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Lady Buddha

Posted: January 12, 2018 in Comportamento, Outros
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No alto de uma península localizada na área central do Vietnã, fica uma estátua de 67 metros de altura, de pé sob uma flor de lótus de 35 metros de diâmetro. Destaca-se desde uma grande distância pela tamanho, pela impassível altivez e pela cor branca que a constituem.

A estátua apoia-se na montanha, encarando o mar, seus olhos meigos olham para baixo, uma mão abençoa enquanto que a outra segura uma garrafa de água benta, como que espalhando paz aos pescadores.

A tradução livre foi feita a partir do site oficial da atração turística (aqui). E representa bastante bem o “todo” da atração turística.
Abaixo vê-se uma praia e barcos pequenos de pesca completando o bucólico cenário.
Impossível não correlacionar com outras religiões, deusas protetoras, cenários…

A Umbanda é tida como uma religião brasileira por excelência. Suas origens sintetizam o Brasil e as crenças africana e cristã trazidas ao país com rituais e entidades indígenas originários daqui (para saber um pouco mais, leiam).
Jesus pode ser representado no congá (altar da Umbanda) em sua forma ocidental: aloirado e cabeludo, mas geralmente com o nome de Oxalá. Ele divide espaço com outros orixás do candomblé africano e com santos conhecidos e cultuados no cristianismo, como São Jorge.

Iemanjá é a deusa das águas ou rainha do mar. Tem sua origem em uma deusa nigeriana (Yemọjá). É a protetora dos pescadores, a grande mãe.
A “nossa” Lady Buddha é a mais celebrada dentre as divindades da Umbanda, talvez por ser identificada também como Nossa Senhora da Conceição, uma das manifestações católicas da Virgem Maria, mãe de Jesus.

Mas… Por que não temos uma estátua de Iemanjá nas mesmas proporções no Brasil?
Por que não oferecer ao turista, local ou estrangeiro, um pouco da nossa cultura, um pouco do sincretismo religioso nacional?

Conservadorismo? O popular complexo de vira-latas que impede a valorização nacional? Laicidade disfarçada de cristianismo neo-pentecostal?

Onde quero chegar com isso?

Nos países do sudeste asiático, lista que tem o Vietnã, o budismo é a religião predominante. Como tantas outras religiões, possui vertentes e diferenças regionais. E, mesmo pregando a harmonia, não há consenso sobre as “ladies Buddha“; não são todos os países (ou vertentes) que vêm com bons olhos a presença de mulheres, quer seja como sacerdotes, no caso, monjas, ou como entidades a cultuar.
Mesmo assim Lady Buddha está lá, abençoando os pescadores e recebendo turistas.

 

Como primeiro post do novo ano, proponho a reflexão.

Que em 2018 sejamos críticos e provocadores, exercitemos o diferente, pensemos mais no improvável!
Que a indignação e o inconformismo façam parte da nossa rotina.
Que a política entre de vez nas discussões do dia-a-dia, não como exercício de queixa, mas como mal necessário à evolução cidadã.
Que os abusos de poder: político, sexual, racial, etc., em todos os níveis, sejam punidos de alguma forma. Nem que seja de forma moral. E, consequentemente, que diminuam.

E, para aqueles que creem, que Lady Buddha, Iemanjá, a Força, Krishna, Gaia ou Nossa Senhora Aparecida nos abençoe nesse novo recomeço.
Para os que não creem, que a auto motivação e a força de vontade sejam suficientemente grandes para fazer a diferença.


por
Celsão correto.

figuras retiradas daqui e daqui.

 

Bíblia_Homossexualidade
Os dogmas e valores das religiões estão cravadas no cerne de qualquer sociedade, e são determinantes na formação das crenças e ideologias de quase todo o ser humano, seja ele um beato, ou um religioso praticante, ou um religioso não praticante, ou até mesmo um ateu. A religião não tem somente influência direta sobre aquele que crê na mesma, mas ela também influencia todo o conjunto cultural de toda a sociedade, como os hábitos, folclores, alimentação, artes, relações pessoais e principalmente os “valores”.

Quando o assunto é homossexualidade, por exemplo, a maior resistência ideológica ao direito de ser homossexual, advém das religiões, no caso do Brasil, estamos a falar principalmente do Cristianismo.

