Posts Tagged ‘Odebrecht’

Tentei tirar férias e “sumir” no curto período das notícias, absurdos e desmandos do Brasil e do mundo.
Quase deu.
Descobri que o intento é bem difícil quando não se “some” realmente do Brasil ou mundo.
Mesmo sem buscar você acaba ouvindo algo, lendo comentários no whatsapp do celular, escutando sem querer uma conversa numa padaria ou metrô…

E nesse intervalo teve goleiro condenado aplaudido em estádio, teve prefeito viajando só para ser elogiado, depois demitindo secretária “ao vivo” na internet; uma quase declaração de Guerra via Twitter, ataque de gás químico, de Estado Islâmico, de terrorista…
E teve também a delação da Odebrecht, com seus oito ministros, 39 deputados, 24 senadores e até três governadores. Uma ferida tão feia e purulenta que acabou de vez com pompas e argumentos de “partido honesto”, “bancada decente”, “político honrado” que alguns insistiam em ostentar.

E um dos textos lidos em meu “retorno” à internet e às leituras me rememorou algo que coloquei aqui na descrição do “integrante” Celsão revoltado, a Dissolução do Congresso. O texto é do Wladimir Safatle, e está disponível aqui e aqui (para assinantes Folha)

Explicando as origens, penso nisso desde o escândalo dos anões, no início dos anos 90. (referência da Wikipedia aqui)
O deputado João Alves, em discurso na CPI disse com cara limpa que “Deus o ajudou e o fez ganhar na loteria”, seguidas vezes!
O rombo, segundo a Wikipedia foi de R$100 milhões. Dentre os envolvidos, temos nada menos que Geddel Vieira Lima, ex-Ministro do governo Temer.

Bem… Na época pensei na injustiça de termos mais de quinhentos sustentados parlamentares, com poder para aumentar o próprio salário e uma distância abissal do povo e de suas aspirações.
Já se fazia difícil e improvável a aprovação de medidas e reformas. Aliás, bem da verdade, qualquer pauta deveria “tramitar” algumas semanas antes de entrar em votação.
E esse “tramitar” possui aspas pois o governo de Fernando Collor tinha que negociar SEMPRE, e com todos os partidos, aliados ou não, cargos e favores.
Algo sujo e indigno.
Os analistas e cientistas políticos diziam que era o “preço” de pertencer a uma legenda pequena, na época; mas eu pensava diferente: mesmo que o presidente tenha boas ideias e queira aprovar leis que beneficiem os mais carentes, não conseguiria. Se essas leis forem contra direitos injustos e mamatas do Legislativo, pior ainda…
A solução?
Dissolver o Congresso!

Em meu sonho utópico, o então presidente (e aqui poderia ser Collor, Itamar, FHC, Lula, qualquer um) começaria um discurso em rede nacional com frases do tipo…
Temos tentado aprovar essa e essa medida, essa e essa reforma”, languidamente narra alguns feitos e os conchavos que precisou fazer para lograr o êxito obtido – “o Ministério tal foi trocado pelo projeto tal, a diretoria de estatal tal foi negociada pelo apoio aqui”…
E nos últimos dois minutos de um discurso de meia hora sentencia:

“Me vejo forçado a dissolver o Congresso Nacional por um período de 30 dias!
 Nesse ínterim convocarei um referendo popular para aprovação ou não dos seguintes pontos:
      – Redução do número de parlamentares
      – Redução do salário, dos benefícios e fim da legislação em causa própria; não será mais possível aumento próprio dos vencimentos
      – Fim do quórum eleitoral e dos ‘carregadores de votos’
      – (…) outros pontos importantes
 Certo de sua compreensão e apoio, aguardo os resultados e acatarei a decisão popular.
 Os pontos aprovados tornar-se-ão lei por decreto e voltaremos a ter um Poder Legislativo Nacional no final desse período”

Hoje eu acrescentaria outros pontos, como fidelidade partidária, atrelando a vaga à pessoa e ao partido; fim dos suplentes, fim da aposentadoria especial, extinção do foro privilegiado, limitaria o número de mandatos (em dois), etc., etc…

Mas na época pensava em resolver esses três pontos, que nunca seriam (nem nunca serão) aprovados pelo legislativo, sobretudo corrupto!

Agora temos legisladores comprovadamente corruptos, respondendo a processos e acusações, de crimes dos mais diversos, decidindo temas importantes para a sociedade e para as próximas gerações.
Um Congresso demasiadamente conservador, com interesses declaradamente escusos. De bancadas pré-estabelecidas, como a bancada chamada de BBB (Bala, Boi e Bíblia), que defende ideias e sugestões de grupos distantes das reais necessidades da população…
Independente de vermelho ou azul, penso que é hora de acabarmos com intermináveis abusos, como viagens em aviões da FAB…
E de quebra tornar todos os citados na Lava Jato e em outras operações, e os demais criminosos pertencentes às duas casas, inelegíveis por ao menos um período eleitoral.

