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“Que as nossas escolhas reflitam nossa esperança, não nosso medo!”

A frase acima é de Nelson “Madiba” Mandela, que se estivesse vivo, teria completado 100 anos ontem.
O líder sul-africano, falecido há cinco anos e afastado da vida pública há mais de dez, ainda é citado como exemplo de tolerância, cidadania, resiliência, relevamento e abnegação em prol de um bem maior.
São tantos os adjetivos cabíveis à pessoa, que me sinto “incomodado” cada vez que me arrisco escrever sobre ele.

Por exemplo, escrevemos na ocasião de sua morte (aqui – é, o blog já existia em 2013!) e também nos espantamos com o que ele “aprontou” no hino da Africa do Sul (aqui).

À ocasião das celebrações dos 100 anos, achei a trilha sonora do filme “Mandela: O Caminho para a Liberdade” ou “Long Walk to Freedom” em seu título original e a compartilho. Aqui o link do Google e aqui para os que usam Spotify.
Uma música da trilha me chamou a atenção ontem: Ordinary Love do U2.

Todos sabem que o U2 é um grupo engajado em temas humanísticos. Fez concertos em prol da libertação de Madiba, os fez após a libertação, compartilhavam as mesmas preocupações com o povo pobre sul africano e com outros temas, como direitos humanos e racismo.
A canção Ordinary Love foi feita especialmente para o filme.  A história conta que o grupo recebeu algumas cartas escritas por Madiba a Winnie (sua esposa) e as transformou em poesia…

I can’t fight you anymore
It’s you I’m fighting for

Eu não posso mais lutar contra você
É por você que eu luto

Em minha tradução livre e interpretação mais livre ainda do verso, não haviam mais forças para lutar contra os brancos, contra a Africa do Sul encontrada por Mandela no momento em que saiu da prisão.
É também por eles (brancos, Nação) que Mandela lutava.
O bem maior de Nação unificada e livre de preconceitos, almejado por Madiba, o fez perdoar os algozes e agressores.

We can’t fall any further
If we can’t feel ordinary love
And we cannot reach any higher
If we can’t deal with ordinary love

Não podemos nos apaixonar mais
Se não pudermos sentir um amor comum
A não podemos chegar mais longe
Se não pudermos lidar com um amor comum

Dispa-se da raiva e dos preceitos que você carrega. Não há como ir além, superar-se como indivíduo, como sociedade, como país, quando sequer um amor simples pode ser sentido, ou quando há dificuldades de aceitar esse amor.

Are we tough enough
For ordinary love?

Somos fortes o suficiente
Para um amor simples?

Conseguiríamos deixar um pouco o EU e buscar o NÓS?

Que tenhamos esse desprendimento, que consigamos seguir os ensinamentos de Madiba, que busquemos e cultivemos esse amor simples.
Enfim, que as nossas escolhas reflitam nossa esperança, não nosso medo

por Celsão correto

figuras retiradas daqui e daqui. Representam a capa do single do U2 aqui citado e uma imagem do videoclip da música.

P.S.: por último, mas não menos importante, há outro texto sobra Madiba também escrito nesse blog logo após sua morte. Nele, analisamos o vislumbramento de muitos com as atitudes do líder negro e a sua posição política. Uma das acusações enfrentadas por Madiba foi comunismo (post aqui)

Post_SA_HinoNelson Mandela, ou Madiba, como era chamado por muitos (principalmente pelos negros), era um homem exemplar.
Diferente de seres humanos “normais”, que deixam mágoa, orgulho próprio e conceitos pré-concebidos tomarem o controle assim que ascender ao poder, Mandela esqueceu-se propositalmente de sua negritude e uniu o povo de seu país, criando um governo para todos os sul-africanos.
“Tá bom, Celso. Essa estória todos conhecemos; até aqui, nenhuma novidade”.

Pois bem, fui gratamente surpreendido ao assistir à semifinal do campeonato mundial de rugby no mês passado. E a surpresa veio no momento do hino sul-africano.
O que me surpreendeu foram grandalhões brancos (e negros também), abraçados e entoando Nkosi Sikelel’ iAfrika (Deus abençoe a África) a plenos pulmões.

Para quem não conhece, a canção, em idioma Xhosa, foi considerado por algum tempo hino da África negra e foi também hino oficial de países como Tanzânia, Zimbábue e Namíbia. Na época do Apartheid, na África do Sul, a canção era o cântico do Congresso Nacional Africano (ANC) e, obviamente, considerada subversiva pela minoria branca naquele país.
O que os brancos da África do Sul cantavam à época? Die Stem van Suid-Afrika (A voz da África do Sul). As letras são distintas, a “negra” é mais emotiva e espiritual; a “branca” tem um som de marcha, de conquista. Os modelos e exemplos eram distintos, a começar pelos idiomas completamente diferentes.