Grande parte da argumentação dos preconceituosos e/ou conservadores contra a homossexualidade, se estrutura a partir de passagens e interpretações da Bíblia, ou na pregação de um pastor ou padre.

Desde que passei a me interessar a fundo pelas questões sociais e relações humanas, religião e preconceitos sempre estiveram no topo da minha lista de interesses. Por isso já tive contato com diversas abordagens que relacionam o tema homossexualidade e Bíblia. Porém, recentemente, tive contato com um vídeo do “esperançar” o qual me encantou, devido à forma didática e leve com a qual o assunto foi colocado.

Segue aqui o vídeo:

O vídeo é imperdível, e dispensa maiores comentários. Mesmo assim, copiarei algumas frases de impacto retiradas do mesmo:

“A Bíblia tem livros que foram escritos ao longo de quase 6000 anos, representando culturas, épocas e sociedades muito distintas. Será que a melhor maneira de interpretar a Bíblia é pegar os seus versos, ler literalmente, interpretar literalmente e aplicar literalmente?”

“…ora, naquele mesmo contexto de códigos de conduta, códigos ritualísticos, também é proibido comer carne de coelho, também é proibido plantar duas sementes distintas conjuntamente…”

“…e o texto que diz que a mulher flagrada em adultério deve ser apedrejada? E o texto que legitima e reproduz, por exemplo, a escravidão? E o texto que diz que a mulher deve ficar em silêncio na igreja, porque ali é o lugar de fala do homem?
Tomar a Bíblia de forma literal, desconsiderando os contextos culturais e históricos, faz com que a gente incorra em vários equívocos.”

“Lamentavelmente, vamos reconhecer e admitir, com tristeza no coração, a Bíblia já foi utilizada para legitimar a escravidão, o Apartheid, a colonização genocida das Américas, a subordinação das mulheres, e sempre em nome dessa ‘fidelidade’ ao que está escrito, e ponto final!”

“…talvez a melhor pergunta não seja: o que está escrito na Bíblia? Talvez a melhor pergunta seja: como eu leio a Bíblia?”

“…lendo a Bíblia a partir de uma narrativa geral que aponta o Deus revelado em Jesus, eu não encontro nenhuma verdade superior ao amor!”

* O vídeo também pode ser encontrado no youtube, por exemplo clicando AQUI

* Para aqueles que gostariam de aprofundar no assunto, indico o documentário “Bíblia e Homossexualidade: Exegese e Hermenêutica”. Pode ser acessado clicando AQUI

por Miguelito Filosófico

figura retirada do documentário

Cunha_Repatriação_02Deus é amor.
Deus é compaixão, solidariedade, Deus é caridade, desprendimento, é fazer para os outros o melhor, é amar o teu próximo como a ti mesmo; Deus é abnegação, é deixar o seu em prol de um bem maior, é pensar na comunidade, no povo de Deus!

Mesmo para aqueles que não confessam uma religião, mesmo para os que não acreditam em Deus, mesmo aos que são avessos a crenças; imaginar um crente, um cristão com as características acima, não é difícil, idealmente falando. E seguir o exemplo D’Ele (de Deus) é o esperado pela assembléia que congrega a mesma fé.

Não sou contra religião alguma. E acho interessante a laicidade declarada do Estado Brasileiro, dando liberdade de religião a todo cidadão. Tampouco condeno, sob qualquer forma, o acúmulo de riquezas que foi uma das razões do surgimento do protestantismo; enfim, acho que todo aquele que produz algo e recebe pelo seu trabalho, deve escolher quando usufruir do seu dinheiro.

Muito bem.
Me pergunto há algum tempo qual seria o Deus do Sr. Eduardo Cunha.
Ele mente, manipula, engana, inventa, transgride. Dá entrevistas afirmando, por exemplo, não possuir conta no exterior. Sua declaração de imposto de renda (aberta ao público por conta da candidatura) não atesta os valores encontrados na Suiça.
A estória muda e passa a usar o nome oblíquo de trust para a titularidade das contas encontradas! Pois é… ele possui mais de uma conta fora do Brasil! Mas mesmo assim ele segue dizendo na imprensa que aquilo não lhe pertence, ao melhor estilo Maluf, da clássica: “Essa assinatura é minha, mas não fui eu que assinei”. Cunha usou: “A conta possui o meu nome, mas não sou eu que a manipulo, não a movimento”.

