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São 11h do dia 06 de Abril de 2018 e eu me pergunto o que acontecerá agora.

Lula teve prisão decretada por Sérgio Moro e tem de se apresentar à Polícia Federal de Curitiba até as 17h de hoje.
Será que ele se apresenta espontaneamente?
Será que os simpatizantes deixarão a polícia entrar no sindicato dos metalúrgicos em São Bernardo, caso ele decida ficar por lá?
E se ele não sair? Teremos um status de foragido e agravamento de pena imputado ou teremos um confronto polícia vs simpatizantes de Lula?

Sou de esquerda, como sabem, e acabei de publicar um post onde escrevo que a esquerda é maior que o Lula (aqui). O erro é primário, mas insistem em dizer e extrapolar que Esquerdista é Petista, que é “Lulista”…

Como escreveu o amigo Caio Silvestre, numa acalorada discussão via WhatsApp hoje, sobre a polarização dos últimos acontecimentos, processo célere da prisão de Lula e outros temas políticos:

A comoção, de ambos os lados, movida por paixão/ódio, iguala a todos. Uns exageram por amar demais (e se cegam diante dos roubos), enquanto outros se dedicam somente contra o odiado (e são tolerantes com todos os outros).
Sempre com a razão deixada um tanto de lado. Fica incoerente para todo mundo

E completou:

Se há um limite para a questão [corrupção], o limite muda, porque trata-se de movimentação política e não republicana, como querem fazer parecer.
Se havia razão para movimentação quando o nome do Lula surgiu na delação do Delcídio, deveria ter havido razão, também, quando surgiu o nome do Temer.
Se houve razão para indignação quando da nomeação de Lula ministro, deveria ter havido quando se nomeou o Moreira Franco, por exemplo.

 

Retomando o título…
Será que agora veremos celeridade em outros casos, como o de Aécio Neves?
Será que viveremos para ver Eduardo Azeredo, psdbista condenado em segunda instância no chamado “Mensalão Tucano” após quase oito meses do julgamento e reafirmação de condenação (ocorrida em Agosto de 2017), preso?
Detalhes de Azeredo que valem a lembrança: a denúncia foi feita há mais de 11 anos, no longínquo 2007 (aqui) e em Setembro há prescrição, uma vez que Azeredo completará 70 anos… 
Quando será que o STF colocará em pauta, “furando fila”, o tema da prisão em segunda instância, estancando a Lava Jato como previu e pediu há algum tempo Romero Jucá? (post sobre a gravação do peemedebista e estancamento da sangria aqui)

Se Rosa Weber falou a verdade durante a votação e se Gilmar Mendes realmente “mudou de lado” para defender seus interesses e de suas “aves”, teremos muito em breve o retrocesso à impunidade, a justiça para pobres, pretos e “ladrões de galinha” que não podem pagar advogados caros, o cenário de até pouco tempo atrás.

Será que teremos revolta popular, passeatas e protestos em Brasília?
Ou somente aquele sentimento de indignação tupiniquim, que vem acompanhado de regozijo pela desgraça do outro?
Será que a procuradora Raquel Dodge terá pulso firme para exercer seus deveres ou seguirá apenas ajudando os “amigos de Temer”, como fez ao interceder na operação Skala? (aqui)
Será que o Supremo Tribunal Federal seguirá gozando da popularidade e palco para aparecer mais que para julgar?

A corrupção é danosa, nociva à Nação e ao povo, sem se importar com ideologia político-partidária.
Ela deve acabar. Sem dúvida!

Mas… e agora? O que virá a seguir? Mais do mesmo ou realmente uma evolução?
Hoje estou mais realista. Fico com a primeira opção…

por Celsão irônico

figura retirada daqui. O objetivo simples é lembrarmos do rosto de Eduardo Azeredo

 

A justiça cega do BrasilUma boa parte da sociedade brasileira comemorou há pouco tempo a “vitória” da Justiça ao condenar os chamados “Mensaleiros”, principalmente José Dirceu e José Genoíno.
Ao mesmo tempo, uma outra parcela da sociedade alertava para o fato de que o julgamento do Mensalão não representava um progresso na Justiça e tampouco na política brasileira. Pelo contrário, representava “um pouco mais do mesmo”, o que seria a manutenção das mesmas tradições elitistas e conservadoras, afinal, foi o único caso de improbidade administrativa na política brasileira que havia sido julgado com rigorosidade ímpar – inclusive passando por cima da Constituição, da ética e dos costumes, para condenar os réus – justamente por se tratar de um partido/governo mais popular e progressista que praticamente todos os outros que governaram este país por 500 anos. Ou seja, quando justiça “foi feita”, o foi para com políticos mais progressistas, que tendiam a tentar quebrar o Status Quo, ao invés de ter sido aplicada àqueles que mantém tradicionalmente o Status Quo.

A Justiça dormia; acordou quando algo colocava em risco o Status Quo, a desigualdade social, as regalias de poucos em detrimento do sofrimento de muitos, e após ter feito seu trabalho freando o progresso, voltou a dormir, se acomodando nos braços de Morfeu.