E estava eu, boquiaberto e arrepiado, ouvindo aquela equipe de rugby cantando aquele hino em Xhosa… E a letra mudou; ou melhor, o idioma mudou e passou a parecer-se com o Alemão… Mais uma estrofe e parecia que eu estava ouvindo Inglês!

Aí está a sagacidade, a “travessura” de Madiba.
Ele uniu os hinos, símbolos nacionais, acrescentando outros idiomas falados no país. Genial!
O resultado e uma tradução livre, feita por mim, estão na tabela abaixo. Baseei-me no link da Wikipedia (aqui)

Idioma Letra Original Tradução em Português
Xhosa Nkosi sikelel’ iAfrika
Maluphakanyisw’ uphondo lwayo,
Deus abençoe a África
Permita que seu chifre (seu símbolo) seja elevado
Zulu Yizwa imithandazo yethu,
Nkosi sikelela, thina lusapho lwayo.
Ouça igualmente às nossas orações,
Deus nos abençoe, nós somos a sua família (África).
Sesotho Morena boloka setjhaba sa heso,
O fedise dintwa le matshwenyeho,
O se boloke, O se boloke setjhaba sa heso,
Setjhaba sa, South Afrika, South Afrika 
Deus abençoe a nossa Nação,
Interrompa guerras e conflitos,
Salve (a África), salve a nossa Nação,
A Nação da África do Sul, África do Sul.
Afrikaner Uit die blou van onse hemel,
Uit die diepte van ons see,
Oor ons ewige gebergtes,
Waar die kranse antwoord gee,
Do azul dos nossos céus,
Da profundeza do nosso mar,
Sobre as montanhas eternas,
Onde os rochedos ecoam em resposta,
Inglês Sounds the call to come together,
And united we shall stand,
Let us live and strive for freedom
In South Africa, our land.
Soa a chamada da união,
E unidos, devemos persistir,
Vivamos e lutemos por liberdade
Na África do Sul, nossa terra.

O hino é único, tem uma mudança de ritmo que o deixa ainda mais charmoso…
É “mágico”, pois mostra respeito às etnias que formaram o país; sem privar os conquistadores brancos que exploraram, discriminaram e acorrentaram os negros.
Mandela segue sendo o melhor exemplo de ser humano que conheço!

por Celsão correto.

P.S.: pra quem quiser assistir no youtube o hino que me surpreendeu, segue o link. Outras ótimas performances podem ser encontradas no youtube em diferentes ocasiões e com distintos intérpretes, todas emocionantes. Retirei a figura do vídeo.

P.S.2: acrescentando dois links entre outras publicações nossas sobre Nelson Mandela: aqui uma correlação interessante entre as ideias do líder negro e o socialismo e aqui nossa singela homenagem póstuma 

Abraço carinhoso entre os amigos Fidel e Mandela

Abraço carinhoso entre os amigos Fidel e Mandela

Antes de mais nada, seguem aqui dois posts anteriores sobre Nelson Mandela:
1) Post mais antigo com uma dica fabulosa de leitura sobre a vida de Madiba. Clique AQUI
2) Nossa homenagem à Mandela em decorrência de seu falecimento. Clique AQUI

Esse artigo não é uma homenagem, nem um texto “bonitinho”. É um texto crítico, que tem a intenção de lembrar a história real de Mandela e despertar no leitor o interesse para uma auto-reflexão.

Não sei se eu tenho definições e valores muito estranhos, ou se a incoerência é uma das características mais marcantes da sociedade.

Por exemplo: Eu acho extremamente incoerente eu admirar alguém que tem como ídolos pessoas pelas quais eu tenho pavor, que eu considero péssimos seres humanos. Digamos que, a pessoa X tenha como ídolo, companheiro, exemplo, amigo, pessoas como Hitler, George Bush ou o general Pinochet. Seria uma extrema burrice, desinformação, alienação, babaquice e falta de coerência minha, admirar e ter como ídolo o senhor X, uma vez que eu tenho horror às pessoas que ele admira. Afinal de contas, um ídolo é algo muito forte, profundo, e desta forma, os valores, ética, sentimentos pelo mundo e pelos seres, têm que ser no mínimo compatíveis com os nossos (o fã).

Por que estou falando isso?
Bom, o mundo encontra-se de luto por ter perdido um dos seres mais magníficos de nossa história, Nelson Mandela.
Acompanhando meus amigos do facebook, vejo centenas de homenagens vindas de pessoas de diversas crenças e posicionamentos ideológicos.