Agora novamente essa mentira caiu. Uma procuração enviada por autoridades suiças mostra que o próprio Cunha possui plenos poderes de movimentação da conta. (link aqui)

E, como se não bastasse, Cunha a seu modo maniqueísta e manipulador; contando obviamente com seu apoio costumeiro na casa, conseguiu aprovar (pasmem!) uma absurda lei de repatriação de dinheiro ilegal no exterior!
Quer dizer que o dinheiro dele, surgido sem explicação plausível no início de Outubro (aqui), negado e disfarçado de trust após novas denúncias e, muito provavelmente, criminalmente condenável no futuro próximo poderá ser trazido de volta? SIM!
E o absurdo maior pra mim é que a lei vem com anistia a crimes como: lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, evasão de divisas, falsificação de identidade e documentos para manipulação de câmbio, etc.
Ou seja, se você, deputado pilantra, político corrupto ou empresário inescrupuloso sonegou impostos, pagou salários e propinas para um “laranja” com identidade falsa e usou os paraísos fiscais para mandar os seus dólares, euros ou francos suíços… basta pagar 15% de imposto e outros 15% de multa… aproveitando que a moeda aqui se desvalorizou na mesma proporção.
Cunha e toda a gentalha pode trazer a grana da aposentadoria de volta, sem que sejam considerados criminosos, numa boa taxa de câmbio e com a desculpa perfeita de ajudar o governo a aumentar a arrecadação de impostos! (aqui uma matéria com vídeo do resultado da votação, explicando a proposta absurda)

Não fosse só isso, retomando o ponto da religião, surgiu também nos últimos dias uma declaração de apoio a Cunha, vinda de partidos da chamada “bancada evangélica”, como o PSC (Partido Social Cristão), cujo líder na Câmara, deputado André Moura, foi o leitor da nota.
Pois bem… Aqui temos aqueles que só querem manter Cunha para que ele tire Dilma, como declarou o Solidariedade através do deputado Paulinho “da Força”; temos os que “seguem o fluxo”, como o PMDB; mas temos os que estão apoiando Cunha pelo simples fato dele ser “de bem”, “um homem de Deus”…
Mais uma vez pergunto: que Deus é o dele?

por Celsão revoltado

P.S.: figura retirada do vídeo citado acima, sobre a aprovação prévia da lei de repatriação

Charlie_HebdoQuando cursava a 6ª série do Ensino Fundamental, lembro-me das aulas de Ensino Religioso com o Professor, agora amigo, Evandro Albuquerque. Apesar de estarmos em um Colégio Católico, Evandro ensinava “as religiões”, e não o catolicismo ou cristianismo. Nós, alunos católicos, ríamos dos hinduístas por adorarem um Deus com cabeça de elefante, ou dos budistas por darem três voltas em volta do templo, ou dos judeus com a circuncisão quando criança, ou dos médiuns umbandistas que tomam cachaça e fumam charuto quando “incorporam” e depois dizem que quem bebeu e fumou foi a Entidade e não eles próprios, ou dos muçulmanos que acreditam que, ao morrer, terão no céu um palácio de grandeza diretamente proporcional ao tamanho de sua fidelidade em vida aos ensinamentos do Corão.

Então, Evandro olhava-nos com seriedade e severidade e dizia: “as outras religiões também riem de nós por enfiarmos a cabeça numa bacia de água, supostamente ‘benta’, recebermos um sinal de cruz feito pela mão de um padre em nossa testa, e então acreditarmos que agora fomos introduzidos no ‘Reino de Deus’. Portanto, respeitemos, em integridade, as culturas e crenças do próximo“.

Vivendo fora do Brasil, já tive contato com diversas pessoas crentes no islamismo, e lhes digo uma coisa sem titubear: eles têm cabeça, dois olhos, pelos, cabelo, duas pernas, dois braços, falam, caminham, brigam, sorriem… alguns são antipáticos, outros um doce. Engraçado não? Eles parecem com a gente!

