Posts Tagged ‘manipulação’

Começo explicando o título, que vem do poema-figura desse post. O poema é de Ruy Proença, e o encontrei aqui

Os fatos da atualidade me causam estranheza e perplexidade.
Nenhum fato divulgado, por qualquer veículo de imprensa, tem a capacidade de chocar, de fazer pensar, de provocar cisma ou medo, de incitar arrependimento ou reconsideração.
Minto. Nenhum fato que seja contrário ao idealismo atual, ao conceito de verdade, ao que acreditamos.

É como se tivéssemos bloqueado nossos ouvidos para as opiniões contrárias.
Como se o ódio substituísse a razão.
Como se soubéssemos tudo sobre tudo. E sequer respeitássemos opiniões diferentes.

(…)

Por um lado, considero compreensível.
Nos encontramos em um “novo período do conhecimento humano”.
A tal da “pós-verdade” recriou uma nova maneira de entender as coisas, baseado no que se quer acreditar e em truques apelativos para enfatizar, ou fazer valer o pseudo-fato.
O termo, inclusive, existe há alguns anos e foi “turbinado” recentemente, graças às mídias sociais. (Nos links a seguir, a definição na Wikipedia e no Dicionário Informal)

Na pós-verdade, tem-se um desmedido apelo emocional aliado à hermenêutica (interpretação de fatos) que cria versões distorcidas e transfere aos fatos, ou verdades, uma importância secundária.
Vê-se isso em vídeos de propaganda espalhados via WhatsApp.
Vimos isso, recentemente, na distorção proposital das declarações de Cid Gomes e Mano Brown; distorções (ou pós-verdades) criadas por apoiadores de Bolsonaro.

Explicando…
Mesmo que ambos tenham criticado a campanha de Haddad e o próprio PT com razão, veemência e com fatos… não são eleitores de Bolsonaro!
E recriar ou reproduzir os discursos com subtítulos categóricos e emocionais de: “chega de esquerda”, ou “fora PT”, distorce a mensagem que os interlocutores desejavam passar.

No artigo que destaco aqui, assinado por Paolo Demuru no Nexo, o autor destaca correlaciona quatro estratégias dos apoiadores do candidato Jair Bolsonaro à semiótica, atribuída a Umberto Eco por ele como “a disciplina que estuda tudo aquilo que pode ser usado para mentir“.
Abaixo destaco as quatro estratégias:
Objetividade aparente: simplificação de um fato à uma parte que atenda aos objetivos.
Edita-se um trecho de vídeo, declaração ou texto, focando em algo contundente, mas com significado reduzido ou também, diluído do contexto de onde estava inserido.
É o caso da declaração em vídeo de Mano Brown: se os apoiadores de Bolsonaro tomassem, por exemplo, a frase dele “Eu tinha jurado pra mim mesmo nunca mais subir em palanque de ninguém” a rigor, saberiam que a interpretação implícita é: “mas estou aqui, no palanque do Haddad, pois acredito ser a melhor opção contra Bolsonaro“…

A “minha verdade” ou as auto-verdades: vídeos autorais, de pessoas que se identificam, mostram a cara, trazem veracidade e cumplicidade ao discurso, há uma identificação própria e, com isso, um “aumento da realidade”. Mesmo que o discurso não seja factual.
Um pastor evangélico que afirma uma taxação das igrejas, um militar que tem informações privilegiadas do diretório do PT e “sabe” que verbas serão reduzidas, um empresário que afirma que a crise é advinda do governo Lula, um representante das minorias ignorando discursos prévios e ratificando seu apoio ao Bolsonaro…

O êxtase passional: onde maiúsculas, alterações de voz em vídeos e áudios, exclamações dão o tom dramático e transferem ao emocional decisões que são absolutamente racionais.
Esse é a principal estratégia dos grupos de WhatsApp, juntamente com a estratégia temporal a seguir.

A urgência: aqui o tempo é agora! O compartilhamento deve ser feito o quanto antes, e para todos os grupos, para todos os contatos, para que “o PT não volte”.

(…)

Não importa se é uma verdade construída, se há dissonância em relação à verdade. O que importa é mostrar, e difundir, o meu ódio e o meu desacordo.

Aliás, uso os apoiadores de Bolsonaro como os maiores utilizadores das mídias sociais para as pós-verdades e a difamação e os de Fernando Haddad como as maiores vítimas, pois são diversos os relatos na própria mídia dessa supremacia. Aqui e aqui estão exemplos do grupo Exame e do jornal El País, correlacionando o compartilhamento de Fake News em sua maioria por apoiadores do PSL. Sem citar o recente escândalo da campanha patrocinada por empresários…
Sei que o “outro lado” também o faz, o PT e seus apoiadores também espalham boatos tentando se beneficiar por isso. É lamentável.
Mas não creio que eu precise contrabalancear o exemplo, já que tomo a maioria.

Também do lado derrotado (já me dou por vencido), observamos paredes nos ouvidos.

Mas compartilho uma máxima que ouvi recentemente…

Entendo os que votam em Bolsonaro por serem contra o PT. Entendo os que votam no PT por serem contra o Bolsonaro.
Tenho dificuldades de entender os que votam neles por gostarem deles e se identificarem…

Como escrevi recentemente, aqui, julgo ser essa a pior eleição em termos de escolha, que enfrentamos.
Certamente, pra mim, são os piores candidatos possíveis dentre as opções que tínhamos no primeiro turno.

Finalizo com um pequeno texto, recebido via WhatsApp, que faz analogia entre o período que vivemos hoje e o mito da caverna, de Platão…

Imaginem várias pessoas presas num grupo de WhatsApp. Se alguma delas [acordasse to transe] conseguisse fugir e trouxesse verdades do mundo exterior, traria luz e razão aos prisioneiros, mas seria tida como mentirosa e, certamente, duramente agredida.


por
Celsão correto.

figura retirada daqui.

 

Quase três meses sem escrever aqui…
E mais de 70 dias desde o último post (aqui) que descrevia desapontamento após as denúncias graves contra Temer e Aécio Neves. Delações (ou vazamento de delações) de executivos da JBS.

Retorno de uma letargia…
Daquelas que sentimos nas noites de domingo… no momento em que percebemos que o final de semana, significando uma tola porém verdadeira “liberdade”, acabou.
O período de letargia coincide com um período complicado para o governo Federal, teve mala de dinheiro, negação de autenticidade de gravação, autenticidade comprovada, declaração sendo contradita, teve corte de orçamento da Polícia Federal e subsequentemente da Lava Jato… teve uso da agência de inteligência brasileira (ABIN) para investigar Fachin e para instalar dispositivo antigrampo no Palácio do Jaburu e em diversos gabinetes da “base” (aqui)…

Mas não teve uma definição por parte do PSDB. Definição que podia ser crucial, dado o apoio deste partido ao impeachment de Dilma e ao governo interino de Michel Temer.
Não teve manifestação na rua. Apesar de algumas tentativas. As panelas não saíram da cozinha e nem as camisetas amarelas deixaram o armário. (Com exceção de um arremedo, na condenação em primeira instância do Lula, pelo juiz Sérgio Moro)

O povo fala de política e de crise em conversas rasas, “de elevador”.
O habitual questionamento “quebra-gelo” numa conversa mudou de assunto. Se antes era o tempo, ou o trânsito, constantemente carregado para Paulistas,  hoje é a crise política e econômica.
Mas não se iludam os que pensam que o aumento das citações e das conversas rasas é benéfico. Muito pelo contrário. Quando um assunto entra nesse “estágio”, letárgico como as noites de domingo, o que mais se quer é furtar-se a ele, é fingir preocupação evitando a segunda ou terceira perguntas. Ou, no máximo, “testar o alinhamento” do interlocutor ao próprio pensamento, antes de seguir o discurso.
Denúncias através de grampos pararam de surpreender, gastos exorbitantes de dinheiro público pararam de estarrecer, malas de dinheiro, laranjas, empresas fantasmas saíram das páginas criminais para os quadrinhos do final do jornal.
É triste, mas a maneira mais realista e segura de manter-se informado sobre os desmandos e desmazelos da corrupção e dos corruptores do atual governo está nos programas de comédia noturno, em formato stand-up.
Escrachado e cômico, sim, trágico até, porém pura verdade! Casos reais são apresentados para fazer rir. E obtêm sucesso, pois são verdadeiros absurdos mesmo! Pena não obterem resultados concretos de punição ou sanção…