Pois bem. Não sei se vocês sabem, mas Mandela fez uma política fortíssima de ações afirmativas na África do Sul visando retirar o desequilíbrio entre negros e brancos e acabar com o racismo. Mandela lutou, depois de sair da cadeia, pelos direitos dos homossexuais. Mandela foi feminista e lutou pelos direitos das mulheres no mundo. Mandela foi a favor de maior intervenção estatal, mais impostos para os mais ricos e menos impostos para os mais pobres, para que o Estado tivesse mais dinheiro e pudesse assim ajudar mais os mais necessitados.

Mandela foi amigo pessoal e profundo admirador de Fidel Castro, o ditador “sanguinário”, “terrível” para seu povo, e tão odiado por boa parte dos brasileiros e do mundo. Mandela elogiou a vida inteira a revolução cubana e a pessoa de Fidel. (Clicando AQUI, você pode ler o discurso de Mandela em Cuba após sair da prisão, onde ele tece inúmeros elogios e palavras de carinho e gratidão a Fidel Castro, ao povo cubano e à revolução cubana.)
Mandela era radicalmente socialista. Antes de ser preso, apoiou e lutou com os movimentos rebeldes na África do Sul liderados pelo  CNA (Congresso Nacional Africano) do qual foi fundador. Este movimento rebelde na África do Sul na década de 60, era muito parecido em ideais e intensidade com os que aconteciam em Cuba, mais ou menos na mesma época (inclusive, historiadores dizem que Mandela se inspirou na revolução cubana). Eram duas revoluções socialistas que visavam acabar com a exploração da elite sobre a população excluída. No caso da África do Sul, o foco era maior na luta racial, pois lá este problema era muito mais grave que em Cuba. (Leia mais AQUI)

Querem mais um exemplo? Mandela e Lula eram admiradores recíprocos. Lula teve a oportunidade de encontrá-lo algumas vezes. Lula se inspirou-se nas ações afirmativas de Mandela e adaptou ao Brasil, criando, entre várias outras políticas, a política de cotas por condição social e racial (negros e índios). Hoje, as cotas no Brasil são odiadas e criticadas pela classe média branca, os mesmos que estão de luto por Mandela….

Mandela elogiou em algumas oportunidades as conquistas do Brasil durante o governo Lula, e já disse até que outros países subdesenvolvidos e cheios de desigualdades deveriam se inspirar no governo brasileiro.

Lula é um profundo admirador de Mandela. E Mandela também admirava Lula….Mandela apoiou outros governantes que hoje em dia são vistos como demônios pelo mundo. Entre eles, Saddam Hussein. Sim minha gente, é isso mesmo. E o motivo é claro: Mandela sempre se posicionou contra qualquer tipo de exploração interpessoal e contra qualquer tipo de imperialismo. Desta forma, Mandela se posicionava categoricamente como oposição e resistência aos EUA, hegemônicos no mundo desde a Segunda Guerra Mundial. Como Saddam Hussein também lutava contra o mesmo inimigo, Mandela tinha apresso por ele, e dava certo apoio.

Aqui segue o melhor artigo, entre dezenas, que li nas últimas 24 horas sobre Mandela. Um pouco de sua história e da África do Sul. Países que apoiaram o Apartheid militarmente e ideologicamente. Governantes que foram oposição a Mandela e aqueles que foram companheiros de luta. Um artigo curto, porém com muita informação. Clique AQUI.

Se Mandela fosse brasileiro, seria tratado pela mídia e pela classe média local como “terrorista”, para falar o melhor dos adjetivos. E ainda estaria preso, se já não tivesse morrido na cadeia.
Eu sou fã e profundo admirador de Mandela JUSTAMENTE por isso tudo e todo o resto que ele fez e foi. E também sou admirador de todos aqueles que Mandela admirou.
Já uma boa parte da sociedade odeia o Lula, Fidel Castro, e outros colossos da esquerda. Mas têm Mandela como ídolo e exemplo.

Estão percebendo a incoerência? Vocês cortam com uma faca de um gume. Para um lado corta, para o outro amacia. Falta coerência no posicionamento da sociedade. E para essa falta de coerência só existem duas explicações plausíveis:
1) Alienação profunda que impregnou na sociedade pelo sistema educacional frágil e corrompido, e pela mídia bandida a serviço da elite exploradora e imperialista.
2) Uma falta profunda de honestidade intelectual, uma hipocrisia babaca, onde se defende aquilo que lhe traz benefícios individuais (nunca pensando no próximo) e não lhe prejudica a imagem frente à sociedade.