Pois é, muçulmanos não são monstros, mas sim pessoas normais, como todos nós, com crenças particulares, assim como nós.

Com um muçulmano específico tive até a oportunidade de me tornar grande amigo. Um Paquistanês que trabalha na minha firma. Ele está entre as cinco pessoas mais dóceis que já conheci nesse mundão. Simples, competente, amável, prestativo, conquistou até mesmo o carinho dos alemães mais frios do meu departamento. Conversamos muito sobre a vida… uma delícia filosofar com ele, tamanha pureza e nobreza de coração, e clareza de pensamento. Defende o amor como caminho para acabar com a pobreza, as desigualdades do mundo, as injustiças… um sonhador.

Também conversamos muito sobre religião e aprendi com ele um pouco sobre o islamismo no qual ele acredita, e não me pareceu mais radical que algumas igrejas neopentecostais atuantes no Brasil.

Com sua barba até o peito, em homenagem a Maomé, Ahmad certo dia me olhou e disse: “Miguel, terroristas são uma pequena minoria, que nos envergonham no mundo, criando falsos estereótipos sobre nossa religião. Nem mesmo as explorações que sofremos, o imperialismo do ocidente sobre nossos países, a nossa falta de liberdade política, cultural e econômica, as guerras nas quais vivemos devido a interesses estrangeiros; nada disso justifica atos bárbaros, assassinatos, principalmente de inocentes“.

Há poucos dias o mundo novamente entrou em estado de choque com o atentado no jornal Charlie na França. Acompanhando um pouco a imprensa brasileira, notei o foco na barbárie do ato, mas praticamente a ausência do debate da perspectiva cultural e religiosa da ofensa sofrida pelos muçulmanos.

Ora, claro que nada justifica o assassinato daqueles profissionais da imprensa, e eu jamais iria me posicionar a favor desses fanáticos religiosos. Porém penso que o humor, como tudo na vida, tem limites, e agredir e desrespeitar os mais profundos valores de alguém, atinge esses limites. Nossa liberdade termina onde a do outro começa. (Clique AQUI para ler nosso artigo sobre os limites do humor, que acompanha um excelente documentário)

As religiões são as maiores causadoras de guerras no mundo. O fanatismo religioso então, é ainda mais grave.

O ideal seria não existirem extremismos e fundamentalismos religiosos, mas, infelizmente, existem. Assim sendo, custa respeitar certas fronteiras? Custa respeitarmos a cultura e crença do próximo enquanto elas não invadem nossas crenças e culturas?

Em nossa cultura, nós cometemos atos impensados quando agridem nossos pais ou filhos. Na deles, quando agridem seu Deus. O que é mais grave?

Pensemos também no comportamento da imprensa mundial, e como nós, enquanto sociedades, usamos nossa consciência ao consumir uma notícia: o assassinato dos funcionários de um jornal quase desconhecido causa comoção mundial. Cidadãos comuns ficam escandalizados e mostram sua indignação. Líderes de Governos fazem passeatas e discursos eloquentes;
Porém, quando um míssil fornecido pelo governo e indústria americana a Israel, é lançado por este país em cima de uma escola Palestina, matando dezenas de crianças que ali estavam estudando, isso fica no noticiário no máximo durante dois dias, os cidadãos se indignam e já se esquecem no dia seguinte, e nenhum líder faz passeata.
Seria um tipo de hipocrisia, ou no mínimo, uma sensibilidade seletiva?

Eu sou contra o fanatismo religioso, assim como sou contra o imperialismo, as retaliações, a escravização que o ocidente, principalmente os EUA, praticam sobre os países muçulmanos.

O jornal Charlie Hebdo já havia sofrido avisos e ameaças anteriores. Os jornalistas não mereciam a morte, mas poderiam tê-la evitado.

por Miguelito Formador

Indico o excelente artigo de Mino Carta, que entre tantas críticas inteligentíssimas, foca na hipocrisia e na seletividade da indignação mundial, dentro de um jogo político e de interesses danosos à democracia e à evolução do mundo. Clique AQUI

E AQUI vai um artigo de Ricardo Melo, com uma abordagem bem diferente sobre o assunto, com foco no fanatismo religioso e nos danos que as religiões trazem para a história da humanidade.

figura daqui

FRANCE-ATTACKS-CHARLIE-HEBDO-MEDIA-FRONTPAGETodo o planeta acompanhou nessa semana uma massiva manifestação em Paris contra o terrorismo e a favor da liberdade de expressão e imprensa. Foi tão divulgada que é dispensável a colocação de um link.