No momento do “estouro” das delações da JBS, do encurralamento de Temer e do afastamento de Aécio, aproximei o contato com o Miguel, compartilhando as impressões daqui e os desdobramentos prováveis.
Quando ele me perguntou sobre o desfecho que eu previa, afirmei que Temer escaparia por ter base (comprada) no Congresso; mas que acreditava na prisão de Aécio, ao menos a sua cassação já era certa pra mim.
Pouco tempo depois, “fugi” de Miguel quando Aécio voltou ao Senado. Ainda não queria acreditar na pizza, ainda estava em estado letárgico…

E a letargia chegou ao fim ontem, com um episódio crasso: a votação pela suspensão da investigação do presidente Temer. Acusado em pleno exercício do governo por atos de corrupção.
O show dantesco terminou com transmissão ao vivo dos votos na TV. Mas não em sua totalidade, como fora no impeachment ansiado pela mídia; apenas no clímax, quando do atingimento do quórum necessário para impedimento da abertura de processo no STF.
Pela primeira vez na história um presidente foi acusado em pleno mandato.
Talvez pela primeira vez tenhamos invertido um crime legislativo, a compra de votos de parlamentares, em algo normal e aprovado por mídia e sociedade.
Nosso presidente Temer comprou diversos votos com emendas. Licenciou ministros para que voltassem às funções no Congresso e auxiliassem na negociação dos indecisos, fizessem o chamado “corpo-a-corpo” (aqui um exemplo feito momentos antes do pleito de ontem), pressionassem partidos da base e deputados indecisos. Chegou a pedir a lista dos votantes contrários na CCJ para atuar diretamente neles (aqui). Pediu também aos partidos de base para trocarem suas bancadas da CCJ, a fim de garantir um relatório e uma votação prévia favoráveis (aqui).
Houve também um acordo com os ruralistas, um dia antes da votação. (aqui)
Preciso citar como votou o deputado Alan Rick do Acre, assediado pelo Ministro Imbassahy? E o resultado da bancada ruralista?

Para quem não lembra, o Mensalão do PT, único que teve investigações concluídas, criminalizou e condenou exatamente a prática de compra de votos. Isso mesmo! A compra de votos de parlamentares levou a condenação de tesoureiros, doleiros, políticos e assessores.
O que vimos de Maio pra cá, foi uma possível letargia na memória das pessoas, embaladas por discursos eloquentes e por frases de efeito.

“O Brasil não pode parar!” – se a classe empresarial da iniciativa privada, dependesse unicamente de decisões governamentais, já teria parado. A corrupção assola e precisa (ou precisava) acabar. Não está parado, mas caminhamos mais lentos do que poderíamos e deveríamos.

“Estamos superando a maior crise que esse país já viu” – sem voltar muito no tempo, eu diria que o período de super-inflação foi pior. E, “superando” é hipérbole. O capital especulativo pode voltar, uma vez que o governo deve completar o seu mandato. Só isso. Crescimento orgânico e recuperação industrial estão fora de cogitação.

“Tudo feito no Estado Democrático de Direito” – sem entrar no cerne, por não ser jurista, impossível dizer que TODOS estão sob a mesma tutela e a mesma régua post nosso aqui). Muitos dos parlamentares que votaram ontem “SIM” (que era a favor de Temer e do relatório da CCJ e contra a investigação da denúncia de corrupção pelo STJ), disseram que a investigação de Temer será feita após o governo, após 2018.
Creio que nem o mais letárgico admirador de William Bonner acredita em tal possibilidade.

Enfim…
De volta ao blog, de volta da letargia, de volta ao nosso país e aos problemas dele.
O que fazer? Como fazer? Quando fazer? Que batalhas escolher?
São as perguntas difíceis de responder nesse momento…

por Celsão correto

figura retirada daqui

P.S.: indicações de vídeos no Youtube – Bob Fernandes e Josías de Souza

P.S.2: indicação de leitura – aqui – pode ser propaganda própria, mas não deixa de ser verdade. Ministro do STF Luis Roberto Barroso fala sobre a operação “abafa” contra a corrupção

aroeiramoraes2Agora está feito.
Alexandre Moraes foi nomeado, sabatinado e aprovado em votação do Senado. É o novo Ministro do STF e tomará posse em Março.
É aquela água que misturamos ao vinho. Indissociável. Estará lá por longos 26 anos…

A sabatina na Comissão de Constituição e Justiça foi um “teatro de bonecos”, como escreveu curto e bem, Josias de Souza (aqui).
A começar pelo presidente, Senador Edison Lobão, investigado na Operação Lava Jato, passando por nove outros investigados fazendo parte da mesma sabatina e terminando com outros senadores “da base” elogiando Moraes, sua conduta, suas respostas, seu penteado…

As revistas Veja e Época, notoriamente de direita, portanto extremamente críticas aos governos petistas anteriores e esperançosos (quero crer que somente a princípio) em relação a Temer, divulgaram e divulgam abertamente nos últimos exemplares a verdadeira perseguição à Operação Lava Jato, o provável “estancamento” proposto há algum tempo por Jucá…
A capa da Veja que ilustra esse post é da edição 2517, de 15 de fevereiro.
Dentre as reportagens da Época, destaco essa, “O governo e o Congresso contra a Lava Jato“. São inúmeros os exemplos de medidas lícitas, porém imorais, que as entidades máximas da Nação estão tomando para se protegerem e para “afundar” o inédito combate à corrupção.

post_pizzaO colunista da também conservadora Folha de São Paulo, Jânio de Freitas, chega a propor aqui que as escolas de Direito devam parar de ensinar as leis e o modo correto de empregá-las, passando a ensinar truques jurídicos.
É isso que estamos vivenciando atualmente: “truques” em todas as esferas: Executivo, medidas e indicações do presidente Temer, Legislativo, com votações rápidas em pontos de interesse próprio, arquivamento de processos de interesses contrários, protelação em alguns casos, sabatinas “teatrais” e até do próprio Judiciário, que arquiteta quando lhe convém suspensões de processos e procrastinações, como o julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE e a atual “novela” da verificação das assinaturas do projeto popular de medidas anti-corrupção.
O “povo” propôs, com mais de 2 milhões de assinaturas. O Congresso alterou bastante, colocando punições a juízes por abuso de autoridade, o judiciário bloqueia o processo, cria liminar, assinaturas devem ser conferidas, TSE não consegue conferir… pizza a vista! (aqui)

Voltando ao nosso ilustríssimo mais novo Ministro do Supremo, Moraes…
Ele terá o papel de defender Eunício, Maia, Temer. “Defender” não seria a palavra judicialmente perfeita, seria o “truque jurídico”. Enfim… ele vai defender os principais artífices do Executivo e Legislativo atual e blindá-los certamente.
Talvez estenda sua benevolência também a Renan Calheiros e aos tucanos ex-colegas de partido, como Aécio, também citado nas delações da Odebrecht.
Quem tem dúvidas de que Alexandre de Moraes está mesmo “atado” ao PMDB e ao governo Temer, pesquise a primeira visita dele após a votação do Senado (aqui). Ele foi direto para a “casa do padrinho”, pedir a bênção e buscar as primeiras instruções. E essas, aposto, começaram com a sugestão de visita subsequente: Carmen Lúcia.

Tirando a já óbvia pizza da Lava Jato a caminho (está obvia até pra Veja e Época), me espantam os problemas de Ministério que nosso atual presidente enfrenta.
Já havíamos levantado alguns prováveis problemas quando os mesmos foram nomeados (aqui).
Mas os números seguem aumentando e surpreendendo. É difícil até de controlar a contagem: a maioria é de réus, enrolados em inquéritos e escândalos.
Moreira Franco, recém nomeado e Bruno Araújo (Cidades) são os ministros atuais citados pela Odebrecht. Que também conta com os já afastados Romero Jucá e Geddel Vieira. Isso no âmbito da Lava Jato.
Temos José Serra, recém saído do quadro, que responde por improbidade administrativa. A ele juntam-se Eliseu Padilha, Hélder Barbalho e nosso querido Kassab.
Mas tem também crimes “raros”, como fraude de licitação (Ricardo Barros – Saúde), desvio de merenda (Maurício Quintella – Transportes), falsidade ideológica (Marx Beltrão – Turismo), peculato (Raul Jungmann)…

É repetido aqui nesse espaço, mas repetirei.
Triste constatar que todo o movimento do “gigante” durante a pressão pró-impeachment era realmente contra Dilma e contra o PT. E não algo contra a corrupção, como muitos diziam.