Aproveitem este momento lamentável da história, para fazerem um mínimo de auto-reflexão. Pois vocês estão a admirar um cara que deu sua vida pelo povo. Afastou-se deliberadamente da família e amigos pelos seus ideais maiores. Foi criticado, caçado, ficou 27 anos na prisão, sofreu torturas, foi chamado de tolo, utópico, inocente, bobo. Mandela foi um extremo radical socialista, ou se preferirem um extremo radical de esquerda!
Um cara que lutou não somente ideologicamente, mas sim militarmente. Fez revolução!!!!
E você? Consegue fazer algo mais que postar uma frase pronta de Mandela no seu mural? Consegue se esforçar para ser coerente? Consegue ao menos fazer o mais básico do básico: refletir e tentar melhorar você mesmo?

por Miguelito Nervoltado

figura daqui

Nelson-Mandela-Soweto-Soc-001

Parte do que sou e do que admiro num ser humano, morreu ontem.

Líder, ético, engajado, inspirador. Um exemplo, um ícone de cidadania, perseverança, luta contra as desigualdades raciais e sociais.

São tantos adjetivos e superlativos que este post parecerá piegas demais.

Mas não havia como não fazê-lo…

 

Nossa geração não foi contemporânea de outros nomes importantes na luta contra o racismo, como Malcolm X, Martin Luther King ou Zumbi dos Palmares. E, como negro, impossível não identificar em Mandela um ídolo.

 

Ele abnegou da vida “confortável” (para um negro na África do Sul) de um advogado, abdicou da família, de sua própria vida por uma causa. E uma causa que não era só dele, mas também de seu povo sofrido, de seu país. Algo que serviria também de exemplo para o mundo!

E mais, depois de 27 anos de prisão, quando as pressões internacionais apertaram e sua liberdade estava próxima, escreveu ao então presidente Frederik de Klerk oferecendo uma aliança, uma transição pacífica, um governo de todos os habitantes sul-africanos e para todos: negros, mestiços e brancos.

Este movimento “secreto”, sem o aval ou o consentimento dos aliados do ANC (Congresso Nacional Africano), foi criticado por eles; mas pôde minimizar o que seria um “racismo às avessas” ou um “contra ataque” dos negros.

Ou seja, Nelson Mandela foi além de seu orgulho, de sua luta e quis, como resultado final, perdoar o seu inimigo e aliar-se a ele, para ter um governo pleno, sem distinções, sem racismo!

Me sinto sozinho. Creio que o mundo se sente um pouco mais sozinho.

Espero que descanse em paz e que surja em Johanesburgo, Pretória ou na vila em que nasceu um monumento em sua memória, para que eu tenha o prazer de visitá-lo um dia.

Adeus Madiba!

por Celsão correto

P.S.: já havíamos feito um post sobre o Mandela aqui.

P.S.2: figura retirada daqui

Mandela

Posted: May 2, 2013 in Comportamento, Sociedade
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Vi num link desses na internet que imagens de Nelson Mandela foram divulgadas após algum tempo e cliquei pra ver. Infelizmente o vídeo não rodou, talvez por estar de um dispositivo móvel.
Lembrei que a primeira vez que ouvi o nome “Mandela” foi numa música da banda Reflexus. Na época em que os Axés eram mais políticos e menos coreográficos. A letra pedia a libertação do líder sul africano e incitava a levantarmos as mãos, num gesto que imitava os “black panthers” americanos.

Com o tempo, me interessei pelo assunto e “trombei” com o excelente livro autobiográfico de Nelson, ou Madiba, seu nome africano.
Muito se pode discorrer sobre o livro, desde o tema racismo em si até falar sobre revoluções e organizações políticas, presentes na história da África do Sul e mostradas no livro.
Mas quero citar um “menos importante” e fazer um paralelo com um assunto que discuti recentemente: o egoísmo ou comodismo do ser humano.

Até onde um homem abandona seus planos e seu Eu em prol de algo maior ou mais amplo? A partir de quando um herói (permitam-me esse exagero) descobre que sua luta ou causa é maior que ele mesmo e mais importante que sua família?
Madiba fez isso contra o Apartheid e, depois de conquistar a liberdade e ser eleito presidente, lutou para unir brancos e negros e recriar uma nação.
Sou fã desse cara.

por Celsão Correto

P.S.: Recomendo fortemente o livro “Longo caminho para a liberdade”, aliás. Parece-me que existem duas versões em filme. Uma do ponto de vista do último “cuidador”, branco e outro raso quanto à história. Não os assisti ainda.