Pouco quero falar sobre o ato execrável e criminoso dos irmãos, membros da rede Al Qaeda do Iêmen. Saliento somente que nenhuma religião, em sua síntese, prega atos violentos contra quem quer que seja.
O próprio Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos, condena atos de blasfêmia somente cometidos por aqueles que foram “educados” na doutrina, ou seja, os castigos deveriam ser aplicadas apenas à muçulmanos (detalhes de estudiosos do livro aqui). Na prática vê-se que países mais radicais na doutrina, como o Paquistão, prendem e executam (cristãos inclusive) por profanar ou blasfemar contra Alá ou Maomé.

Eu queria focar, primeiramente, na liberdade de expressão e declarar minha “opinião pirata” sobre o assunto: liberdade completa e irrestrita de opinião e imprensa não existe!
Citando exemplos para ilustrar a frase acima…
– Será que a polícia francesa e seus 80 mil homens que buscavam os terroristas agiriam normalmente se manifestantes pró-terroristas fossem às ruas? Ou mesmo se membros dos direitos humanos pedissem clemência para os criminosos?
– O que aconteceria com um jornal satírico nos Estados Unidos após o onze de setembro, caso publicasse tirinhas exaltando Osama Bin Laden ou mostrando a estúpida e exagerada reação americana?
– No Brasil, que não é um dos países mais rígidos em termos de lei, proprietários de blogs na internet podem ser processados por comentários feitos por terceiros. Como alternativa, os comentários devem ser moderados ou cada post deve conter a isenção de responsabilidade, informando que a página não se responsabiliza… (blá, blá) que os comentários não representam a opinião do autor e editores… (blá, blá)
– Pra completar a lista de exemplos, Laerte, um dos maiores cartunistas brasileiros, declarou em entrevista (link)que não existiria um Charlie Hebdo no Brasil, por conta da pressão “bate-assopra” que cobramos uns dos outros aqui.

Isto posto, mesmo com a boa vontade de alguns governos e instituições de tolerar o humor ácido, as provocações e os insultos. Todos os habitantes do mundo não são iguais e é impossível prever a reação de uma pessoa a um ataque ou ofensa. Por exemplo, eu nunca faria charges provocativas contra religiões!
Seguindo essa linha, o ex-presidente francês, Jacques Chirac, criticou uma republicação do jornal Charlie em 2006, dizendo que “tudo o que fere convicções, sobretudo religiosas, de uma pessoa, deve ser evitado”. (a página em Inglês do Wikipedia mostra uma cronologia resumida das matérias polêmicas – aqui)
Mas o jornal, talvez em nome de sua independência (?), talvez apenas por buscar mais fama nas publicações controversas, não se importou com ameaças e processos e segue fazendo a mesma linha polêmica. Para quem quiser ver algumas das mais discutidas capas, segue link aqui (seleção feita com as 16 melhores, em Inglês) e aqui (reunidas pela Folha e UOL)

Voltando à frase “pirata” sobre a ausência de liberdade de opinião no mundo, alguns dos próprios líderes mundiais presentes em Paris na mega-manifestação, têm em seu passado marcas vergonhosas em relação à mídia e imprensa – veja levantamento aqui.
Dentre os hipócritas, estão primeiro-ministros, presidentes e ministros de relações exteriores. A matéria apresenta links para cada uma das acusações feitas.

Finalizando, posso ser cruel, mas não creio que um jornal de 30 a 60 mil exemplares atingiria os 5 milhões desta edição sem o atentado.
E… o que os “novos fãs” não pesam ao buscar o jornal no eBay e cultuar sua “independência” é a linha tênue entre a liberdade de expressão e a crítica ou mesmo preconceito contra a população muçulmana francesa, já estigmatizada.

por Celsão revoltado

figura retirada do portal UOL. Escolhi por ser uma capa inteligente e não apelativa quanto poderia ser.