E… obviamente… meu lado utópico espera estar errado!

por Celsão correto.

figuras retiradas daqui (por Aroeira) e da lista de capas da Veja, aqui

 

herero_namaComecemos com um texto publicado esse ano pelo portal UOL (link aqui)

O título do texto é “Por que a Alemanha não se desculpou até hoje pelo primeiro genocídio do século 20” e ele trata do assassinato de dezenas de milhares de africanos assassinados pelo exército alemão entre os anos de 1904 e 1908.

Conhecemos diversos exemplos parecidos com este. Quando um país mais desenvolvido (Europeu – por exemplo), coloniza um país africano (ou de qualquer outro continente) durante décadas, séculos, explorando suas riquezas e enriquecendo enquanto estes empobrecem. Então um dia rebeldes resolvem reagir, e como contra-reação os colonos utilizam da máxima força bruta, crueldade, barbaridade e covardia, levando etnias praticamente à extinção.

Exploram, abusam, estupram, matam, sugam tudo de valioso de suas terras, e quando partem daquele país, deixam somente pobreza, atraso, destruição, traumas e ódio para trás.
Depois os intelectuais, políticos e cidadãos dos países desenvolvidos, algumas décadas mais tarde, dizem que os países explorados não se desenvolvem, pois são corruptos, ou não aproveitam as oportunidades, ou são incapazes de aprender com os erros, ou porque não têm nada a oferecer de volta num possível comércio…. ou seja, a culpa ainda é deles, povos explorados, assassinados, sugados….
Para piorar, os acadêmicos e intelectuais dos países explorados (América do Sul, África, Ásia, etc) aprendem com a mídia e com seus sistemas de ensino, as teorias que convêm e favorecem os interesses dos países exploradores. Em nossas Universidades e em nossos jornais, em na maior parte de nossa literatura, são difundidas ideologias que visam nos manter alienados e dominados. Assim nos ensinam que o neoliberalismo é bom para o Brasil, para o Vietnam, e para a Namíbia. Ensinam que os países Europeus se desenvolveram pois são mais organizados. Que somos atrasados devido ao nosso fracasso, nossa cultura “defasada”. E que a culpa de sermos atrasados, pobres, corruptos, é praticamente toda nossa, e que os  países exploradores têm pouca ou nenhuma parcela de culpa. Também nos ensinam que, se uma etnia foi explorada há algumas décadas, ou mais de um século no passado, não há mais nada a ser retratado, não há mais dívida, pois afinal, 1 século é tempo suficiente para um povo se colocar em pé de igualdade com outro (grande balela!).

Eu sou a favor de pedidos de desculpas e pagamentos justos de dívidas, seja financeiramente, seja com investimentos tecnológicos e acadêmicos naqueles países…. Não por parte da Alemanha somente, mas por parte de todos os países que hoje usufruem de um bem-estar social em parte devido às todas atrocidades feitas em outras regiões e contra outros seres humanos.
Imaginem se uma comoção mundial entrasse em vigor, organizada por ONGs sociais e com apoio da ONU, e uma onda de investimentos em educação, saúde e tecnologia, financiada pelos países ricos, começasse a acontecer nos países que foram explorados e sugados num passado recente? E assim, esses países recebessem um pouco daquilo que lhes foi tomado, e pudessem assim voltar a sonhar com uma certa independência e dignidade de vida?
Até mesmo as sociedades dos países ricos teriam enormes ganhos, pois além de dormir com a consciência mais  limpa, ainda teriam menos problemas com os efeitos colaterais causados pelas massivas imigrações (imigrantes e refugiados), que iriam ser reduzidas fortemente se as condições de vida naqueles países melhorassem, e ainda notariam uma forte redução nas ondas de terrorismo em seus países. Além disso tudo, estes países explorados se tornariam mais civilizados e mais seguros, tornando-se destinos turísticos ainda mais paradisíacos para os cidadãos dos países exploradores.
Como podemos ver, todos ganham!

O fato é que, enquanto nós, nascidos em países explorados, continuarmos reproduzindo o discurso  de quem nos explorou e ainda explora, nossos países continuarão nestas condições, num ciclo eterno de subdesenvolvimento, violência e ignorância. Afinal, o interesse e a vontade de mudança só podem surgir, se houver um despertar de consciência dentro de nós. Esse interesse jamais surgirá dos povos dominantes, pois eles usufruem dos mais diversos benefícios oriundos de nossa ignorância e desinteresse.

por Miguelito revoltado
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Menos violenta, mas não menos genocida, toda a colonização ostensiva Européia terminou “aculturando” civilizações seculares e inocentes na América Latina. As vezes por força da pólvora, como contam os relatos de Aztecas, Maias e Incas, mas muitas vezes simplesmente pela imposição de costumes e religiões.

Esse raciocínio, de genocídio ou de “extinção programada”, por exemplo, ocorreu com os índios Yamanás e Selknams, que viviam no extremo sul do continente americano.

Nus, não por acaso, estes povos eram adaptados às condições adversas do lugar, eram hábeis com canoas, usufruíam de abundante caça e pesca local, e passavam no corpo gordura de leões marinhos, para suportar o frio intenso. As fogueiras desses índios deram o nome ao lugar: “Terra do Fogo”, chamaram os Europeus.

Que fizeram explorações para cruzar o Cabo Horns, encontrando um caminho diferente entre Atlântico e Pacífico.
Que estudaram a Antártida a partir dali.
Que evoluíram em sua “evolução”, graças a Darwin e também à uma ilha da região.
Que lutaram por outras ilhas: Franceses, Portugueses, Espanhóis e Ingleses…

Mas… infelizmente… não respeitaram o povo oriundo e originário dali!
Impuseram condições, expulsaram das terras, exploraram e grilaram por onde estiveram.
Como, em sã consciência, um sujeito elitizado e capitalista, acostumado com regras europeias, toma por normal a construção permanente de casas, fortalezas e igrejas num terreno que não o pertence?

Seguindo a linha defendida pelo Miguel, o mínimo que o explorador poderia propor era um aluguel temporário.
Oferecer os serviços de benfeitorias, as casas, as igrejas. E, após concluídas, deixar que os habitantes locais determinassem o que fazer com elas.
Alguns relatos locais dizem que os primeiros índios Selknam que foram vestidos pelos Ingleses que lá estiveram e receberam aulas do idioma, abandonaram roupas e voltaram a viver a seu modo poucos meses depois. A insistência das “melhores condições morais e sociais europeias”, dizimou a população indígena do local.

Conclusão óbvia, os primeiros ingleses que realizaram um assentamento de “brancos” na Terra de Fogo, em companhia do Reverendo Thomas Bridges, já estão na 6ª. geração e seguem a morando na Estância Harberton, uma das mais concorridas estâncias de Ushuaia, famosa pos atrações turísticas. Ou seja, as casas e hotéis construídas, estão gerando renda há cinco gerações.
Enquanto que os quase 3 mil Yamanás que viviam naquela região à luz da época desapareceram em 50 anos. Na referência que li (aqui), o autor relata que há (ou havia) apenas uma última índia Yamaná, com cerca de 80 anos de idade. Sendo todos os demais descentes “mestiços e aculturados” (sic).

Finalizando… Quem realmente acredita que as imposições do rico para o pobre pararam?
Que somos e estamos livres ideologicamente nos dias de hoje? E que a nossa ignorância, passividade e subserviência não são comemoradas por países imperialistas e classes dominantes?