Sim, é radical e anti-democrático. Ditatorial até.
Mas não vejo outra alternativa para realmente “limpar” parte da imunda e indecente lista de representantes políticos da atualidade.
A representatividade é baixa, pelas regras eleitorais, pelo modo como votamos, pelas substituições de legisladores nomeados a outros cargos… Que recomecemos!

Fora da utopia, se o Álbum de Figurinhas que circulou via WhatsApp for realmente lançado, e tem gente se empenhando para que a “brincadeira” se torne verdade (aqui), quem sabe nem precisemos de Ficha Limpa. Os políticos citados, investigados e condenados sairão automaticamente da vida pública…
É… foi utópico de novo…

por Celsão revoltado

figura recebida pelo WhatsApp, do portal de humor Kibe Loco.

post_moraes_imoraisUm jurista exemplar, extremamente técnico e experiente, uma escolha independente.

Acho que nem o mais ingênuo dos brasileiros que têm acompanhado a Operação Lava Jato e as movimentações políticas dos últimos meses acredita nas palavras do presidente Michel Temer após a indicação do ex-secretário e agora ex-ministro da justiça Alexandre de Moraes para a vaga aberta do Supremo Tribunal Federal (STF).

E, por mais que defendamos que, naturalmente ou inconscientemente, as indicações para o STF, feitas pelo presidente da república em exercício, possuem o seu viés político, inevitável talvez, o jurista e professor Moraes não é uma dessas escolhas “desconfiáveis”, que geram “desconforto” na oposição política.
Pelo contrário: Alexandre de Moraes é mais um golpe à Democracia, o maior sinal de aparelhamento do Poder Judiciário dos últimos tempos, um “cuspe” na cara da esperança popular romântica de combate à corrupção, através da refinada casa de “imortais da Justiça”.

Alexandre é (ou era, pois terá de se desfiliar) filiado ao PSDB.
O fez por convicção, faz parte dos “protegidos” do governador Geraldo Alckmin. Foi Secretário de Justiça em seus governos e passou a Ministro da pasta de Temer logo após fazer um “favor” ao próprio presidente e à primeira dama, prendendo em tempo recorde um chantagista que havia hackeado o celular de Michele Temer.

Alexandre passará pela sabatina “café com leite” da CCJ e se tornará revisor da Lava Jato.
O que, mesmo não representando o papel principal, será ele, ex-Ministro de Temer, parte e influente no governo, filiado a um dos partidos com maiores indicações nas últimas delações… quem poderá atuar em disputas crucias para a continuidade da Lava Jato, como a condenação dos indiciados somente após a última instância, historica- e lamentavelmente longos anos após as primeiras condenações.
É Alexandre de Moraes também, ex-ministro, amigo, PSDB paulista, que atuará nos envolvimentos inevitáveis dos presidentes da República, da Câmara e do Senado nas delações da empreiteira Odebrecht.
É ele que “estancará a sangria”, ação proposta por Romero Jucá, ex-ministro e atual líder do governo no Senado, em gravação vazada há menos de um ano (aqui).

São tantas as correlações e tamanha a imoralidade, que é até difícil concatenar um texto que faça sentido!
Nas planilhas da Odebrecht, “Santo” é Geraldo Alckmin, padrinho político de Moraes. “Caju” é Romero Jucá, afastado do Ministério de Desenvolvimento após esdrúxula confissão de culpa. Outro político com relação direta ao presidente Temer, o “Angorá”, Moreira Franco, aparece como principal captador de recursos para Michel Temer junto à Odebrecht.
Agora Ministro da Secretaria Geral da Presidência, Temer fez aquilo que Dilma não conseguiu com Lula, quando o juiz Sérgio Moro vazou “acidentalmente” gravações entre a então presidente e Lula.
É o roto fazendo o que fez o esfarrapado, o sujo fazendo pior que o mal lavado…

Temer é citado mais de quarenta vezes na delação da Odebrecht. Moreira Franco mais de trinta.
Para “fechar o pacote de absurdos”, a provável indicação para o lugar de Moraes, no Ministério da Justiça será a de Antônio Cláudio Mariz de Oliveira (aqui), defensor de muitos acusados da Lava Jato e ferrenho crítico da mesma.
Chegou a ser cotado, anteriormente, para o cargo. Na época, Temer desistiu exatamente por conta das críticas feitas por Mariz à Lava Jato (aqui).
Agora, ao que parece, o circo e o fingimento não são mais necessários. A revolta do povo arrefeceu, cessou…

Para terminar, li que em sua tese de doutorado, o próprio Alexandre de Moraes defendeu que nomeações de filiados a partidos políticos e ocupantes de cargos de confiança aos tribunais de justiça, sobretudo ao STF, são imorais, não deveriam acontecer nos mandatos correntes para que não insinuassem prêmio por dedicação, agrado ou recompensação.
Até Alexandre é contra Alexandre!

por Celsão correto

figura retirada daqui

P.S.: sugiro o vídeo revoltado do Bob Fernandes, por representar parte do que sinto (aqui)
E uma indicação de leitura, do colunista Hélio Schwartsman sobre as duas últimas medidas do nosso patético presidente. Pra mostrar que mesmo alguém pró-Temer é contra a ridícula mediocridade (aqui)