P.S.: para quem quiser a edição digital, em PDF, no idioma original, segue link.

CriacionismoReproduzo aqui o artigo do Professor Doutor José de Sousa Miguel Lopes, e publicado no blog Navegações nas Fronteiras do Pensamento. Para acessar o artigo original, clique AQUI.

Também não deixem de clicar no link do Youtube indicado no fim do artigo. Trata-se de um vídeo didático e divertido, feito pelo vlogueiro Pirula.


Criacionismo – Modus Operandi

O objetivo da ciência é moldar as nossas crenças à realidade. Não é um processo infalível nem acabado, mas tende a melhorar gradualmente a sintonia entre aquilo que julgamos ser e aquilo que realmente é. Para esse fim, não se pode, por exemplo, abordar a geologia a partir da crença de que a Terra é plana ou a astronomia a partir da crença de que a Lua é feita de queijo. Seja qual for a crença ou problema, não é científico comprometer-se à partida com uma crença, de forma firme e persistente, porque o que se quer com a ciência é explorar as possibilidades e procurar as crenças que melhor correspondam aos dados que se vão acumulando. Para isso exige-se uma atitude cética no sentido de adotar ou rejeitar crenças sempre conforme o peso das evidências e nunca por vontade pessoal. O que é exatamente o contrário da crença religiosa, carente de fé e apregoada como resultando do exercício da vontade livre do crente.

Esta diferença é evidente em várias posições criacionistas. A idade do universo estimada atualmente está muito além do que um cientista criacionista típico aceitaria. Em resposta, muitas cosmologias criacionistas de universo jovem têm sido propostas para discutir a questão da idade. É consensual na cosmologia que o universo tem quase catorze mil milhões de anos. Este valor já foi revisto várias vezes, porque valores anteriores revelaram-se incompatíveis com a informação que se ia obtendo, mas a ciência progride precisamente por encontrar alternativas que se ajustam melhor aos dados. O “cientista” criacionista faz o contrário. Primeiro decide em que hipóteses acredita “a partir da crença de que o universo foi criado por Deus” e depois limita-se a escolher as evidências que forem mais favoráveis a essas crenças.

Noutro exemplo das posições criacionistas, a “criação biológica é basicamente o estudo dos sistemas biológicos, sob a suposição de que Deus criou vida na Terra. A disciplina é estabelecida sob a ideia de que Deus criou um número finito de espécies”. Quando se usa a ciência para estudar algo não se pode estabelecer disciplinas “sob ideias” pré-concebidas nem fixar qualquer suposição. Afinal, o objetivo é perceber o que se passa e não cultivar preconceitos. Por isso, o tal “criacionismo científico” não é ciência, mas apenas uma de muitas trapaças que abusam da ciência para fazer parecer que a sua doutrina tem fundamento.

Se bem que muitos crentes concordem com este juízo acerca do criacionismo, porque rejeitam a interpretação literal dos escritos religiosos, normalmente recusam-se a reconhecer que este conflito entre religião e ciência não depende dessa interpretação literal nem é evitável enquanto a religião professar a fé em alegações acerca da realidade. Quer leiam a Bíblia à letra, quer a leiam como metáfora, a fé firme na “crença de que o universo foi criado por Deus” torna-os todos criacionistas e põe-nos todos em contradição com a ciência. Nem é só pelos indícios, cada vez mais fortes, de que o universo não foi criado com inteligência nem há ninguém encarregue disto tudo que se preocupe minimamente com o que nos acontece ou com o que fazemos. É, principalmente, porque a ciência exige que se tratem todas as crenças como equivalentes à partida e se faça distinção entre elas apenas pelo que objetivamente revelam corresponder à realidade. Isto é incompatível com qualquer fé, dogmatismo ou crença pré-concebida da qual não se queira abdicar.

Como vimos, estas são algumas tentativas,  entre muitas outras, de dar ao criacionismo a aparência de ser científico. Para aprofundar um pouco mais a problemática do criacionismo veja a forma didática como ele é apresentado, clicando no vídeo aqui

Leia o texto “Por que é quase certo que deus não existe” de Richard Dawkins clicando aqui


por Miguelito Formador

Leonardo_BoffUm dos mais conhecidos teólogos do Brasil, Leonardo Boff é um nome atualmente aclamado em todo o mundo. Aos 75 anos, Boff é um intelectual, escritor e professor premiado e respeitado no país, cuja opinião é ouvida por personalidades com o Papa Francisco e os presidentes Lula da Silva e Dilma Rousseff.