Vale o exercício de reflexão.

por Celsão correto.

figura retirada da matéria do UOL sobre os Herero e Nama (novamente aqui)

P.S.: para quem quiser ler a estória dos índios da Terra do Fogo, segue um link de partida bem bacana (aqui)

trump-4No próximo dia oito de novembro, a maior força política mundial elegerá o seu próximo presidente.
Republicanos com seu Donald Trump batalham contra Democratas e a ex-primeira dama, Hillary Clinton. O primeiro representa o conservadorismo extremo, a direita liberal, aquele americano médio, individualista, que tem a vida ganha e não precisa se preocupar com o resto do mundo; a segunda pertence ao partido de centro, ou centro-esquerda (sob a ótica capitalista daquele país), é o liberalismo social e a aceitação das diferenças e das imperfeições da sociedade.

Num ambiente globalizado, a preocupação com o destino dos gringos é compreensível. Talvez válida.
E, num momento de crise local, muita gente acompanha o desenrolar da campanha presidencial americana temendo uma piora, ou amarrando-se nessa “piora anunciada”, caso ganhe esse ou aquele.
E não é que descobrimos divertidamente que as campanhas americanas são parecidas com as nossas? Muito ataque gratuito, muita estória distorcida ou realçada para macular os projetos do adversário, ou o próprio como pessoa; como se o alto cargo a ser exercido dependesse simplesmente desta única pessoa. E não de um colegiado de legisladores.
O lado direito mistura fatores relevantes como emails privados tratando de assuntos governamentais confidenciais, com pouco relevantes casos extra conjugais e culpabilidade questionável de Hillary nas promessas de campanha não-cumpridas por Obama. E o lado centro-esquerda usa declarações polêmicas de Trump sobre racismo, sexismo, terrorismo misturado a sonegação de impostos e frases soltas há anos atrás…

Por um lado, sabemos que o “ataque” nos Estados Unidos é mais facilitado pela estrutura dos partidos. Um candidato Democrata só precisa “desmerecer” o Republicano e vice-versa.
O que torna mais fácil uma campanha midiática contra um partido ou candidato.
Traçando um paralelo crítico com o Brasil, na última campanha para a prefeitura de São Paulo, PMDB, PT e PRB digladiaram-se e atacaram-se mutuamente, entregando a vitória em primeiro turno ao PSDB.
O que talvez pudesse ser feito, mais assertiva- e efetivamente, no caso da prefeitura daqui, é um ataque coordenado dos três aspirantes ao segundo turno ao líder das pesquisas. Isso desconsiderando a influência da mídia paulista, pendente ao tucano e o próprio tempo disponibilizado ao PSDB de acordo com as leis eleitorais vigentes.

Agora… Além do “susto” de perceber que eles lá se atacam tanto quanto nós aqui, ainda pior é perceber que a mídia está influenciando, ou pode estar influenciando, o resultado das eleições. Como acontece por aqui.
No Brasil, o medo da mídia é perder o poder “modelador” ou “influenciador” da população. Era (ou é) sofrer uma reforma midiática, fortalecer canais alternativos de informação. E permitir, no fim, que surjam seres pensantes e críticos.
Nos Estados Unidos, também existe influência midiática na população, principalmente voltada ao consumo. A economia e o domínio econômico exercido em todo o Globo dependem disso. A ameaça ao status quo é o extremo do lado direito, é este extremo que pode derrubar os “direitos” de manipular ou o modo com que fazem isso, por mais estranho que possa parecer.

manchetometro_trump_hillaryPor isso, enquanto vimos no Brasil um direcionamento de críticas à esquerda, ou ao PT, como representante mais proeminente; vemos nos Estados Unidos o ataque da mídia direcionado ao Trump. Para cada matéria vinculada negativamente ao Republicano, existe outra neutra ou mesmo positiva em relação ao outro lado da disputa.
Um exemplo sobre essa manipulação nos Estados Unidos, pode ser visto num vídeo aqui. Pra quem quiser, em alguns de nossos posts, destacamos o manchetômetro, falando sobre o modo como a mídia brasileira divulgou notícias sobre o PT em 2014 especificamente (aqui para o Jornal Nacional exclusivamente). A figura ao lado mostra algo semelhante, uma espécie de manchetômetro comparando os emails vazados da democrata, com as frases ditas por Trump.

Assusta isso?
Claro!
É possível evitar isso?
Não. Na minha opinião.
E é saudável condenar e lutar contra isso?
A resposta “humana” é: depende do lado que se está. 🙂

Sou extremamente contra o republicano Trump.
Não gosto do jeito com que ele endereça os problemas existentes de terrorismo, desemprego e saúde pública precária correlacionando quase sempre com grave preconceito contra latinos, negros, muçulmanos e mulheres.
Acho ele um “Bolsonaro” com dinheiro e assustador apoio popular.
E as vezes, devo admitir, eu torço por ele. Torço para que ele ganhe e os americanos percebam o quão nocivo para si próprio é o conservadorismo… A torcida “passa” quando penso na influência que uma vitória de Trump teria aqui e em outras partes menos favorecidas do mundo.
Concluindo: eu também influenciaria beneficiando Hillary se eu pudesse (na realidade, minha preferência inicial era o ex-senador Bernie Sanders, um pouco mais a esquerda que Hillary). E me peguei pensando: é justo criticar a imprensa quando o “meu lado” é desfavorecido, não seria justo criticar também a “main stream media” no caso deste lado ser extremamente beneficiado?

Enfim… vale a pena assistir o vídeo e a análise do que é veiculado nele (link novamente aqui).

por Celsão correto

figuras retiradas daqui e do vídeo citado aqui.

P.S.: para quem quiser ler uma publicação nossa sobre a manipulação da mídia, sobretudo nas eleições brasileiras de 2014, segue link aqui, falando sobre o modo como o Jornal Nacional entrevistou os candidatos à presidência naquele ano.

post_nuzmanNosso ilustríssimo presidente do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) acaba de se reeleger pela sexta vez. E completará ao final do seu mandato, 25 anos no poder.
Mesmo sabendo desde já que esse é seu último mandato, pela idade que terá em 2021, essa perpetuação é algo absurdo e inaceitável.
A lei permite que ele faça isso. Leis semelhantes amparam outros presidentes de entidades desportivas (CBF, CDBA, CBTKD, entre outras) a se manterem nos cargos por décadas.
Mas não são as leis, nesse caso, que estão erradas ou distorcidas (ok! talvez um pouco); o que envergonha é a manipulação das federações, visando esse regime ditatorial e pernicioso.

Não há como negar que a alternância no poder, especialmente nesse caso, seja benéfica.
Se por um lado há o risco do sucessor desfazer as melhorias e processos do sucedido, essas medidas geram o contraexemplo, a “prova dos nove” necessária para que se percebam erros e se descubram falcatruas.
Numa confederação desportiva, numa associação de classe, na gerência de um departamento de uma empresa, a perpetuação gera vícios e favorecidos, gera manipulação e segregação, gera medo!
Ninguém se opõe sabendo que perderá e, além disso, sofrerá consequências graves como isolamento.
No caso desta eleição de Carlos Nuzman para o COB, pobre da Confederação de Tênis de Mesa e de seu atual presidente, Alaor Azevedo. Certamente sofrerá consequências indesejáveis.

Talvez nem seja preciso pontuar os inúmeros escândalos no COB e em outros comitês e confederações.
Temos o caso de compra de material pela CBDA (Confederação Brasileira de Deportos Aquáticos) da empresa Natação Comércio de Artigos Esportivos, que tem como endereço registrado um pet shop em São Paulo (aqui), temos a empresa que recebeu inúmeros pedidos que fica situada a 230 metros da sede do COB na Barra de Tijuca, Rio de Janeiro (aqui), temos o caso das câmeras compradas em esquema de superfaturamento, pela Confederação Brasileira de  Taekwondo (CBTKD), também citado na reportagem…
Muitas são as confederações investigadas pelo Ministério Público e Polícia Federal; algumas inclusive tiveram recentemente seus longevos presidentes afastados por acusações de desvio de recursos (dinheiro) que deveria ser usado na preparação de atletas exatamente para as Olimpíadas e Paraolimpíadas do Rio. Notícias aqui e aqui com exemplos da Natação e Taekwondo.
E, acima dos “pilantras” menores, alguém que manobra seguidamente as regras do jogo do Comitê “maior”, daquele que defende e distribui recursos aos demais, se firma como um ditador. Tão sujo quanto todos os seus vassalos…

E não são poucos os atletas que abandonaram, temporaria- ou permanentemente, as suas federações.
Aurélio Miguel o fez após a medalha de 1988. Competindo em Atenas em 1992, mas após três anos “afastado” da confederação. Uma atleta da esgrima, Élora Ugo, medalhista mundial em 2003, o fez em protesto, por falta de patrocínio, de uma confederação acusada (também) de desvio de recursos (aqui).
O ex-tenista Fernando Meligeni, argentino de nascimento, mas brasileiro de coração, que brilhou nas Olimpíadas de Atlanta em 1996, fez sua carta de repúdio aqui.
Comum a todos estes atletas está a recusa de aceitar mandos e desmandos de pessoas incompetentes, de corruptos, de políticos infiltrados num meio que deveria buscar evolução e transparência.