As provas de que esta segunda parcela da sociedade parecia ter razão já começam a ficar um pouco mais claras. Após o Mensalão, havia a esperança de que uma nova Era na Justiça e na Política brasileira estava por se iniciar. Porém, na prática, o que vemos é a mesma vagarosidade e parcialidade de sempre, para investigar e julgar outros casos de corrupção ou improbidade administrativa, que não envolvam o PT, mas sim partidos da oposição, como o PSDB e DEM, ou envolvendo o poderoso “ainda aliado” do PT, o PMDB. Exemplos disso são o Mensalão Tucano e o caso do Propinoduto.

Para embasar tais colocações, esse blog replica na íntegra o artigo de Ricardo Melo em sua coluna da Folha de São Paulo. 
Ricardo Melo, 58, é jornalista. Na Folha, foi editor de ‘Opinião’, editor da ‘Primeira Página’, editor-adjunto de ‘Mundo’, secretário-assistente de Redação e produtor-executivo do ‘TV Folha’, entre outras funções. Atualmente é chefe de Redação do SBT (Sistema Brasileiro de Televisão). Também foi editor-chefe do ‘Diário de S. Paulo’, do ‘Jornal da Band’ e do ‘Jornal da Globo’. Na juventude, foi um dos principais dirigentes do movimento estudantil ‘Liberdade e Luta’ (‘Libelu’), de orientação trotskista.

Assim caminha a impunidade

Meio na surdina, como convém a processos do alto tucanato, a Justiça livrou mais um envolvido no chamado mensalão mineiro. O ex-ministro e ex-vice-governador Walfrido dos Mares Guia safou-se da acusação de peculato e formação de quadrilha, graças ao artifício de prescrição de crimes quando o réu completa 70 anos. Já se dá como praticamente certa a absolvição, em breve, de outro réu no escândalo. Trata-se de Cláudio Mourão, ex-tesoureiro da campanha do PSDB ao governo mineiro em 1998. Ao fazer 70 anos em abril, Mourão terá direito ao mesmo benefício invocado por Mares Guia.

Vários pesos, várias medidas. Enquanto o chamado mensalão petista foi julgado com celeridade (considerado o padrão nacional) e na mesma, e única, instância suprema, o processo dos tucanos recebe tratamento bastante diferente. Doze anos (isso mesmo, doze!) separam a ocorrência do desvio de dinheiro para o caixa da campanha de Eduardo Azeredo (1998) da aceitação da denúncia (2010). Com o processo desmembrado em várias instâncias, os réus vêm sendo bafejados pelo turbilhão de recursos judiciais.

Daí para novas prescrições de penas ou protelações intermináveis, é questão de tempo. Isso sem falar de situações curiosas. O publicitário Marcos Valério, considerado o operador da maracutaia em Minas, já foi condenado pelo mensalão petista. Permanece, contudo, apenas como réu no processo de Azeredo, embora os fatos que embasaram as denúncias contra o PSDB mineiro tenham acontecido muito antes.

Se na Justiça mineira o processo caminha a passo de cágado, no Supremo a situação não é muito animadora. A ação contra Azeredo chegou ao STF em 2003. Está parada até agora. Diz-se que o novo relator, o ministro Barroso, pretende acelerar os trabalhos para que o plenário examine o assunto ainda este ano. Algo a conferir.

Certo mesmo é o contraste gritante no tratamento destinado a casos similares. Em todos os sentidos. Tome-se o barulho em torno de um suposto telefonema do ex-ministro José Dirceu de dentro da cadeia. Poucos condenam o abuso de manter encarcerado um preso com direito a regime semiaberto. Isso parece não interessar. Importa sim reabrir uma investigação sobre uso de celular, que aliás já havia sido arquivada. Resultado: com a nova decisão, por pelo menos mais um mês Dirceu perde o direito de trabalhar fora da Papuda.

Por mais que se queira, é muito difícil falar de imparcialidade diante de tais fatos, que não são os únicos. As denúncias relativas à roubalheira envolvendo trens, metrô e correlatos, perpetrada em sucessivos governos do PSDB, continuam a salvo de uma investigação séria. Isso apesar da farta documentação colocada à disposição do público nas últimas semanas. Vê-se apenas o jogo de empurra e muita, muita encenação. Alguém sabe, por exemplo, que fim levou a comissão criada pelo governo de São Paulo para supostamente investigar os crimes? Silêncio ensurdecedor. Mesmo assim, cabe manter alguma esperança na Justiça -desde que seja a da Suíça.

*

Depois da operação estapafúrdia na cracolândia e dos acontecimentos nas manifestações de sábado, ou o governador Geraldo Alckmin toma alguma providência para disciplinar suas polícias, ou em breve ele terá aquilo que todo governante sempre deveria temer: um cadáver transformado em mártir.

por Miguelito Formador

Para acessar o artigo original da Folha, clique aqui
figura daqui