Já o acompanho e leio suas ideias há um bom tempo. Dificilmente tenho algo a criticar sobre o que ele diz, normalmente é impecável aos meus olhos. Pensador que possui muita sanidade, honestidade intelectual, sabedoria, bondade, vasto conhecimento, e muito, mas muito senso de justiça.

Nesta entrevista, porém, Boff se supera. Ele consegue, em poucas linhas, tratar laconicamente, mas nem por isso sem eficiência e/ou sem didática, de diversas questões que parecem, aos olhos de muitos, não estarem conectadas, mas na verdade muitas delas se encontram e se influenciam, direta- ou indiretamente, muitas vezes num jogo de “causa e efeito”.

Entre os assuntos tratados por ele estão: pobreza e riqueza, ética social, sistema capitalista selvagem baseado na especulação financeira, política no Brasil, PT e Dilma, candidatos e partidos de oposição, avanços sociais obtidos nos últimos anos e o que ainda falta para o povo. Fala ainda da igreja católica e cristã, passando por Jesus Cristo e chegando ao momento atual da Igreja Católica com o Papa Francisco. Fala do protestantismo e Lutero, critica os religiosos que fazem da religião um grande “negócio”, usando o evangelho para justificar ideias retrógradas, tirar dinheiro dos fiéis e manipular mentes. Tece comentários sobre a situação no Oriente Médio (Israel & Palestina), aborto, violência, crise econômica e social na Zona do Euro, América Latina como esperança para o futuro, e sobre a crise ecológica e econômica mundial.

Sobre essas últimas duas, Boff diz estarem profundamente conectadas, estando o capitalismo fundado na exploração dos povos e da natureza. Ele fala: “Esse sistema não é bom para a humanidade, não é bom para a ecologia e pode levar eventualmente a uma crise ecológica social com consequências inimagináveis, em que milhões de pessoas poderão morrer por falta de acesso à água e à alimentação”.

Para ler a entrevista, clique AQUI.

por Miguelito Filosófico

* figura retirada do perfil de facebook de Leonardo Boff

Caros leitores, gostaria de lhes desejar um 2014 muito produtivo na esfera intelectual. Desejo a todos vocês um despertar ainda mais aguçado do senso crítico, do poder de reflexão, da racionalidade em combinação com a sensibilidade, e que isso tudo gere o desenvolvimento de uma sabedoria cada vez mais concreta, pois afinal, a sabedoria traz todo o resto, inclusive saúde, paz, amor, equilíbrio, uma vez que todos estes são consequência, em muito, de nossos atos e comportamentos.

Para iniciar esse ano sacudindo a poeira, trago um documentário e uma entrevista, que se assistidos por completo e com bastante atenção têm o potencial de quebrar diversos paradigmas de nossa cultura e desmanchar crenças e preconceitos, que foram cravados em nossas almas através de nossa criação e educação.
Quase tudo o que somos é um reflexo de nosso meio, de nossa sociedade e da cultura da mesma. Poucos são aqueles que questionam seus próprios atos, crenças e costumes, pois afinal, não fomos educados para questionarmos, pois questionar é ruim para o Status Quo, e o Status Quo é bom para aqueles que detêm todo o Poder do mundo em suas mãos.
Agimos repetindo nossos pais, nossa família, nossos amigos, nossa televisão, nosso meio. E quase nunca paramos para nos perguntar: “Por que eu penso e ajo desta maneira? De onde veio este meu costume? É certo fazer isso que faço? Será que aquilo no qual acredito, é uma verdade absoluta, ou pode ser uma mentira ou uma bobagem que me foi ensinada como verdade?”