Imaginemos agora aqueles atletas que tiveram de abandonar a carreira ou a preparação para os jogos por falta de recursos…
Ou aqueles inúmeros “vencedores individuais” que ou através de apoio familiar, ou se valendo de parcos recursos próprios, superaram as dificuldades da falta de dinheiro e venceram! Como seria a vida deles se não tivéssemos esse regime ditatorial e corrupto nas confederações? Quão tranquilos seriam os meses entre uma competição em outra? Com material, treinadores, alimentação e sem o stress emocional de não conseguir viver do esporte…

Aquele velhinho simpático, que tremia em suas declarações intempestivas e nas traduções despretensiosas durante as cerimônias da Olimpíada, que foi alvo de inúmeros memes e que foi defendido por depoimentos benevolentes posteriormente, esse “pobre velhinho” não merece o nosso respeito. Sequer as nossas piadas.

por Celsão correto

figura retirada daqui

doriaEleições municipais concluídas em São Paulo.
Vitória massacrante, em primeiro turno, da nova estrela da direita, ou centro-direita-anti-PT: João Dória Jr.
O candidato teve pouco mais que 53% dos votos válidos! Desbancando não só o ex-prefeito Haddad, como também o “herói do povo”, Celso Russomano e duas ex-prefeitas: Luiza Erundina e Marta Suplicy.

Tenho algumas considerações a fazer, ou opiniões a compartilhar, do meu modo “pirata” pra variar. Como estamos no Opiniões em Sintonia Pirata, nada mais natural.

Decepção em relação ao PT e aos outros candidatos? Pode ser.
Falta de opção? Também uma resposta possível.
Afinal, Haddad carregava a estrela do PT, massacrada pela mídia, mesmo evoluindo a cidade com projetos interessantes, como as discussões sobre o zoneamento da cidade (exposto aqui); Marta tinha alta taxa de rejeição, por estórias como Ministra do Turismo, de ex-prefeita, de política polêmica que pensa pouco; e Russomano é aquela incógnita apoiada por evangélicos e radicais conservadores, que sempre começa bem por ser conhecido na mídia antes da campanha da TV…

Pra começar, sabiam que existe um estudo que correlaciona o dinheiro investido, o tempo na TV e o número de votos?
E, nem é tão surpresa assim se pensarmos um pouco, a relação é direta: mais tempo de exposição, maior votação. Aquela velha frase de avó: “quem é visto, é lembrado”.
O estudo está aqui, em PDF. É extenso, mas interessante. Os autores, Bruno Speck e Emerson Cervi, analisam as eleições para prefeito em 2012.
Copio abaixo um trecho da conclusão:

Nos maiores municípios a diferença [do desempenho eleitoral] é ainda maior, com quase nenhuma importância da “memória eleitoral”. O que importa nessas disputas são as condições mais imediatas dos candidatos: estarem em partidos ou coligações com força/tempo de horário eleitoral e conseguirem maior participação no montante de recursos destinados às finanças de campanha.

Ou seja, aquilo que o governador Geraldo Alckmin, padrinho político do nosso Dória, fez ao negociar uma secretaria com o PP em busca de tempo de horário eleitoral e exposição na TV, valeu muito a pena.
Expulsar uma professora da secretaria do Meio Ambiente fez com que a coligação de João Dória obtivesse um aumento de 25% para o seu sorriso.
Pra quem não leu, a manobra foi tão suspeita que o Ministério Público pediu a cassação da candidatura do peessedebista por desvio de finalidade (aqui e aqui)

Um outro contraponto à “acachapante” vitória de Dória (colei do UOL a rima) é a quantidade de abstenções. Quer seja por falta simples, 21,84% do total, quer seja pela quantidade de nulos (11,35% dos votantes) e brancos (5,3%), somando mais de um milhão, cento e cinquenta mil eleitores, negando todos os candidatos, em análise simples.
Só 65,15% dos eleitores votaram em algum candidato. E os 53% de Dória tornam-se apenas 34,72%…
É relevante? Eu diria que sim, uma vez que o voto é obrigatório em nosso país. Dá pra dizer, de forma distorcida, mas verdadeira, que 65% das pessoas não votaram em João Dória!
(os resultados podem ser obtidos do site do TRE – aqui. Aproveito para colar o link direto para as abstenções e para a votação)

Agora o que julgo ser mais grave: o governo Alckmin beneficiou empresas do “amigo” e afilhado João Dória Jr. em seu governo.
Foram anúncios nas revistas de Dória e eventos patrocinados pelo banco de fomento Desenvolve SP. Os “investimentos” somam R$4,5 milhões entre 2010 e 2015, período em que ambos se tornaram mais próximos.
E não é só nos governos do PSDB, o Grupo Doria usufruiu do “jeito petista de administrar”, de Lula a Dilma. Mesmo apartidário e apolítico, foi patrocinado pela Petrobrás e recebeu repasse dos Correios.
A fonte não é o pragmatismo político ou o Tico Santa Cruz, é a Folha de São Paulo (aqui).

Pra concluir, espero que nosso amigo “dazelite” cale minha boca, e realmente administre como um CEO.
Alguns amigos defendem a teoria de que uma cidade é como uma empresa. Sub-prefeitos são conselheiros, vereadores são diretores, secretários acionistas (não necessariamente nessa ordem). Dória pode provar que, racionalmente, há saída lucrativa (ou não-negativa) para uma cidade como São Paulo, terceiro orçamento da Nação.
Por falar em orçamento, se realmente acabar com a indústria da multa do Haddad, saída do petista para aumentar a arrecadação e diminuir a dívida municipal, já fará muito!
Sou contra as privatizações. Vejo o charmoso estádio do Pacaembu e seu clube tornarem-se prédios de alto padrão; e o mesmo pode acontecer com o Anhembi e o Autódromo de Interlagos… Esse último, inviabiliza de vez o GP Brasil de F1 no país, um dos eventos que mais atrai turistas para a cidade, após inúmeras adequações e reformas feitas em outros mandatos…

Quem viver verá!

por Celsão revoltado

figura retirada daqui

P.S.: sou contra o “esquema” de aumento de arrecadação através de multas aplicadas por guardas que deveriam ter outras funções, por armadilhas montadas nas ruas, por tocaias nos viadutos. Mas entendo o desespero de quem tinha uma grande dívida e pensava em fazer algo para a cidade…

P.S.2: atualizei o link do estudo sobre dinheiro e tempo em TV na campanha para prefeito de São Paulo em 02/11/2016. E coloco aqui outro link para download, passível de cadastramento no site, caso o anterior também mude ou “desapareça”.
Outra leitura que vale a pena, resenha feita por Gabriela Siqueira, da Universidade Federal de Minas Gerais, sobre o tema, citando múltiplos estudos e textos está aqui

bandeira-do-brasil-se-derretendo_v1Eu queria que ser esquerda no Brasil não fosse condenável, não fosse sinônimo de burrice ou vagabundagem.
A esquerda daqui, ou classificando melhor, a esquerda em sua essência, quer reparação de injustiças, quer oportunidades iguais, ou seja, quer ISONOMIA! Afinal é impossível falar de meritocracia sem equiparidade de condições.
Vagabundos (disléxicos, preguiçosos, deficientes) surgem e surgirão qualquer que seja o regime de governo e qualquer que seja o partido político no poder.
Num regime justo ou de condições “iniciais” equiparadas, eles teriam as mesmas oportunidades, sem razão para os “mimimis” tão criticados. Seria lhes garantido um emprego e um salário suficiente (?) para sobreviver dignamente. E, se não houver emprego ou capacidade de exercer função produtiva, há auxílio estatal, como em outros países do mundo.
Em nosso país, de regime distorcido, um vagabundo bem nascido usará seus meios e contatos familiares para seguir exercendo sua influência e seu poder. Terá casa, carro, férias e Facebook. Mas se houver nascido pobre, passará por necessidades e sequer terá o básico para si.

