembra do nosso post descrevendo os ministros nomeados por Temer em Maio, aqui, copio o trecho relacionado a Geddel:

Secretaria de governo – articulação: Geddel Vieira Lima (PMDB/BA); acusado de receber dinheiro de empreiteiras. Citado na operação Lava Jato, é suspeito usar sua influência para atender a interesses da construtora OAS na Caixa Econômica Federal, banco do qual foi vice-presidente de Pessoa Jurídica

Pra começar a expor minha opinião pirata, devo-me o eco de repetir que a tolerância à falta de ética deve ser zero!
E que tráfico de influência, em favorecimento próprio ou de outrem, é corrupção!
Sobretudo quando pede-se algo “fora da lei”, como atuar pressionando um órgão público (Iphan) para garantir a liberação de uma obra embargada, em terreno tombado pelo patrimônio público e cultural!
E… se os citados na denúncia de Calero à Polícia Federal: entre eles o próprio Geddel Vieira Lima e o presidente Michel Temer não negam que falaram com o ex-Ministro sobre o empreendimento, assumindo que ‘possui interesse privado na liberação da obra’ e que ‘esses conflitos e pressões políticas são normais, encaminhe o caso para a AGU dando uma desculpa’, respectivamente; o que será que eles disseram e fizeram, além de REALMENTE pressionar Marcelo Calero a fazer vistas grossas e agir de modo imoral?

Sem medo de perjurar, arrisco-me a dizer que o presidente Michel Temer, amigo de Geddel, agiu sim de forma anti-ética pedindo a intervenção do ex-Ministro, ao menos para que alegasse qualquer problema e passasse para a Advocacia da União o imbróglio. (aqui)
E uma prova forte dessa afirmação é a convocação do porta-voz da presidência para dar esclarecimentos à imprensa. Duvido que o assunto tomaria tais proporções se a denúncia de Marcelo Calero (divulgada em entrevista e colhida como depoimento), cuja reputação ilibada foi defendida por Temer inclusive, não procedesse.

E não me surpreende o fato da base aliada do governo (PMDB, PP, Solidariedade), do atual presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e do multi-citado em inquéritos, e presidente do Senado, Renan Calheiros, saírem em defesa do Ministro Geddel.
São “farinha do mesmo saco”, se defendem até o limite da honra, principalmente quando dependem uns dos outros para aprovar temas polêmicos: como o projeto de criminalização do abuso de autoridade, a anistia ao crime de caixa dois, a repatriação de valores evadidos ilegalmente (de relatoria, imparcialíssima, de Romero Jucá), entre outros.

É na articulação com o governo que se buscam defensores para emendas suspeitas, mudanças em textos e em relatórios, subterfúgios (i)legais. E são as casas do Legislativo que podem bloquear o alcance da Lava Jato e de outras operações; ou ao menos amenizar os efeitos na classe política.
Tampouco me surpreenderá, num futuro próximo, uma alteração da PEC do limite de gastos, aumentando os salários dos nobres servidores políticos além do limite a impor para os próximos vinte anos…

É triste. Mas a corrupção e a falta de ética estão cada dia mais presentes, descaradas e aceitas.
Sugeri que todos os ministros de Temer citados em investigações fossem afastados. Agora são muitos os comentaristas que pedem a renúncia de Geddel. Mas tudo parece que vai acabar, infelizmente, em na “Grande Pizza” citada aqui mesmo.

por Celsão revoltado

figura retirada daqui

P.S.: Recomendo um vídeo sobre o caso, gravado do comentário matinal do Boechat, que analisa outras decisões “inúteis” do Conselho de Ética da Presidência da República (aqui)

P.S.2: Não menos importante, recentemente, Jucá se tornou novamente réu, agora da operação Zelotes, em seu sétimo inquérito / acusação (aqui)