1) A primeira indicação deste blog é o documentário Zeitgeist. Este é composto por 3 filmes, mas aqui venho indicar, inicialmente, somente o primeiro. Obviamente, os outros 2 são altamente recomendáveis, mas não serão tratados neste post. (Para assistir, clique AQUI ou na figura abaixo)

Zeitgeist

Zeitgeist

Zeitgeist filme 1 é composto por blocos:

  • No Bloco 1 é abordado o fenômeno da religião. O foco é a igreja cristã, mais especificamente, a católica. Mostra-se com um resgate bibliográfico fantástico, como a maioria das religiões têm infinitas semelhanças metafóricas, e que todas essas semelhanças têm uma explicação astrológica bem definida. Resumindo, prova-se com dezenas de exemplos que, o cristianismo, em boa parte de sua essência, não passa de uma cópia de religiões “pagãs” antes de Cristo.
  • No Bloco 2 é abordado o atentado do World Trade Center. Fazendo um apanhado de depoimentos de quem estava dentro dos edifícios e sobreviveu, e realizando um estudo técnico combinado com muito bom senso e lógica trivial, busca-se mostrar que este atentado, obrigatoriamente, foi articulado deliberadamente por pessoas ligadas à CIA e ao exército norte-americano. Ainda mostram como atentados contra a própria nação são uma estratégia utilizada há muitas décadas pelos EUA, como forma de comover a população, buscando gerar um sentimento de patriotismo e com ele o apoio a empreitadas militares fora de seu território.
  • No Bloco 3 é feito um resgate histórico sobre os bancos e o Sistema Financeiro, até chegar os dias atuais. Com uma análise bem técnica, apontando diversos exemplos e dando “nome aos bois” o documentário visa, neste ponto, mostrar que o mundo é refém do Sistema Financeiro. Os poderosos fazem-nos crer que os políticos são responsáveis pelas atrocidades do mundo. Mas a verdade é que todos são vítimas e reféns dos grandes bancos do mundo, desde um cidadão normal até os próprios políticos. Enquanto o Sistema Financeiro continuar sendo o carro condutor, as sociedades não conseguirão prosperar de forma justa e digna.
  • No Bloco Final mostra-se a conexão entre o Sistema Financeiro, as Religiões e os Governos como um complexo bloco detentor do Poder e de quase todo o dinheiro do mundo. E, para conseguirem manter os cidadãos alienados, sem protestarem por mais direitos e mais justiça, utilizam-se da mídia para gerar medo, jogar uns contra os outros, e mantê-los entretidos com todo o tipo de futilidade. Ou seja, a Mídia é o meio utilizado pela alta elite (leia-se religiões, bancos, multinacionais e governos) para controlar toda a população mundial.
    E por fim concluem com uma teoria de controle total do mundo por parte dos poderosos. Teoria essa que se mostra a cada dia mais verdadeira, se observarmos bem ao nosso redor.

2) Entrevista no Roda Viva de 1996 com o intelectual americano Noam Chomsky. (Para assistir, clique AQUI ou na figura abaixo)

Noam_Chomsky

Noam Chomsky

Noam é um acadêmico linguista, mas atua em diversas áreas, como filosofia, política, sociologia, antropologia, entre outras. Durante a Guerra do Vietnã, Noam se destacou por suas críticas ao imperialismo americano.
Integrando o hall dos intelectuais mais respeitados do mundo, Noam explana no programa Roda Viva suas ideias e críticas ao sistema capitalista vigente, ao imperialismo americano/europeu, ao descaso para com aqueles marginalizados pelo sistema, e aponta aqueles que para ele são os responsáveis pelas grandes barbaridades, as guerras, desigualdades e injustiças existentes no mundo:  as empresas transnacionais, os grandes bancos, a mídia e a indústria armamentista.
Ele faz também críticas aos sistemas ditos “socialistas” que passaram pelo mundo, como o da União Soviética e China, além de falar do Marxismo.

Como grande intelectual e possuindo um discurso muito didático, num tom humilde e puro, Noam propõe também algumas soluções para o caminhar da humanidade.
Essa entrevista é imperdível, assim como o é toda a obra de Noam Chomsky.

Esses dois “vídeos” têm o potencial de abrir muito os nossos olhos para a podridão que rege nosso Planeta. Espero que essas verdades toquem cada um de vocês e que juntos possamos fazer nossa parte para mudar os rumos do mundo e das sociedades. Este é meu desejo para 2014 em diante.

por Miguelito Formador