Eu queria que o PT fosse a esquerda.
Que todo o sonho de ascensão do povo, dos trabalhadores ao poder fosse bem representado. Não somente com aumento real de renda e diminuição da desigualdade social (que inegavelmente ocorreu), mas que as reformas tão pleiteadas e necessárias também fossem realizadas: tributária, política, midiática, agrária…
Como seria bom se o discurso do PSOL de hoje, vide Luciana Genro nas eleições de 2014, pudesse ser implementado. Do povo e para o povo!

Eu queria que o sistema político brasileiro fosse diferente. Fosse outro.
Queria que não houvessem conchavos, que os partidos e políticos avaliassem as leis propostas independente de um “comando geral”, ligado a diretórios e interesses espúrios. Que não houvesse troca de cargos por favores em votações… Ou que o poder do legislativo não fosse tão vasto.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, criticou nessa semana o sistema político na revista Isto É (aqui). Eu admirava bastante o FHC. A clareza em expor ideias, a fluência em idiomas, o período de transição de Ministro a Presidente e o plano Real.
Mas ele foi o presidente que mais “se afundou” em conchavos, em minha curta experiência de observação política. E o fez exatamente para que a reeleição fosse aprovada e para que tivesse o seu segundo mandato! Assunto que o desagrada atualmente…
Voltando ao parágrafo anterior, se o PT não tivesse “se rendido” ao PMDB e outras alianças ainda piores, talvez não tivesse um governo longo, talvez não tivesse “surfado” na onda de popularidade, mas seria ideologicamente elogiável.

Eu queria que o país não fosse intrinsecamente corrupto.
Que ao realizar um boletim de ocorrência em uma delegacia, eu não precisasse ouvir da própria delegada que fui tolo ao entregar a minha licença de conduzir ao órgão competente, para uma punição de três meses, após atingir um limite de pontos determinado por lei. A delegada em questão disse que não o faria e que aconselha amigos e familiares para que não o façam…
Queria que criticássemos a corrupção olhando para nós mesmos, sem hipocrisia. E que a palavra ‘corrupção’ fosse classificada como palavrão, ideia já publicada aqui no blog no final de 2013 como desejo para 2014.

Eu queria que os partidos políticos envolvidos com corrupção fossem extintos! Que fossem dissolvidos.
E que os futuros partidos a se formar tivessem de se adaptar a “correntes políticas”, já que o meu sonho dos cinco ou seis partidos é utópico demais no Brasil (aqui).

E eu queria que não fossemos tão egoístas e preconceituosos. E que aceitássemos gays, mulheres, negros e pobres na sociedade que vivemos, nos mesmos lugares ou em posições de liderança e poder.
Pense! Realmente aceitaríamos essas minorias em todos os lugares que eles podem ocupar?
Aceitaríamos eles nos mesmos restaurantes, no açougue e no mercado? Como colegas de trabalho ou como chefes… síndico do prédio, diretor da escola do filho…
No barzinho, também com um chinelo havaianas, mas talvez como o único calçado, aceitaríamos que um morador de rua comesse ao nosso lado?

Voltando ao PT, eu queria que a opção para 2014 não fosse a Dilma. Ou que ela fosse uma política nata, boa de retórica e de convencimento. Que ela fosse uma estadista como a Merkel ou pudesse unificar o Congresso o suficiente para conseguir governar.
Queria que a esquerda tivesse se desenvolvido aceleradamente e se apresentasse com um quadro político e técnico suficiente para compor pastas e secretarias.

Eu queria que, também, o apoio no Congresso não fosse tão importante para a governabilidade.
Pois afinal, não foram somente os discursos atrapalhados e as conclusões confusas que afastaram a presidente do povo e das graças da Grande Mídia. A falta de apoio legislativo, a ausência de “tato” fez ruir a apertada diferença de votos obtida nas eleições de 2014.
Criamos a jurisprudência de afastar qualquer presidente sem apoio majoritário do Congresso. Tão grave quanto danoso à nossa jovem democracia.

Eu queria que o afastamento, se tivesse de ocorrer, fosse por um crime inegável e irrefutável. De dolo provado. Por exemplo, pela utilização de recurso proveniente de corrupção para financiamento de campanha. (acusação ainda em trâmite, no TSE, levantada pelo derrotado PSDB de Aécio Neves)
Nesse caso não teríamos Temer, talvez sequer PMDB no cargo mais alto do Executivo da Nação.
Teríamos uma nova eleição, de resultados pouco previsíveis…
Voltando ao ponto do apoio do Congresso, o crime perpetrado, das pedaladas, nunca seria sequer investigado se a presidente ainda gozasse de apoio no Legislativo. Se ainda tivesse os mesmos aliados do primeiro mandato.

Eu queria também que as revistas mais lidas do Brasil, os programas de TV mais vistos, os sites mais acessados não pertencessem a grandes grupos, de grandes famílias, representando oligarquias históricas. Meios sem escrúpulos que guiam suas matérias e coberturas meramente pelo interesse, que comandam os golpes suaves, que se alinham a movimentos internacionais de controle…

Concluindo, usarei a chance para migrar para os recentes acontecimentos políticos.
Eu queria que todos avaliassem a seguinte hipótese: se o PT fosse direita, se não houvesse corrupção, se Dilma fosse homem e se Lula fosse um burguês paulista e bem nascido, da família Frias ou Marinho?
Não quero defender ninguém de modo unilateral. Nos desejos para 2015 também publicado aqui, eu já defendia “cortar na carne” quando houvesse desvio de conduta e/ou de comportamento.
Eu queria que esquecêssemos a frase do “ele também fez” e passássemos a uma nova fase, de oposição atuante e apoio consciente à boas ideias.

Eu queria que todos os culpados fossem presos (e que sejam!). Ou ao menos condenados ao ostracismo político (que, creio, seria igualmente dolorido).
Deixemo-los filiados e militantes, mas os proibamos de ocupar cargos, de exercer poder. Se o interesse for realmente ideológico e puramente político, a militância seguirá e o trabalho pode ser bem útil, no sentido de despertar interesse em outras pessoas.

E, finalmente, eu queria que a esquerda ressurgisse já em 2018, como alternativa sempre necessária ao status quo capitalista e segregacionista.

por Celsão revoltado

figura: montagem do contorno do mapa do Brasil com figura retirada do Pinterest aqui

Post_9mesesNove meses. Reta final.
Dessa vez não é um bebê que vem ao mundo, mas uma presidente eleita que deve ser permanentemente afastada, sofrerá o quase certo impeachment.

Hoje pensei em exercitar a memória e me perguntar o que aconteceu no período.

Primeiro o processo foi iniciado pelo então (e provavelmente futuro) presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, exercendo o poder a ele concedido.
O senhor Cunha não precisa de apresentações. Procrastina o próprio processo de cassação há um bom tempo e articulou sabiamente até aqui para que o mesmo acabe em pizza.
Se alguém não mais acompanha, o atual presidente, Rodrigo Maia, marcou para 12 de Setembro a seção de votação do processo de cassação de Cunha. A data é propositalmente uma segunda-feira, historicamente sem grande movimento na casa, e o mais próximo possível da data das eleições municipais deste ano. Sem quórum, sem cassação.
Sem contar que ocorrerá depois da definição sobre Dilma, aumentando as chances do perdão ao peemedebista.
Além disso, não esqueçamos, que o pedido de impeachment de Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal é de Setembro de 2015! Mais precisamente, 01/09/2015. E só foi aceito pelo ilustríssimo Eduardo Cunha em Dezembro (!) após a bancada do PT votar a favor da cassação de Cunha no Conselho de Ética.
Ou seja, tudo começou por birra e pelo fato de deputados do PT buscarem algo de ética no legislativo!
(referências aqui sobre o pedido de impeachment e aqui sobre o início do processo)

Depois vieram as reuniões e promessas da oposição (não querendo simplificar nem classificar aqui como direita).
Foi um período de discussões ácidas e acusações mútuas em redes sociais. Julgamentos. Dicotomia. Ou se era coxinha, ou petralha. Um lado precisava ser escolhido, como o sexo com que se nasce…
Foi o período também que as palavras golpe e democracia foram usadas pelos “dois lados” com interpretações e maquinações diversas.
Destaco que o lado coxinha, “apelou” de modo confuso e unilateral para o fim da corrupção, para a retomada do crescimento, da confiança dos empresários, do fim da crise.
O lado petralha acusava a oposição de fazer (e haver feito) o mesmo “crime”, das tais pedaladas fiscais.
Escrevemos sobre isso algumas vezes, destaco uma interpretação de americanos que estudam o Brasil e os chamados “golpes suaves”, aqui.

E, complementando, o período também foi de Lava Jato. De furor, de heroísmo do poder Judiciário, que vivia uma ganância por aparecer. Uma “ambição de vitrine” no ícone Sérgio Moro.
Este personagem dantesco, vivia um período de absolutismo. Deteu, coagiu, forçou delações premiadas. Aqui, o interessante foram as críticas de juristas e juízes aos seus métodos. E a comparação à uma operação semelhante ocorrida na Itália.
Naquele país, o juiz que condenou políticos e empresários, entrou para a política.
Aqui, o nosso herói deixava escapar sorrisos ao ser aclamado nas ruas e ao receber convites para filiações partidárias.
Os crimes também foram relativizados. Uma escuta clandestina pôde valer para um, mas não para outro. Uma acusação em delação, idem. A mídia execrou quem ela quis, apoiando a oposição e direcionando o brasileiro mediano a aceitar os caminhos que estavam em curso…
Um exemplo do que ocorreu, quando Jucá assume em gravação que participou da manipulação para o impeachment, pode ser lido aqui. Um exemplo dos contrapontos jurídicos do herói Moro pode ser lido aqui.

Temer assume.
Glória a Deus nas alturas! Nesse caso quase que literalmente, pois nosso interino se declarou católico e simpatizante dos evangélicos nas redes sociais. Além disso, fez aparecer que sua esposa, apesar de muito mais nova que ele, era “bela, recatada e do lar”. Segundo uma tal revista, apoiadora de todo o movimento (aqui).
A imagem estava em plena construção.

Ministros nomeados. Patética demonstração de rabo preso e desconstrução do passado recente.
Se toda a mudança é positiva, não é tudo o que se precisa mudar…
Muitos condenados na lista, nenhuma minoria: negro, mulher. Cortes de pastas em setores “pouco importantes”, como a Cultura (totalmente desinteressante quando se quer manipular) e a reforma agrária (afinal, quem quer terra é pobre aproveitador. Um pobre correto busca outro trabalho!)
A confusão se instaura quando muitas das decisões são revogadas e ministros afastados (como o próprio Jucá, citado em link acima). Nós publicamos a nossa análise do ministério, vindo de outra fonte, aqui.

E agora estamos aqui.
A Operação Lava-Jato, ícone para muitos do “combate à corrupção” caminha a passos de tartaruga. Como que se já tivesse cumprido a função pré-determinada…
A tal redução de gastos virou chacota. Um dos maiores aumentos de salários do STF e poder judiciário está em curso. Aumento, lembremos, vetado por Dilma no ano passado e adiado por Meirelles no momento da posse (para não correr o risco de causar problemas e revoltas no princípio da “retomada”).
Tal aumento, certamente desencadeará outros tantos. Pois os outros poderes terão prerrogativas de equiparação.
E o rombo, que seria de R$139 bilhões, pode passar facilmente dos 200!
E, ao meu ver, isso não preocupa o presidente interino, nem a sua equipe. Parodiando Ciro Gomes: “Cobrar austeridade de Temer é esperar maracujá em pé de maçã” (aqui)

Ainda espero a mágica do fim da corrupção, do fim da crise, do crescimento industrial, do Brasil rico!
Pois a mágica do Brasil igualitário, essa está cada dia mais distante…
Enquanto esperamos, vemos coisas como o plano de demissões voluntárias da Embraer. Numa economia em plena recuperação…

por Celsão revoltado

figura: composição entre figuras retiradas daqui e daqui

 

Baghdad

Peço a atenção de vocês para este desabafo longo. Penso ser de vital importância, e por isso convido nossos leitores a lê-lo até o fim.

Todos vocês já notaram, pelo menos superficialmente, como funciona propaganda e marketing em cadeia na internet, não é mesmo?

Por exemplo, você abre um site como Amazon, ou Mercado Livre, e olha computadores. Quando você abre o Facebook, tem propaganda de computador na lateral do Face sendo anunciado para você.
Essas empresas, como Amazon, Ebay, Mercado Livre, e qualquer outra de venda online, pagam ao Facebook para que os produtos deles sejam mostrados para os usuários, e claro, com uma inteligência de rastreamento ferrada, que direciona os produtos certos para as pessoas certas.

O mesmo acontece quando você abre o youtube, ou outros diversos sites da internet. Através de um Data Mining eficiente, a maioria dos sites podem te rastrear, analisam seu perfil e fazem chegar até você EXATAMENTE aquilo que você QUER !

Não é crítica, nem elogio. Tampouco é uma análise ideológica, ou de opinião. Estou relatando um fato concreto, matemática e inteligência digital sendo usada para fins de marketing e propaganda, consumo.

Da mesma forma, se você tem um blog ou um site, você pode pagar ao Facebook, ao google, etc, para que seus posts, artigos, fotos, etc, sejam “divulgados” como prioridade. Por exemplo, um blog que não paga pelo serviço, é difícil ser encontrado no google. Este é o caso do meu blog, Opiniões em Sintonia Pirata. Você pode digitar no google várias palavras-chave de algum artigo do meu blog, e com muita sorte, o artigo aparecerá na 4°, 5° página.
Diversos outros artigos, de outros sites, que nem possuem todas aquelas palavras-chave no texto, aparecerão antes do meu artigo, o qual você procura. Isso acontece, principalmente, por eles pagarem o serviço, e assim, o google empurra o site deles na frente da lista.

No Facebook eu posso pagar para aumentar o “alcance” dos meus posts do blog, ou até posts pessoais (nunca o fiz, pois meu blog não tem fins lucrativos, pelo contrário, temos uma despesa de 99 dólares por ano, num perfil “TOP”, que nos permite, basicamente, bloquear anúncios em nossa página, e não ganhamos 1 centavo – só fazemos isso, pois eu e Celsão temos a utopia e esperança de estarmos ajudando a sociedade).
Se eu pagar, o Facebook usará ferramentas inteligentes para que mais pessoas, com interesses parecidos, ou com amigos em comum, ou que curtam as mesmas páginas que eu, ou ou ou, tenham contato com o meu post. De repente, o meu blog começará a aparecer ao lado direito do Facebook alheio, ou o Facebook te sugerirá curtir meu artigo, ou minha página, mesmo você não sendo meu amigo no Face.
Isso se chama “impulsionar”.

Por que estou falando tudo isso?

Bom, na época do atentado em Paris, escrevi uma crítica bem diplomática, onde eu explicava porque as pessoas se comovem, mudam fotos, colocam as cores da bandeira, quando uma tragédia ocorre na França, na Alemanha, na Bélgica, nos EUA, etc…. mas quando a tragédia é na Síria, Iraque, Bangladesh, Nigéria, Venezuela, Afeganistão, etc, ou a pessoa nem fica sabendo, ou, se fica sabendo no máximo diz “nossa, que absurdo, que triste”, e no dia seguinte já esqueceu.

Na época expliquei que, a culpa direta não é do cidadão comum, apesar do cidadão comum também ter sua parcela de culpa indireta (explico no fim do texto). Mas o principal culpado para essa indignação e tristeza seletiva é a alienação, e a manipulação exercida por aqueles que detêm os meios de comunicação, e os usam em interesse próprio.

Explicando melhor.
Assim como quando alguém quer anunciar um produto, ele paga por isso, faz seu marketing, as notícias também precisam de financiamento. Quando terroristas islâmicos invadem um jornal francês e matam quase todos da redação, há centenas de diferentes interesses por trás de tal tragédia, por exemplo:
1) países poderosos e imperialistas veem neste episódio a oportunidade de conseguir comoção popular e assim, enfim, legitimar uma possível invasão militar em algum país de onde, “teoricamente”, vêm os terroristas.
2) Um atentado no metrô de Londres pode ser usado pelos grandes jornais do mundo ocidental para conseguir muito IBOPE. Ao encherem os noticiários com aquelas notícias, cobertura ao vivo, etc, lucrarão ainda mais com as propagandas.
3) Fabricantes de armas podem patrocinar a divulgação intensa de certo atentado, para que as pessoas se sintam inseguras, e comprem armas. E claro, no caso de uma invasão militar (item 1), eles irão vender mundos de armas – dinheiro fácil.
4) Políticos com popularidade baixa podem usar tais tragédias para criar um sentimento de “comoção nacional”, o que gera UNIÃO. O resultado desta união é o desvio do foco, fazendo a população esquecer a insatisfação para com o governo. Isso pode até aumentar sua popularidade.

Eu poderia citar muitos outros exemplos aqui, dos interesses que estão envolvidos por trás de tais episódios.
Outro ponto importantíssimo é que estes políticos, fabricantes de armas, meios de comunicação, empresas, etc, podem eles mesmos, armar, organizar e/ou financiar um atentado terrorista, para atingirem seus objetivos. Neste caso, eles podem fazer um acordo com algum grupo radical terrorista, e facilitar e organizar o atentado; como também podem eles mesmos praticarem o atentado com as próprias mãos, e depois adulterarem as provas e manipularem as informações, fazendo parecer que o atentado foi causado por um grupo de terroristas (por exemplo, islâmico). Isso já deixou de ser teoria da conspiração, afinal documentos do Wikileaks e da NSA mostram que essa prática é real, e corriqueira.

Onde quero chegar?

Se você não muda sua foto de Facebook para as cores da bandeira de Bangladesh. Tampouco escreve diariamente sua revolta para com os ataques à Síria. Nem traz para suas discussões em mesas de bar a guerra do Iraque, que perdura até hoje, justificada por presença de armas químicas, e posteriormente gerando um pedido de desculpas do próprio G. W. Bush dizendo que se enganou e que no Iraque não haviam armas químicas. Se você nunca parou para refletir por que a produção de drogas no Afeganistão quase triplicou desde que os EUA, França e Inglaterra invadiram aquele país, e por que eles até hoje não conseguiram implantar um sistema democrático e gerar paz, nem no Iraque, nem no Afeganistão, nem entre Israel e Palestina, nem, nem nem…..

Nunca parou para refletir que, nos últimos 50 anos, todas as guerras que ocidente iniciou na África e Ásia, sempre com o pretexto de levar “democracia” e “paz” para aqueles países, NUNCA geraram paz, nem democracia naqueles países, mas somente mais dor, mais pobreza, mais caos! (dê-me um exemplo como exceção, eu não conheço.)
Se você sequer toma conhecimento das quantas vezes por semana, grupos terroristas, lutas entre grupos de guerrilha, guerras e massacres (quase sempre financiados por empresas e governos das potências ocidentais), ataques de potências mundiais, geram centenas de mortes semanalmente em países da África, Ásia e América do Sul.

Se você pensa no máximo uma vez por mês, quiçá uma vez por semana, nos milhões de refugiados de guerra, que chegam em condições precárias na Europa, buscando fugir do inferno de suas vidas em seus países. Morrem nas fronteiras, por frio e por fome. Morrem afogados em naufrágios na tentativa de cruzar o mar. E quando alojados, vivem com uma esmola de ajuda de custo, e em muitos países, vivem somente com a ajuda de ONGs e doações.
E se, quando pensa nestes refugiados, logo diz “mas eles tem que resolver o problema nos países deles, Alemanha, Inglaterra, Holanda, França, EUA, não têm nada a ver com isso. A Europa não é OBRIGADA a aceitar essa imigração desenfreada. A Europa conquistou sua estabilidade, eles que conquistem a deles”.

Isso tudo não é culpa direta sua. A culpa disso é do SISTEMA.
O Sistema não se interessa em gerar uma comoção e revolta sua, quando o problema é num país pobre, pouco conhecido, e principalmente, quando este país tem uma política de resistência a este mesmo sistema ocidental. Por isso, os jornais e revistas não dão a devida cobertura. Por isso, o Facebook não disponibiliza aplicativos para você mudar a cor da foto. Por isso, ao procurar no google, os melhores artigos sobre tais fatos não serão listados no topo da lista. Por isso, seus amigos falarão pouco disso, o que gera pouca reação em cadeia, e tal notícia chegará de forma superficial e rala até você, se chegar.
Quem manda na informação e quem detêm o poder do Capital, não está interessado em “Impulsionar” tais verdades.

Tudo isso é assim, pois há motivos e interesses MUITO CLAROS por trás, interesses que determinam o que deve nos revoltar, e o que deve ser esquecido por nós. Determinam o que devemos ter conhecimento, e o que não deve chegar até nós.
E assim, manipulam o nosso saber, e nos fazem pensar exatamente da maneira que ELES querem que pensemos.

E por que temos culpa indireta?
Ora, pois somos seres pensantes. Se você tiver interesse, se você resolver conscientemente ativar o pininho do “humanismo”, da “ética”, da “solidariedade”, do “não-comodismo”, do “pensamento crítico”, da “sensibilidade generalizada”, do “auto-combate” contra o próprio orgulho, da “predisposição para construir novos valores” e “rever opiniões e formas de pensar”, dentro de você, e escolher por ABRIR SEUS OLHOS, você deixará de ser tão facilmente manipulado, e terá mais chances de entender o mundo, e fazer sua pequena parte para que este planeta se torne um lugar melhor no futuro, para nossos filhos, netos, bisnetos, etc…..

Mas enquanto você aceitar passivo que “ah, é assim, não posso mudar nada”, ou disser “ah, não é culpa minha, pelo menos demonstro minha tristeza e revolta com as mortes na França”; você estará abastecendo esse marketing predatório, imperialista, escravagista, que faz com que as riquezas do mundo, que são muitas, sejam concentradas nas mãos de menos de 0,001% da população do mundo, e que mais de 50% do mundo passe fome, ou viva em áreas de guerra.

E sim, junto com nossa falta de interesse, vem a questão do TEMPO. Sempre dizemos que “poxa, até entendo isso que você está dizendo, mas não tenho tempo de me informar a esse ponto”.
Eu digo: No mundo atual, globalizado e digital, ninguém tem tempo! Ninguém. Mas tempo a gente não tem, tempo a gente ARRUMA! Basta definir prioridades em sua vida, e bingo, achou tempo.

Obviamente, a falta de tempo é também um dos mecanismos do sistema para que não nos informemos, não nos preocupemos, não nos interessemos. Te sugam com cargas diárias de trabalho de 8 a 12 horas. Depois temos que malhar, fazer esporte, fazer compras, arrumar o equipamento estragado, visitar o amigo, cuidar da família, cozinhar, pagar impostos, resolver burocracias idiotas, pesquisar não sei o que na internet, programar as próximas férias, etc…. e nunca sobra tempo para pensar nas barbaridades do mundo.
A falta de tempo é uma das estratégias do opressor, para nos alienar. Simples assim!
Então, arrume tempo. Se interesse.
Sem sua participação, o mundo não vai melhorar, pelo contrário.

Sim, sinta-se mal, pois suas mãos estão sujas deste sangue.

* Aqui, um vídeo crítico sobre o ataque em Baghdad, e a ausência de solidariedade e revolta mundo afora com relação ao ocorrido. 
* E Aqui, um experimento muito bacana e didático, mostrando a força da publicidade e do dinheiro nas redes sociais. 

por Miguelito Formador

figura retirada do próprio vídeo do youtube